Dever

31 4 0
                                    

Era por volta de duas da tarde quando Armin, que voltava para casa com os braços carregados com os ingredientes pedidos por Yamar, encontrou uma Hanji sorridente e descabelada com os óculos tortos, as roupas sujas de terra e diversos sacos presos na cintura sentada à frente de sua porta.

"Droga. Ela está aqui de novo."

- Você voltou! Eu fiquei te esperando! -ela se levantou correndo até ele para ajudar com os sacos cheios de ervas e mais algumas coisas que não conseguia identificar- O que é tudo isso? São para as poções?

- Isso é particular meu, humana - ralhou desviando-se da jovem, usando magia para controlar alguns ramos e abrir a porta pela qual ela passou antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer coisa.

"Maldita hora em que aceitei trabalhar fazendo medicações com essa enxerida!"

Já faziam três dias que a cientista vinha visitá-lo para trabalharem juntos nos suprimentos químicos para a guerra e desde que isso tinha começado, não teve tempo para juntar a lista de ingredientes pedidos pelo deus de aparência mais do que jovial que, todas as noites, chamava-o através do espelho para saber o quanto tinha feito de progresso.

"Desde aquele dia, o dia em que Levi disse que era o sucessor de Ymir, eu estive ouvindo a voz dele... Quase morri de susto quando ele apareceu no espelho pela primeira vez e tive muito medo, mas agora já me acostumei." Olhou de soslaio para a mulher que já misturava alguns químicos distraidamente. "O único problema são as noites em que essa insana decide ficar até mais tarde. Não tem um único dia que eu não passe morrendo de medo de sermos pegos. Ele me garantiu que enquanto ficasse dentro da minha casa nenhuma fada poderia ouvir meus pensamentos e descobrir o plano, pois estou sob o véu de um deus, mas esse véu não impede a curiosidade dessa mulher desagradavelmente irritante!"

- Elfinho, preciso de veneno de gorgona - a mulher cantarolou fazendo-o suspirar.

- Eu tenho um nome.

- Eu também. -ela rebateu sorridente- Por que não fazemos assim, você me chama pelo meu nome e eu te chamo pelo teu, Armin? - a questão o fez revirar os olhos, mas acabou por anuir descontente.

- Tudo bem... 

Após um longo tempo preparando as mais diversas misturas a cientista espreguiçou-se. Estava pronta para encerrar aquele dia por ali e ir embora mais cedo para recolher alguns materiais a mais, mas parou ao notar o desconforto do loiro ao lado dela:

- Ei, Armin... - chamou vendo-o sobressaltar-se.

- Que foi? - a questão soou ríspida, mas ela não se importou, espreitando por cima do ombro do outro que usou os braços para esconder as misturas em sua mesa.

- O que está fazendo? -seus olhos focaram em uma determinada flor violeta entre os ingredientes ali- Isso não é remédio, nem anestesia. Essa planta é venenosa.

- Não se mete! - empurrou-a violentamente fazendo com que a mulher se desequilibrasse e caísse contra uma das prateleiras.

os frascos e livros balançaram, alguns caindo sobre ela. O óculos escorregou de seu rosto caindo no chão aos seus pés e a jovem mulher ainda tentou apanha-los rápido o suficiente para que o elfo não visse seus olhos, mas não conseguiu faze-lo.

Armin, por sua vez, ao finalmente vislumbrar mesmo que vagamente os orbes completamente enegrecidos de Hanji, sentiu seu corpo tremer. Ela não era humana, ao menos não por inteiro e constatar aquilo confundiu-o mais do que queria deixar transparecer:

- Você... - murmurou vendo-a virar-se de costas para ele devolvendo os óculos ao rosto rapidamente.

- Isso não é da sua conta - ela rebateu.

GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora