♦️ ERIK LUDWIG ♦️
Minha cabeça não para há dias, fico preocupado toda vez que vejo Valentina com Marcelo. Ela tem passado as semanas ocupada com encontros com o arquiteto e outros profissionais, não sei o que ela tá aprontando. Isso me preocupa, está mantendo distância de mim. Quando está com o cretino, me esnoba, e isso parece massagear seu ego.
Está fazendo seu dever de casa... Estou no meu quarto e pela primeira vez Valentina aciona a caneta. Ouço a voz de Marcelo mandando ela sair do escritório. Menina esperta! Deixou a caneta ligada.
— Tudo certo? — Marcelo perguntou. — Sim. – Reconheço a voz de John. — E a outra informação? Conseguiu?
John demora um pouco para responder:
— Mikhail está tranquilo, mas é certo que vai estar no porto na noite da entrega para receber em mãos, por assim dizer.
— Já descobriu quem vai trazer para ele? — Siggy Strauss. — O quê? — O tom de Marcelo mostra diversão entre o choque e a euforia. — O principezinho alemão?
— Ele mesmo, mas não é a parte melhor — diz John. — Frank Azzarello também foi convidado para a "cerimônia" . Entrar vai ser mais fácil do que imaginamos.
— Só precisamos ter certeza de que ele vai atirar nas pessoas certas.
— É o que me preocupa. Ele quem me deu a informação. Sem necessidade, mostrou onde ficam suas instalações. Se expôs como uma puta a nós, ele sabe que um tiro errado vai custar muito caro e Kozlov não parece realmente interessado em adotar um cãozinho — explicou.
— Não vamos nos esquecer de que estamos falando com um covarde. Ele tenderá para o lado mais forte. Eles dão uma pausa, escuto suas respirações, e então John volta a falar:
— Ainda acho que é estranho demais ele ter se voltado contra uma aliança tão lucrativa com a Strauss.
— Ele é um covarde ambicioso, nós demos uma breve ilusão a ele de que não vai ser a cachorra de organizações maiores. Ele lucra, nós lucramos, Mikhail morre e depois é uma questão de tempo para darmos seguimento. Com Sigmund Strauss presente a coisa fica ainda melhor.
— Marcelo, matar o filho de Declan Strauss será uma declaração formal de guerra... Isso pode acabar tendo o efeito contrário ao que desejamos. Se Siggy morrer, a corja alemã inteira vai atravessar o Atlântico atrás de você e acompanhada do resto da corja russa.
— É exatamente isso que eu quero.
— Tem alguma coisa que não está me contando, Marcelo?
— Já leu A Arte da Guerra? — indago displicente.
— O melhor campo de batalha é o que você conhece.
— E a excelência suprema consiste em vencer o inimigo sem ser preciso lutar. — parafraseou em resposta.
— Eu não quero excelência suprema, John. Eu quero lavar minha porta com o sangue deles. Por falar nisso, a logística vai funcionar como planejado?
— O carregamento vai chegar no Bunker do Bronx. É território do Azzarello, peixe pequeno. Não teremos problemas para atravessar tudo pelo East River e atacar os russos pelo norte do Queens.
Ela conseguiu uma informação muito importante! Boa garota.
Eu estou sentado do lado de fora da casa dos empregados quando Marcelo se aproxima, bem como a noite fria. Acende um cigarro de maconha sem perguntar e começa a tragá-lo, mas não tenho energia suficiente para me incomodar com isso, nem mesmo quero reagir à sua presença. Então ele apenas se senta ao meu lado com aquele maldito terno de grife alinhado.
— O que você quer? — pergunto sem paciência. — Sua companhia, apenas. Clark então me oferece o cigarro. O último que fumei foi na faculdade e também com ele, numa espécie de festinha na casa de uma colega que terminou a noite lhe fazendo um boquete.
Eu estava tão chapado que nem me dei conta da merda que fizemos naquela noite. A juventude era sinônimo de burrice na maioria das vezes. Fomentando minha desgraça, acabo aceitando o cigarro e dou uma tragada profunda, me surpreendo por não recusar o gosto da marijuana. Logo, eu me sentiria leve o suficiente para dormir como um bebê depois de duas semanas sem uma noite de sono decente.
— Vai sair? — pergunto mesmo sabendo que não é da minha conta.
— Vou levar Valentina para jantar.
— Hum... — falo dando mais uma tragada funda no baseado antes de devolver a ele. — Ela vai gostar de sair.
Por um brevíssimo momento quase acreditei que não éramos homens. Apenas dois garotos dividindo um cigarro na frente de casa, conversando sobre os planos com uma garota bonita, como nos velhos tempos em que podíamos esquecer as responsabilidades e ser apenas garotos. Fingir que nossa juventude não foi roubada por homens cruéis e Kalashnikovs. E então ele destruiu tudo, como sempre.
— Vou tirar a virgindade dela hoje. Preciso fazer isso logo. — Meu Deus, Marcelo... Ela é só uma criança.
— Não vamos entrar nesse dilema agora.
— Então por que está me contando? Marcelo deu mais uma tragada, prendendo a fumaça antes de soltá-la para o céu noturno.
— Não sei... — O olhar dele se perdeu nas janelas da casa.
Percebo que também não tinha a menor ideia do que ele estava pensando. Não era mais o mesmo rapaz que eu conheci desde sempre, e eu tinha de me convencer disso. Não esperou nem muito tempo e se levantou, descartando a bituca no escuro voltando a ser Marcelo Clark.
— Arrume-se, vai fazer a escolta até o centro.
— Você ainda não me contou qual o meu propósito aqui. — Amanhã, quando tudo estiver feito, eu conto a você tudo o que precisa saber.
♣️♥️♠️♦️ Continua no próximo capítulo. ♣️♥️♠️♦️
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Sem Escolha
Romance"Aos dezessete anos, Valentina nunca imaginou que a roleta do destino giraria de forma tão cruel contra sua vida. Quando o próprio pai a oferece como pagamento de uma aposta perdida, Marcelo Clark, um sanguinário mafioso, bate à sua porta para busca...