Continuação do diálogo de Marcelo
♦ Erik Ludwig ♦
Os Kozlovs são muitos, fracionados e espalhados por todo canto; são traidores que se afeiçoaram aos Strauss. E eu vou acender o pavio que fará detonar os barris de pólvora do crime organizado a níveis transatlânticos...
Se a porta estivesse trancada eu a teria arrombado tamanha a força com a qual a empurro.
A cabeça calva de John desponta do assento em frente à mesa e ele se vira com o susto, Marcelo se interrompe no meio da frase.— estaremos prontos daqui a oito semanas quando o navio atracar no meio do ano... — Olha para cima, para mim. — Mas que merda é essa, Ludwig?
— Eu entendo que você seja doente a ponto de tentar estuprar uma garota, mas deixe as pessoas fora disso. O que há de errado com você, porra?
O advogado encara seu chefe com confusão, ele não sabe.
— John, pode ir. — E com um aceno resignado, o homem se levanta e bate a porta assim que a atravessa. — Eu não estuprei ninguém, Erik. Se estava na porta como eu mandei, deve ter ouvido o quanto ela gostou.
— Seu pervertido de merda… — Cuspo as palavras com desgosto, ele apenas sorri.
— Isso me deixa um pouco excitado também. — Um ácido sobe meu estômago ao ouvir isso.
— Não banque o comedor, ela me contou que você broxou. — Marcelo trinca o maxilar. Está com ódio, eu também ficaria no lugar dele. — Já que não consegue pegá-la a força, vai passar o resto da vida espancando seus funcionários?
Ele se ergue da cadeira e fica cara a cara comigo.
— Não venha me dizer o que consigo ou não consigo fazer — diz, quase entre dentes, a proximidade ameaçadora não me assusta, não me movo. — Você sabe bem que funciona.
— Eu odeio você. — As palavras saem fáceis, sem emoção.
— Ela também, e em breve vai sentir tanto prazer que vai ouvir gritar meu nome. Agora saia, descanse, seja lá o que for… — Marcelo se afasta voltando à sua cadeira. — Semana que vem vou te mostrar porque está aqui.
***
Eu já estou há dez minutos em meu quarto na casa dos empregados, aos fundos da propriedade, quase sem conseguir respirar.
Sentado na cama, com o coração acelerado, eu encaro minhas mãos tremendo sem controle.
Caesar e Marcelo agora tinham a mesma voz, os mesmos olhos e o mesmo cheiro. Aperto os olhos, tentando me controlar, mas estou suando frio.
Outra crise. Acalme-se… Controle. Eu repito a mim mesmo por vários minutos. Sobreviva, ela precisa de você!
O telefone vibra no meu bolso e atendo imediatamente para desanuviar a cabeça.
— Luke, você entrou em contato com ele?
— Sim, como pediu. Ele ficou surpreso, está te esperando na sede.
— Obrigado. — Silêncio. — Tem certeza de que quer fazer isso?
— Não tenho nada para fazer amanhã.
A única resposta de um soldado.***
— Você quer morrer? — indaga o homem do outro lado da mesa com os olhos arregalados e um charuto grosso entre os dedos.
Há três guarda-costas na sala, ao meu lado só tenho Luke. Esses homens não sabem quem sou.
Não é para menos, eu saí ainda muito novo daqui. Agora sou um homem, nem eu esperava voltar nesse lugar, mas a circunstância não me deixa outra escolha.
— Se for preciso… — digo com um balançar de cabeça.
— Vejo que você cresceu e muito. — O homem dá mais uma tragada. — Mas continua doido.
— Ossos do ofício.
— Ah, Erik… Se eu tivesse tido essa ideia antes de Marcelo, você estaria aqui ganhando montanhas de grana, garoto.
— Há quanto tempo, Frank… Quase não te reconheci sem cabelo, como tem passado?
— Tempo suficiente pra perder, mas não o bastante para ouvir esse absurdo de proposta. — Uma risada rouca e cancerosa sai dele.
Ele me olha. Mesmo odiando essa situação e ter jurado para mim mesmo nunca mais voltar aqui, terei de me associar a mais um inimigo para conseguir o que quero – o que não deveria ser novidade para mim.
Preciso recorrer a ele mesmo contra minha vontade. Caso contrário, Valentina e todos em volta sofrerão as consequências do meu egoísmo.
Eu sou homem e posso lidar com a situação, mas ela é só uma menina indefesa e eu vou protegê-la. Respiro fundo e então digo:
— Preciso da sua ajuda, e em troca, posso te dar informações muito valiosas. — Engulo o meu orgulho e olho nos olhos dele. Vejo a surpresa estampada em seu semblante.
— Diga o que precisa e eu digo se posso ajudar.— Tão solícito…
— Não abuse da sorte, há anos venho esperando uma oportunidade de recuperar você.
— E a resposta sempre será “não”.
— Exceto agora…
— Quero que me ajude a “sumir” com alguém. — Cruzo as pernas me afundando na cadeira.
— Você sabe fazer isso sozinho, se me lembro bem.
— Agora é diferente — falo, olhando-o. — Porque certamente ele vai envolver o clã dele todo quando se der conta.
— Envolver o clã “dele”? Então nesse tempo que esteve fora você esteve em conflito com alguma das famílias? — Vejo no tom da voz do velhote que, mesmo afastado há anos e sem manter contato, ele parece se preocupar com minhas brigas.
— Ainda não, mas em breve estarei muito, e quero ter as pessoas certas comigo. — Com um gesto de mão, Frank me pede para continuar. — Eu preciso resgatar uma pessoa das mãos de Marcelo Clark.
— Marcelo Clark? — Ele solta uma risada muito sonora. — Imaginei que fosse um dos grandes, mas não um tão grande.
— É… Imaginei.
— Eu sei da fama dele. Um babaca pedófilo igual ao pai. — Ouvi-lo falar isso faz as lembranças de minha juventude voltarem, e também penso em Valentina. Minha fúria cresce novamente.
— Exatamente, eu prefiro me aliar a certos tipos de pessoa do que outros.
— Assim você me ofende… — diz Frank com humor. — Isso é suicídio. Ouvi dizer que Clark está reunindo homens de todos os cantos, planejando algo grande, só não sei contra quem. Algo me diz que você deve saber, já que está unha e carne com ele agora.
— Essa parte vem depois de aceitar a proposta, mas não posso garantir que ele não virá atrás de você.
♣️♥️♠️♦️Contínua no próximo capítulo. ♣️♥️♠️♦️
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Sem Escolha
Romance"Aos dezessete anos, Valentina nunca imaginou que a roleta do destino giraria de forma tão cruel contra sua vida. Quando o próprio pai a oferece como pagamento de uma aposta perdida, Marcelo Clark, um sanguinário mafioso, bate à sua porta para busca...