FAZENDO-ME DISPONÍVEL PARA AJUDÁ-LA.

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♦ Erik Ludwig ♦

Há vários minutos estou sentado na cama, desde que Valentina deixou o quarto. Ela estava certa em dizer que nunca amaria o homem que a entregou, mas por algum motivo, suas palavras me atingiram.

Por culpa de Marcelo estamos presos neste lugar e a garota teria sido violada se não tivesse brochado. Pior ainda era ela não ter experiência prática ou teórica nenhuma!
Clark tem alguma ideia do quanto a primeira vez muda uma Mulher?
Eu havia mentido quando disse que não me lembrava da minha vez. Não foi nada especial, tão pouco planejado.

Foi apenas uma foda casual sem compromisso. Mas ambos sabíamos o que estávamos fazendo, e queríamos.

O mínimo que eu podia fazer por Valentina era expressar um pouco de apoio, tentar me fazer disponível para ajudá-la. Eu devia isso à garota.

Tomo caminho para o corredor, desço a escadaria e a procuro na biblioteca, sem sinal dela.
Subo de volta pensando que talvez tenha ido para o quarto, mas ao passar pelas portas do escritório, percebo uma fresta deixando a luz escapar.

Empurro-as devagar com a mão pousada sobre o cabo da arma, mas relaxo ao encontrar a silhueta esguia de Valentina do outro lado.

Seus cabelos platinados contrastam com o acolchoado de couro preto no qual se encosta.
Ela está esparramada na cadeira grande, a mão está repousada sobre a testa, parece estar submersa em seus pensamentos e só ergue o foco para mim quando já estou em frente à mesa.
Sinto algo apertar meus interiores ao ter a impressão de que Valentina aparenta ser mais poderosa naquela cadeira do que o próprio Marcelo.

— Você e ele se conhecem desde crianças. — Diz, está muito séria. Joga um pedaço de papel sobre a mesa e me aproximo para examiná-lo.

Sou transportado para o dia em que aquela foto foi tirada, tínhamos aprendido a lavar o Rolls Royce com meu...

Eu e Marcelo estamos molhados como dois patos na chuva, mas sorridentes e orgulhosos do nosso trabalho. Foi um ótimo dia, ganhamos sorvetes e beijos das mães.

— Vocês me emboscaram — acusou e ergui os olhos.

— Não, ele me emboscou — falei. — É verdade, eu e Marcelo nos conhecemos desde sempre, temos uma história. Por que você acha que decidi ajudá-lo? Por que acha que eu acreditei nele quando disse que você era filha dele? Por que eu sou um bom samaritano? — Paro de falar colocando as mãos sobre a mesa. — Estou tão preso aqui quanto você.

Os olhos azuis brilhantes estão focados em mim, molhados como poços cristalinos. São lindos e expressivos, e tão magoados quanto eu.

— Ele quer que eu tenha um filho.

— E quer que eu mate os filhos de alguém — rebato.

"No xadrez, os peões vão na frente" — diz Valentina. — Ele não vai deixar você cuidando de mim por muito tempo, vai querer que participe do que ele está planejando.

— Sabe alguma coisa sobre isso?

— Não, mas esses papéis me dizem que não é bom. Há somas altíssimas de dinheiro aqui, palavras como "remessas", logística e segurança... — diz olhando-os. — Acha que ele quer fazer mal a alguém? De verdade?

— Tenho motivos para achar que sim, Marcelo ainda não me disse nada sobre o que quer ou o que planeja.

— Você vai se machucar... — Valentina conclui com os olhos baixos.

— Parece preocupada com isso — falo com um sorriso.

— Não quero Dave na minha cola, só isso.

— Claro... — respondo com um tom mais leve de descrença fingida e Valentina se permite sorrir.
Ela sai da cadeira como se tivesse ficado também incomodada, e dá a volta na mesa, encostando os quadris dela ao meu lado, mas virada para a direção oposta.

— Estamos fodidos — constata com o olhar longe e concordo com a cabeça, olhando-a de soslaio.

Fiquei constrangido com algumas perguntas, com a sinceridade dela em mostrar que não fazia ideia do que tinha acontecido.

Na minha mente não poderia haver uma mulher tão alheia ao sexo mesmo nessa idade e ter de fazer um papel que a mãe dela deveria ter feito, me deixou um pouco desconcertado.
Valentina é linda, sua boca parece uma fruta apetitosa, suas formas são esguias e elegantes, qualquer homem em sã consciência iria desejá-la.

— A coisa que eu estava pensando quando fiz aquele som — começa ela, seu rosto está corando e seus lábios se apertam. — Eu tive um sonho com um homem. As coisas estavam bem, eu estava em Berna de novo, livre. Cheguei numa casa que era minha e ele estava sendo tão carinhoso... Foi um beijo bom.

♣️♥️♠️♦️ Contínua no próximo capítulo ♣️♥️♠️♦️

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