A negação de aceitar seu destino parte ll.

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♥ Valentina Becker ♥

O loiro não me responde nos primeiros segundos e isso me faz perder ainda mais a compostura, desta vez, fechando o punho, me preparo para socar seu rosto.

— Responda, desgraçado!

Ele para meu soco em pleno ar, vira meu pulso com facilidade até a base da minha coluna, enquanto o outro braço dele se enrolava em meu busto como um abraço de uma serpente forte. Meu corpo todo se cola ao dele e luto para me soltar, sem sucesso.

— Vocês dois podem se entender mais tarde. Vão se dar muito bem... — Diz o homem com a rosa na mão.

— Eu odeio você! Onde eu estou?

— Eu já disse que está em casa.

— Seu merda, se você acha que eu vou simplesmente ficar aqui parada está muito enganado! — cuspo as palavras. — Toda oportunidade que eu tiver, toda brecha que encontrar, eu vou aproveitar! Você nunca vai me ter! Nunca vai me impedir de voltar para minha família!

Marcelo se aproxima até ficar a centímetros de mim. O loiro alto continua me imobilizando. Desvio o rosto do carinho que as pétalas de rosa fazem em meu rosto e pescoço, um arrepio percorre meu corpo com o gesto.

— Como pretende atravessar o Atlântico? À nado? — Pergunta. — Acho melhor começar a esquecer sua Suíça, sua Alemanha... Bem-vinda aos Estados Unidos, Valentina.

Arregalo meus olhos. Não pode ser! Um oceano inteiro entre mamãe e eu, minha vida... Tudo!

— O que? Não...

Ele fez um sinal para o brutamontes e ele me arrastou de volta ao quarto, abraçando meu ombro. Meus pés quase não tocavam o chão.

— Você precisa tomar um banho, você está toda molhada, pode pegar um resfriado. — Diz Marcelo. — Erik, fez um bom trabalho.

Vou assumir daqui com a nossa querida Valentina para que não haja... imprevistos. Dispensado.
O loiro me larga finalmente, e movo um pouco meu braço, procurando dores enquanto ele deixa o quarto. Ele me agarrou com tanta habilidade que nem me machucou. Parece ser um profissional. Se Marcelo tiver colocado um cão de guarda treinado pra ficar perto de mim, a tarefa de fugir será ainda mais complicada.

Ficar sozinha com Clark me deixa tensa, travada. Ele percebe isso e sorri.

— Seu cabelo cresceu nesse tempo que não te vi, ele estava mais curto quando nos conhecemos.

Não respondo, não sei o que dizer além de insultos.

— Ele é lindo, mesmo desajeitado. E ficou bem nessa cor. Se quiser retornar ao natural, posso providenciar isso.

— Não quero nada de você.

— Você precisa tomar um banho, espero terminar para podermos conversar. — Apontou para portas duplas abertas na lateral do cômodo. Seja lá qual for essa conversa, eu não tinha interesse algum.

Ele me olha com atenção, parece checar cada detalhe do meu corpo, cada canto.
Seu olhar minucioso me assusta, ele me entrega uma muda de roupas claras. Um pijama, o tecido é rosa e com um toque de pelúcia, imitando pelo de ovelha. Pego sem querer encostar nele.

— Vou deixar você ter seu momento de privacidade, mas eu volto logo.

— Claro que volta.

Entro no banheiro e ouço Marcelo fechar as portas atrás de mim. O som do trinco denuncia que estou trancada. Começo a me despir, minhas roupas estão ensopadas. Abro o chuveiro para tomar um banho e coloco a banheira pra encher, enquanto lavo meu cabelo.

Depois do banho, entro na banheira e viajo em pensamentos, acho que perdi a noção do tempo.
Saio da banheira, me troco e escovo o cabelo antes de secá-lo com o secador. Parece menos elástico depois de passar os cremes à disposição.

Quando saio do banheiro, a porta abre sem esforço e outro susto. Marcelo já está sentado na ponta da cama de braços cruzados.

Parece que ele também tomou banho. Usa uma calça de moletom azul e uma blusa preta.
Se ele não fosse um psicopata sequestrador poderia achá-lo atraente, mas só consigo sentir raiva de tudo nele.

— Você quer me matar do coração?

— Odeio esperar, venha aqui, precisamos conversar. E pelo amor de Deus, colabora, estou sem cabeça para pirraças.

Ele bate no colchão ao seu lado pra eu me sentar, passo por ele e sento na poltrona que está um pouco à sua frente. Ele me olha e então inicia a conversa:

— Bom, para começar, você sabe bem como as coisas serão daqui para frente, não? Você é quase legalmente minha agora, graças ao seu pai, e não importa o quão injusto pareça, ainda é um fato, Valentina, você tem que aceitar isso.

— E quem disse que preciso aceitar? Entenda, eu não vou ficar aqui com você.

— Você não tem chance alguma contra mim, então sugiro que trabalhe sua aceitação desde já, pois tenho planos para você.

Tudo em mim quer negar a realidade, mas o resto ao redor insiste em me lembrar da verdade. O loiro, o oceano, e esse homem à minha frente... Ao ouvi-lo, as lágrimas começam a rolar pelo meu rosto.

Será esse o meu fim? Toda uma vida de planos, de uma rotina confortável... Nunca pensei num futuro brilhante, mas me agradava a ideia de viver em Berna, fazer uma vida ali ao lado da minha mãe. Agora estou a meio mundo de distância nas garras de um criminoso perigoso. Isso não pode ser real... Eu não quero acreditar nisso.

— Não chore, Valentina.

— Como posso não chorar? — Pergunto sentindo a garganta apertada. — Você me tirou tudo o que era mais precioso e vem com esse discurso frouxo de que tem planos para mim.
A expressão dele se agravou, mas estou tão anestesiada que mal sinto medo.

— Só me deixe aqui para que eu possa lamber as minhas feridas em paz — Digo, sem olhá-lo.

— Não pense que essa conversa acabou. Ainda temos muito o que resolver, mas darei um tempo a você para mostrar que não pretendo fazer isso como um animal. — Marcelo se aproxima e dá um beijo na minha testa o que me alarma, mas logo ele recua e deixa o quarto apagando a luz.

— Boa noite, Valentina.

Eu vou pra cama e ajeito o travesseiro, tentando ficar confortável e, assim que eu deito, as lágrimas rolam sem parar e espero o sono bater.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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