♦ Erik Ludwig ♦
Respondo. Enquanto observo o carro atrás do nosso fazer a conversão, e seguir para o lado oposto.
Desde que cheguei, Dave está tentando se mostrar mais familiarizado e mais eficiente com o serviço do que eu.
Está competindo com ele mesmo, mal sabe que esse é o último lugar da Terra em que quero estar agora, correndo atrás de Marcelo como um cachorro. Porém, me sinto responsável pela situação da garota.
Chegamos a uma propriedade. É um pouco menor do que a mansão de New York, mas com um campo semelhante em frente.
É uma bela casa, tão grande quanto a um palacete, sem rosas, apenas árvores cobertas de neve onde as folhas não caíram, vejo o escarlate das paredes externas destacados contra o branco.
Assim que parei em frente às portas, no contorno da entrada, uma mulher de meia-idade com um agasalho volumoso vem nos receber com um semblante gentil.É morena e deve ter no máximo quarenta anos.
— Senhor Ludwig? — Pergunta ela depois que saio do carro, contornando-o para abrir a porta para Valentina.
Aperto a mão que me estende e confirmo com um gesto de cabeça. Ela está um pouco vermelha, e olha diretamente em meus olhos.
— Sou Helga, governanta da casa. O senhor Clark me avisou de sua chegada em cima da hora, então receio que os quartos não estejam todos preparados.
— Tudo bem, desde que o dela esteja. Ela não comeu ainda.
— Isso pode ser arranjado em alguns minutos.
Percebo o olhar da garota queimar minha nuca exposta ao frio. Posso entender sua raiva tanto quanto a minha.
Me sinto impotente para lidar com ela. Valentina sai do carro, sua respiração faz uma nuvem de vapor.
Ela aperta os braços tentando se esquentar. Me apresso em tirar meu casaco pesado e o pouso sobre seus ombros, noto que ela se afasta um pouco com o gesto, como se esperasse que eu vá machucá-la ao invés de protegê-la. Seu olhar ainda é de pura raiva.
— É um prazer conhecê-la, senhora Clark. — Helga cumprimenta com um polido aperto de mão, mas com estranheza pela idade da garota.
— Becker. Não sou mulher dele. — Valentina não a cumprimenta de volta e ela retira a mão.
— Ah, eu... Desculpe — diz a mulher sem graça, parece aliviada. — Por favor, entrem. Está um gelo aqui fora.
A casa por dentro ainda está um pouco fria. O capacho deixa a neve na porta de entrada e a maioria dos móveis ainda está coberta por lençóis. Há algumas pessoas retirando-os e outras limpando as superfícies com eficiência. Por um momento, espero ficar aqui por algum tempo antes de precisar voltar.
Sei que Valentina deve estar querendo isso mais que eu.
— Vou mostrar onde ficarão — informou a mulher, e enquanto a garota a segue enrolada em meu casaco, fico no mesmo lugar. — O senhor também, Sr. Ludwig.
Sigo atrás das duas para o andar de cima, pegando a escada rente à parede, curvando num segundo lance, as luzes iluminam alaranjadas as paredes antigas e bem preservadas, cobertas de quadros e ladeadas por estátuas.
Helga me pede para esperar ao topo da escada quando chegamos a um enorme corredor, enquanto leva Valentina para portas duplas de madeira escura e lustrosa, provavelmente o quarto principal.
Ao me ver sozinho, solto a respiração sentindo-me cansado.
Não tenho tempo para pensar, pois Helga sai do quarto fechando as portas e com um sorriso se aproxima de mim. Seus olhos castanhos ainda me esquadrinham todo o rosto, embora seja bem mais baixa que eu, e pede para que a siga pelo caminho oposto ao que levou Valentina.
Definitivamente é um quarto grande demais para mim. Cama ampla, sofás bonitos, vista das árvores lá fora e uma sacada.
— O banheiro fica naquela porta ao lado. Se precisar de alguma coisa, há um sino na mesinha de cabeceira —Informou. — É só tocar que eu venho imediatamente.
— Obrigado — digo puxando o velcro do colete, atraindo o foco dela.
— Vou estar lá embaixo...
Antes que ela possa sair, decido começar a fazer alguma coisa para entender a situação ao invés de simplesmente aceitá-la. Longe dos olhos de Marcelo, talvez eu possa ter um pouco mais de informação.
Por isso a chamo, e ela se gira nos calcanhares com a mão na maçaneta.
— Há quanto tempo trabalha para o Marcelo, Helga?
— Quatro anos, meu primeiro ano passei em treinamento na casa principal.
— Isso já aconteceu antes? — pergunto, claramente falando sobre Valentina.
— Não sei o que quer dizer.
Sabe sim, Helga. Se ela decidir proteger Marcelo, eu estarei enrolado. Questão de tempo até esse pequeno interrogatório chegar aos ouvidos dele.
Ergo uma sobrancelha e resolvo, pela primeira vez em anos, confiar no meu poder de atração levando as mãos aos botões da camisa grossa de flanela escura.
— Você percebeu a idade da garota e mesmo assim a chamou de "senhora Clark", quero saber com que frequência isso já aconteceu.
— Eu me enganar? Nunca — responde com um sorrisinho, tentando focar no meu rosto ao invés das minhas mãos. Apenas uma mudança de expressão ao afastar os lados da camisa e exibir um pouco de pele a fez trocar o peso do corpo para o outro pé antes de continuar. — O Sr. Clark é um pouco excêntrico, mas nunca vi nada estranho. Por que a pergunta?
— Quero conhecer melhor o homem para quem estou trabalhando.
— Pensei que fossem amigos — ressalta fazendo um sinal para o quarto.
— Fomos há muito tempo, mas as pessoas mudam.
Helga sorri de novo, sem graça quando me aproximo.
— Não consigo ver o senhor Clark diferente do que já conheço.
Coloco a mão na porta, indicando claramente que a conversa está prestes a terminar.
— Teria gostado ainda mais de defendê-lo.
Helga percebe a deixa, e com uma coçadinha na cabeça se despede e me deixa fechar a porta.
Se eu quisesse saber mais precisaria de outros meios, e estou longe de querer recorrer a eles agora.♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo ♣ ♥ ♠ ♦
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Sem Escolha
Romance"Aos dezessete anos, Valentina nunca imaginou que a roleta do destino giraria de forma tão cruel contra sua vida. Quando o próprio pai a oferece como pagamento de uma aposta perdida, Marcelo Clark, um sanguinário mafioso, bate à sua porta para busca...