Requiem (parte 2)

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Escuro. Tudo estava tão escuro mesmo que seus olhos estivessem abertos...

Não fazia ideia de onde estava nem por quanto tempo esteve inconsciente ali, mas sentia... frio... 

Não... Não apenas frio... Havia também um vazio em seu peito. Um vazio doloroso e gelado, assim como o clima naquele imenso espaço negro.

Sentando-se, Kenny olhou para baixo. O chão sob ele parecia coberto de água ondulando ao seu redor sem que realmente afundasse nela, quase como se fosse uma fina camada líquida e estagnada, apenas refletindo sua imagem cercada pelo escuro onde pequenos pontos de luz errantes que variavam entre tons de amarelo, verde, cinza, vermelho, roxo e azul passavam esporadicamente:

- Onde...? - murmurou analizando o ambiente esfregando o rosto para despertar completamente.

Olhando para cima e para baixo por algum tempo, acabou estendendo sua mão até tocar o proprio reflexo. Queria saber exatamente o que havia abaixo daquela água e surpreendeu-se ao sentir seus dedos afundarem revelando que não havia nada. 

Aliás... "nada" não era a palavra certa.

Era água. Infinitamente para todos os lados e mesmo enfiando seu braço por completo no líquido em busca de alguma coisa para chamar de "chão", não consegiu tocar algo realmente.

Era como se estivesse no meio do oceano mais calmo que já tinha visto, embora seu corpo permanecesse flutuando sobre ele completamente seco.

Era tão estranho... Se buscasse apoio, sentia aquilo como algo sólido e firme, mesmo sem perder sua consistencia, mas se quisesse mergulhar nele, também podia fazê-lo, como se estivesse se adaptando à sua vontade sem nunca deixar de ser o que era. 

Aquilo era água. Apenas água, translúcida em sua mais pura essencia. Por deus. Poderia até bebê-la se quisesse e ele realmente chegou a provar apenas para ter certeza o que o levou a cuspir algumas vezes.

Estava salobra, assim como o mar e isso apenas o levava a teorizar ainda mais sobre ela.

Seria realmente o oceano? Mas não havia nenhuma onda nele...

Não conseguia entender absolutamente nada e, sinceramente, até mesmo sentia um pouco de medo por estar tão desorientado assim, principalmente porque suas ultimas lembranças eram de...

De Rivaille usando magia contra ele e jogando-o em um buraco escuro sem destino aparente.

- Merda... O que ele fez comigo? Que lugar maluco é esse?

Levantando-se com dificuldade por conta dos golpes que recebeu durante a batalha, começou a caminhar lentamente em busca de uma saída para aquela imensidão negra. Estava tudo tão quieto... Tanto que podia ouvir seus proprios passos sobre a água, mas logo uma melodia melancólica o alcançou somada ao som típico do gotejar de respingos sobre a superfície de um lago.

Uma luminosidade azulada fraca começava a surgir mais adiante e, conforme se aproximava, notou que a mesma delineava a imagem de uma pessoa movendo-se em meio a inúmeros pontos coloridos aglomerados que, naquele imenso breu, pareciam muito pequenas estrelas.

Quando Kenny finalmente conseguiu visualizar melhor a figura mais a frente, pôde constatar que, de fato, não era uma pessoa de carne e osso, mas sim algum tipo de espectro feminino translúcido que parecia emitir luz conforme dançava graciosamente. 

Seus movimentos eram delicados, leves e ritmados como os de uma bailarina experiente. Seus braços ondulavam conforme a melodia soava fazendo com que suas vestes típicas de uma caponesa e seu xale de véu se movessem no ar com tamanha suavidade que pareciam flutuar realmente. 

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