Alianças (parte 1)

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- Não. não... NÃO! -o garoto de olhos azuis límpidos e cabelos negros como o ébano bradou furioso fazendo desvanecer a esfera de magia que antes lhe mostrava o rosto de Ymir cujos olhos lentamente se fechavam.

Suas mãos bateram com força nos apoios do trono em que estava sentado ao mesmo tempo em que seus olhos brilharam fazendo com que todas as janelas, espelhos e objetos de vidro ao redor estalassem:

- QUE DROGA! -ele gritou- Isso não podia ter acontecido!

O menino de vestes simples se comparadas ao ambiente luxuoso ao seu redor levantou-se andando de um lado para o outro com os olhos lacrimejantes. Agarrando um jarro ornamentado de ouro ele arremessou-o contra um dos vitrais do lugar, estilhaçando-o diante da figura relutante de um homem já de idade avançada cujos cabelos grisalhos eram parcialmente cobertos por uma mitra alongada que, a semelhança de suas vestes, possuía uma coloração branca com decorações entre o dourado e o vermelho.

Em suas mãos, o velho homem carregava um pergaminho e embora fosse considerado uma das autoridades máximas dentro da igreja, estando abaixo apenas do papa a qual servia, sentia-se estremecer diante da fúria daquele "simples menino":

- Não entendo... - murmurou sem saber ao certo o que dizer. Imaginava que as noticias que trazia fossem alegrar ao garoto e entretanto, via-o agora a arremessar objetos extremamente valiosos contra as paredes daquela espécie de castelo cujo a função deveria ser abrigar o alto escalão da igreja- Por que se enfurece com o pedido dos caçadores? Não era o seu desejo que destruíssemos os majins?

- Não é isso que me enfurece! - respondeu agora chutando uma das caríssimas tapeçarias que havia desprendido da parede quando puxou-a violentamente em um ato que só poderia ser descrito como a mais pura essência de uma birra infantil.

- Então qual o motivo de sua ira?

- Ymir! - as lágrimas contidas aumentaram.

- Ymir? - o cardeal repetiu interrogativo.

- A deusa está morrendo! Eu sinto!

- E isso não deveria deixar-te feliz? -continuou sem entender- É o momento perfeito para acabarmos de vez com a escória majin.

- Não. Não assim... -o menino murmurou desistindo de conte as lágrimas que, por fim, escorreram- Ela devia ser derrotada por mim e então...

- É uma vitória de qualquer forma, diviníssimo... -tentou remediar embora o pequeno não parasse de chorar- Não fique chateado, vou pedir a alguns guardas para que tragam aquele doce de que gosta. -ofereceu vendo como, por fim, o outro começava a se acalmar- Agora, quanto ao assunto de antes... Devo conceder parte dos exercícios templários à aliança dos caçadores?

- Você disse que eles querem destruir Greenwood, certo? -deu de ombros desinteressado- Pode até enviar alguns templários, mas não vai funcionar. A floresta é protegida por Ymir.

- Mas o senhor disse que Ymir está morrendo, certo? A proteção cairá.

- Ymir pode até morrer, mas existe outro que está tomando o seu lugar - rangeu os dentes magoado.

- Outro?

- Um humano. Um rapaz da minha linhagem. Ela com certeza o escolheu para me afrontar... -resmungou amuado- Ymir está transferindo seu poder a ele e quando terminar, ela morrerá.

- Então o que devemos fazer?

- A proteção está enfraquecida graças a essa transferência, sem dúvida... Mesmo sendo muito difícil, não acho que exista uma oportunidade melhor para atacar do que agora. -deliberou num lapso de maturidade. Um dos raros momentos em que o cardeal de fato podia ver o ser superior que existia por trás daquela aparência de criança- Faremos assim, eu vou junto desses caçadores e levo comigo dois terços dos nossos templários e então...

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