Guardião

Não devia ter confiado (parte 2)

Era por volta de nove horas quando Armin, que organizava a troca dos curativos dos refugiados, deu falta do guardião da floresta.

Eren havia prometido ajudar nas tarefas que envolviam garantir o bem estar dos sobreviventes ao ataque à planície Uivante e não era costume que se atrasasse, entretanto, já fazia meia hora que o atendimento havia começado e mesmo chamando por ele através de gritos e batidas nas árvores, ninguém o havia visto em nenhum momento.

Preocupado com o que poderia ter acontecido, o elfo se dirigiu para a casa do amigo junto de Mikasa que tentava o convencer de que deveria dar privacidade ao moreno.

"Ele deve ter tido um imprevisto ou deve estar passando tempo com o Levi" ela tentou dizer, mas um olhar descontente foi a única resposta que recebeu.

Devo dizer, a pesar do rosto vermelho, não foi uma surpresa para a valquíria encontrar o irmão nu com o corpo repleto de marcas entre as cobertas, mas com certeza lhe chamou a atenção a ausência do humano naquele cômodo relativamente pequeno e teria perguntado sobre o paradeiro dele por si mesma se o loiro de expressão ofendida e olhar furioso não tivesse tomado a frente indignando-se completamente com a resposta que obteve:

- Você fez O QUE?! - gritou inconformado enquanto o guardião da floresta, sentando em sua cama, encarava a parede da casa com um olhar vago e aéreo.

- Eu o deixei ir - ele repetiu com a voz fraca sentindo os olhos lacrimejarem.

- Como você pode simplesmente deixar ele ir?

- Não estou entendendo o motivo de tanto alarde. -Eren encarou-o finalmente- Não era você que tanto queria que ele desaparecesse de Greenwood? Eu realizei seu desejo. Fique satisfeito.

- Sim, eu queria que ele desaparecesse, mas não assim.

- Claro, você queria que Eren o matasse, não é? - Mikasa se intrometeu com um olhar severo compreendendo aonde o elfo queria chegar.

- Não me olhe desse jeito! -o de olhos azuis se defendeu- Ele veio com um grupo que está acampado mais ao norte de onde você e seus protegidos entraram. Você tem noção de que a primeira coisa que ele vai fazer assim que colocar os pés fora daqui, vai ser juntar os amigos caçadores para um ataque?

- Não seja tão pessimista, Armin. -ela defendeu- Eu gosto do Levi. Ele me pareceu um bom rapaz e nos ajudou muito ontem com o tratamento dos meus protegidos - olhou para o irmão que parecia se encolher cada vez mais e então um soluço audível escapou da garganta dele deixando os dois bastante preocupados.

- Ei, Eren... Está tudo bem?

- Sim... -fungou tentando se recompor- Comigo sim...

- Isso... Tem a ver com nossa mãe? -a valquíria sussurrou cautelosa- Estou sentindo algo diferente na assinatura mágica dela...

- Eu não quero ser grosso, mas... Vocês podem me deixar sozinho? Eu preciso de um tempo... - pediu num tom deprimido que fez a dupla se entreolhar antes de concordar com a cabeça deixando a casa em meio a discussões sobre aquela ser ou não a decisão certa.

Enquanto isso, em meio à névoa de labirinto, Levi seguia a passos firmes pelo caminho que se abria diante dele, vez ou outra cruzando-se com alguma fadinha que lhe cumprimentava, algumas sorrindo e outras com expressões surpresas.

Sentiria falta delas quando finalmente saísse dali. Aqueles pequenos seres alados, entre tantas espécies de majins, eram os únicos que demonstravam estar confortáveis com ele desde o início e muitas vezes partiam em sua defesa contra aqueles que faziam algum comentário mais ríspido.

"Bom, não é como se eu não pretendesse voltar..." Pensou consigo mesmo levando a mão ao pescoço onde podia sentir o cordão que amarrava uma espécie de semente luminescente. Era um presente de Eren. Um presente inestimável que ele guardaria para sempre.