Sacrifícios (parte 2)

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- O que está acontecendo? Para onde estão indo? Covardes! - Pieck gritava furiosamente conforme os grupos de soldados sobreviventes passavam diretamente por ela.

- Seus amigos já perceberam que vão perder - um dos cinco majis que haviam se acumulado ali para a enfrentar falou usando da névoa imbuída com uma magia de comunicação para se fazer entender.

Ele era um golem, uma espécie de monstro elemental da terra muito semelhante a uma escultura de pedra.

- Vocês são fracos sem sua fumaça de veneno. Esse é nosso território. Deveria seguir o exemplo dos seus companheiros e correr, ou se render, mestiça - outro deles continuou. Esse era um rapet, um dos espíritos da natureza da terra cujo a aparência era muito parecida com um ser humano de grandes proporções com o corpo completamente liso, sem pelos ou mesmo cabelo.

Era essencialmente um gigante, mas não tão grande assim. Sua magia o permitia crescer mais ao absorver rochas que incrementavam seu corpo como partes dele tornando-o menos humano, mas de forma reversível. Esse majin, assim como a maioria dos que estavam ao redor dele, vinha do desfiladeiro de Boulder e portanto possuía um treinamento de combate mais apurado, ideal para lidar com a caçadora que, surpreendentemente, havia se enfurecido verdadeiramente com a morte de sua colega de profissão cujo corpo jazia ao lado do de Gabi.

- Até parece que vou me render... -ela rosnou- Vou colocar todos vocês na minha coleção.

- Vai se juntar com sua amiguinha ali no chão, isso sim! - o golem riu avançando contra a mulher que gritou pegando um dos inumeros selos espalhados pelo chão devido aos seus lançamentos fracaçados anteriores, cravando-o no peito dele.

Um sorriso surgiu no rosto da caçadora que lambeu os lábios por finalmente conseguir colocar o majin desavisado sob seu poder. Ela o viu contorcer-se tentando resistir ao seu controle por algum tempo enquanto se defendia dos ataques subsequentes dos companheiros dele que, no fim, sucimbiu a ela passando a atacar os proprios aliados enquanto gritava tentando impedir os proprios movimentos:

- Não resista, docinho. Vai doer menos se apenas fizer o que eu quiser.

- Sua bruxa! - o golem gritou esmagando um dos amigos que recusou-se a lutar contra ele.

- Não. Bruxa era a Frieda que arrancava os pedacinhos de vocês, pequenos incompletos, para aprimorar a si mesma. Eu sou apenas uma garota fazendo justiça.

- Está invadindo nossa casa, matando nossos irmãos e nos fazendo lutar uns contra os outros. Diga-me, onde está a justiça nisso? - o rapet acusou impedindo um ataque do golem em sua direção antes de o prender em um buraco na terra. Não o mataria, mas o manteria incapaz de lutar por algum tempo até que fosse capaz de o livrar daquele selo.

- Não é nada pessoal... -ela riu mais uma vez- Sei que não é culpa de vocês e, na verdade, sou uma oportunista por essência. O mundo apenas é como é e vocês lutam por seu proprio lado. Estou lutando por mim e pelo lado que me é mais conveniente. Essa é minha justiça, assim como vocês tem a justiça de vocês. 

"Ninguém sabe como é... Dentro dessa guerra de dois lados, eu e os outros que são como eu sempre estivemos perdidos em algum lugar no meio..." Pensava consigo mesma deixando que, em seu rosto risonho, surgisse um lampejo de tristeza. 

"Não temos um lugar. Nunca tivemos. Estamos apenas vagando, fugindo dos monstros que nos cercam, mas no fim... No fim eu encontrei quem me chamasse pelo nome e não pela espécie." 

Ao se ver sendo atacada pelos três majins restantes de uma vez, ela abriu ambas as mãos invocando duas laminas de ferro quente.

"Se precisar lutar por eles, eu vou. Me pediram para ser caçadora e eu obedeci sem nem perguntar o motivo, porque não me interessa. É assim que é. Eu faço o que eles querem e eles fazem o que eu quero."

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