A chuva vem antes da tempestade (parte 2)

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Deitado a contragosto na traseira da carroça de suprimentos, Kenny sentia o chacoalhar brusco causado pela corrida desenfreada do cavalo que tentava a todo custo levar ele e os colegas para fora de Greenwood, desviando-se das árvores, arbustos e demais plantas que, ainda em chamas, contorciam-se na direção deles.

Em meio à todo aquele caos infernal, ele analisava os acontecimentos recentes em sua mente em busca de algo que lhe fizesse entender o que estava acontecendo.

O que Hanji pensava que estava fazendo? Por que ela libertou Rivaille? Todos podiam ver que o rapaz estava fora de si e mesmo assim, ali estava ela, ao lado dele, defendendo-o e enfrentando os amigos para fazer os gostos de alguém que visivelmente estava sob efeito de alguma magia. Pior que isso, ela ainda ousava dizer que ele não estava sob efeito de feitiço algum, mas sim, apaixonado.

Não. De forma alguma. Ele conhecia o sobrinho melhor que ninguém e sabia que o menor nunca se apaixonaria por um majin. Era certo que aquela mulher sempre teve um parafuso a menos, mas ainda assim, aquilo era insanidade demais, até para ela:

- Eu vou matar aquela maluca... Vou mesmo... - resmungou mais para si do que para qualquer outra pessoa logo recebendo uma carícia nos cabelos por parte de Petra.

- Não se preocupe com a Hanji ou com o Rivaille agora, chefe - murmurou a mulher que estava com ele na parte traseira da carroça para garantir que não se machucasse com os solavancos daquela trilha irregular que fechava-se cada vez mais como se estivesse tentando esmagá-los, queimando-os com o fogo que eles mesmos ascenderam e que aquela chuva salgada apagava gradualmente.

A trilha não era daquela forma antes, era visível a diferença. Até mesmo espinhos haviam crescido pelo caminho e estacas de madeira emergiam do solo em direção a eles com certa frequência, assustando o cavalo e fazendo-os ter de desviar para não acabarem feridos gravemente. A floresta parecia estar tentando matá-los naquele momento e sabia que aquilo era culpa do maldito majin de olhos verdes:

- Como posso não me preocupar quando aqueles dois estúpidos estão correndo alegremente para os os braços de um bando de majins? E pior. Aquele tal Eren que me fez isso está lá também! -apontou para o braço decepado, completamente frustrado- Alguém precisa colocar juízo na cabeça deles!

- Não tem nada que a gente possa fazer agora, o senhor sabe. Aquela barreira apareceu e sequer tivemos tempo de pensar em ir atrás deles. -comentou relembrando o momento em que imensos ramos espinhosos romperam o chão bloqueando a passagem que havia sido aberta para Rivaille.

Assim que Hanji desapareceu naquela trilha, Petra tentou a seguir. Sua ideia era, acima de tudo, forçar a amiga a voltar com ela, além de reconhecer um pouco mais do terreno uma vez que, desde o incêndio, a floresta não havia mais se movido fazendo-a pensar que tinham por fim conseguido vencer a magia do labirinto infinito.

Bem, ela estava enganada.

Qual não foi sua surpresa ao sentir o chão tremer sob seus pés assim que ousou pisar naquela trilha?

A terra rompeu derrubando-a no chão com brusquidão e dela emergiram imensos caules retorcidos repletos de espinhos que formaram uma muralha intransponível. Muralha essa que continuou a crescer, espalhando seus ramos na direção do grupo de caçadores que teve de bater em retirada o mais rápido possível.

Olhando para os amigos que dividiam o banco do cocheiro, atiçando o cavalo para que corresse mais rápido, sentiu mais uma vez como a carroça chacoalhava ao ter de desviar de mais uma estaca que emergia, dessa vez passando de raspão na roda traseira do veículo que quase foi estilhaçada.

Em meio ao movimento brusco e um tropeço do cavalo, Erd perdeu o equilíbrio, sendo impedido de cair por Gunther que o agarrou pela perna ferida com seu único braço bom, cravando os dedos na carne exposta e mantendo o amigo suspenso no ar a centímetros de ter sua cabeça transpassada por uma nova estaca.

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