Meu aniversário se tornou meu pesadelo.

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♥ Valentina Becker ♥


Por que isso é importante? — Questiono.
Erik não responde, apenas dá mais alguns passos para trás deixando a respiração sair, como se estivesse preso nos próprios pensamentos, sem saída.

— É melhor você entrar, ou vai se resfriar.

— Responda a minha pergunta, agora.

— Valentina... — Diz com uma pausa — Entre, agora.

***

Os dias passaram voando e para minha infelicidade chegou o dia do meu aniversário.
O dia que normalmente espero ansiosa, esse ano eu gostaria que essa data não existisse. Acordo cedo e me preparo para descer. Hoje eu terei que ver a cara daquele crápula.

— Bom dia senhorita, dormiu bem? – Helga cumprimenta, sempre gentil. — O café da manhã está preparado. Sente-se, por favor.

Olho para a mesa farta, mas me sinto enjoada.

— Não tenho fome.

— Senhorita, assim você ficará doente. Mal tem tocado na comida desde que chegou aqui. —  Dou de ombros para ela. Erik, como sempre, está ao lado da porta observando. O enigma ambulante.

— Não tenho apetite. Também quem teria? Vamos acabar com isso logo, você tem que me levar para provar o vestido, tenho que ir ao cabeleireiro... o que mais? — digo impaciente. — Quero acabar com isso de uma vez por todas.

Levanto da mesa e sinto uma tontura e Erik se materializa ao meu lado. Ele me segura.

— Acha que deveríamos levá-la ao hospital? — Helga pergunta a Erik.

— Não, eu estou bem — Respondo, afinal ainda estou aqui. — Só preciso deitar um pouco.
— Vou trazer o costureiro até aqui.

Erik me deixa no quarto e eu volto a deitar, minha cabeça fica girando e girando.

— Greve de fome também não é inteligente. — Erik comenta puxando os lençóis para me cobrir.

— Não aja como se estivesse preocupado — Respondo de imediato — Eu ainda te odeio...

Por incrível que pareça a frase não sai tão hostil quanto eu gostaria. Acho que estou fraca demais para isso.

— Se for te fazer sentir melhor...

Só um lugar me faria sentir melhor, e estava do outro lado do oceano. Penso em Berna, viajando por suas ruas em pensamentos até que eu pego no sono.

***

— Senhorita? Acorde, já são seis da tarde. Seus compromissos estão à espera.

Acordo com Helga me chamando e me sento na cama. Minha cabeça ainda está rodando, mas não tenho outra escolha a não ser ir até essa maldita festa. Nunca odiei tanto o meu aniversário quanto hoje...

— Marcelo? — Pergunto a ela.

— Nenhuma previsão da chegada dele ainda, senhorita. — Helga coloca uma bandeja com um sanduíche volumoso de peru, uma xícara de café e um copo de suco.

Ao menos uma boa notícia naquele dia de merda. Vou até o banheiro e visto novamente minhas próprias roupas, dispensando as peças cheirosas e chiques que Marcelo deixou para mim.
Já teria que vestir a porcaria do vestido na festa. Alguns minutos depois de tirar as medidas, aqui estou eu, de pé, como um manequim nessa roupa vermelha chamativa.

— Ela está perfeita! Essa pele branca com esses olhos azuis lindos destaca ainda mais sua beleza. — Elogiou o costureiro. Estava bem-vestido com um terno e sapatos brilhantes.

— Qual é o seu nome? — pergunto, sem jeito.

— Jean. — Ele disse.

— Ele é lindo, mas não quero usá-lo. — Aponto para a opção em tecido preto e ele franze o cenho.

— Preto só em velórios, querida.

— Exatamente.

Jean dá uma risada como se eu tivesse contado uma piada, então eu respondo:

— Ou preto, ou vou nua.

Vê que eu estou falando sério e assente.

— Como deseja o cabelo e sua maquiagem? — A mulher que se apresentou como Daise me pergunta.

Ela é toda carinhosa e atenciosa, mas eu não estou no meu melhor dia, então digo:

— Tanto faz, o que você fizer está bom — Respondo, respirando fundo, desanimada.

— Tudo bem. Você deve estar nervosa, é normal.

Cinquenta minutos depois estou pronta. Jean faz os últimos reparos no vestido e saímos do quarto, já descendo a escada. Dave está a minha espera ao lado de Erik. Ele está me encarando com aquela expressão de piedade, de culpa. Como um cão repreendido.

***

Três horas depois, estamos novamente entrando naquela propriedade maldita. Ao contrário do que me lembro, há dezenas de carros estacionados na porta, alguns inclusive estão chegando conosco.

— Para que tudo isso? — indago, mais para mim mesma.

— Senhorita, eles são pessoas que convivem com o chefe, então ninguém ousaria faltar ao evento que ele organizou.

— O mundo gira em torno dele, claro.

Sem querer, pego Erik me olhando pelo espelho retrovisor e volto meu olhar para fora. Dave sai do carro e abre a porta para mim. O cretino já está a postos e pega minha mão. Está vestindo um terno inteiramente preto, combinando perfeito com o vestido que escolhi para afrontá-lo.

— Você está linda. Mas está usando preto no dia do seu aniversário, Valentina?

— Você também está. Deveria estar feliz por estarmos tão sintonizados — digo, e desta vez a hostilidade sai.

— Sabe que posso te mandar trocar isso, se eu quiser.

— Se fizer isso, volto completamente nua. Aí sim, sua festa será inesquecível.

— Não me provoque, Valentina — diz em tom sugestivo, neutralizando minha ameaça. — Eu já estou morto de vontade de fazer isso.

— Vá para o inf...

Paro a frase quando vejo minha mãe e ao lado de um homem. Achei que a encontraria num porão escuro, mas estava bonita e maquiada.

Solto-me do braço de Marcelo, apressada, e corro para ela, ignorando os olhares em volta. Há música ressoando pelas paredes luxuosas, e há muito mais gente no hall de entrada do que eu imaginava.

— Mamãe!

Eu a abraço bem apertado, e ela corresponde da mesma maneira, me enchendo de beijos e afagos!

— Você está bem, filha?

— Eu estou bem... — Digo tentando não chorar de saudade. — Por um segundo achei que...

— Também achei — respondeu lançando um olhar suspeito para Marcelo. — Estou aqui agora.
O homem ao lado dela vem falar comigo.

— Oi, filha, você está muito linda.

Eu mal posso acreditar no que ouço. Filha? Meu chão praticamente desaba ao perceber que o homem na minha frente é meu pai.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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