Fazer por merecer

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Os dias se passavam como as águas de um rio e a pesar do conflito inicial, Rivaille havia conseguido se adaptar bem na pequena vila humana ao Sul da clareira da primavera.

Foi difícil no começo, aprender a agir de forma natural e a não atacar por impulso qualquer majin que aparecesse por ali, mas mesmo com sua lâmina voando no ar vez ou outra quando alguma das criaturas o pegava desprevenido, no geral, não havia causado grandes ferimentos na maioria e esperava continuar assim, não por compaixão com os majins ou algo assim, mas para não chatear Ritch que o havia acolhido em sua casa por aqueles dias:

- Rivaille... - a jovem chamou olhando por cima do ombro para o caçador que, com um sorriso mínimo, trocava a fralda de tecido de Gael. Estavam ambos do lado de fora da casa, ele sentado na rede de cipós e ela um pouco mais a frente, cozinhando um caldo de legumes e leite de cabra em um caldeirão suspenso por uma estrutura triangular de galhos sobre uma fogueira que, aos poucos se apagava.

- Tudo bem, foi um inferno colocar fralda em um bebê com rabo, mas agora você está limpinho do jeito que eu gosto. -o jovem comentou com a criança que estendeu as pequenas mãozinhas em sua direção tentando pegar o ar com um sorriso banguela nos lábios- Eu tenho que admitir... para um filhote de majin com humano você até que é fofo. Seria um bebê normal, se não fosse pelo focinho, as orelhas e... -olhou para o pequeno tufo de pelos que balançava- O rabo, claro... Não podemos esquecer dessa obra prima de satanás presa na sua bunda que é a inimiga de todas as fraldas.

- Não fale palavrão perto do meu filho, seu bosta - a jovem reclamou jogando nele um pano de prato sem conseguir esconder o sorriso que decorava sua face agora que via o caçador, antes arredio, interagindo com seu filho com tanta doçura.

- Não seja implicante. Ele é um bebê. Não entende nada dessas merdas.

- Mas eu entendo e não quero que fale. Aliás, eu te chamei, mas você estava tão ocupado babando nesse "filhote de majin com humano" quem nem me ouviu - sorriu sarcástica fazendo o sorriso que ele esboçava, desaparecer um um biquinho.

- o que que você quer? - olhou-a com os olhos semicerrados ainda com o bebê nos braços.

- Preciso de mais lenha. -ditou mandona- Vai buscar.

- Mas que abusada... -reclamou vendo-a estreitar os olhos- Ok, já estou indo.

Com essas palavras ele embrulhou o bebê em sua manta, deitando-o em segurança na rede antes de entrar na casa para pegar um Machado e caminhar para uma area mais afastada para garantir que o tronco não cairia sobre nenhuma casa, estranhando quando a mulher o pediu para não cortar nenhuma árvore em sua busca.

"Como ela espera que eu consiga lenha sem cortar árvores?" Questionou a si mesmo enquanto andava recolhendo alguns galhos finos que haviam caído espontaneamente.

A tarefa de coletar gravetos, entretanto  era demorada e praticamente infrutífera; eram necessárias dezenas de gravetos para substituir uma única tora de lenha e ao visualizar uma árvore jovem e de tronco razoavelmente fino, olhou para os lados antes de deixar os montes de galhos que tinha e focar-se em derrubá-la.

"É uma árvore pequena..." Ele pensou. "Ninguém vai dar falta dela."

Entretanto assim que o Machado cortou o ar golpeando-a com força suficiente para partir metade do tronco, um grito ecoou pela floresta e a imagem do majin de olhos verdes surgiu em sua frente se erguendo da terra:

- O que está fazendo? - o guardião questionou com lágrimas nos olhos e a mão sobre o peito.

- Você está bem? - arregalou os olhos levemente preocupado, entretanto o outro não pareceu se importar com isso, empurrando para longe da árvore e acariciando o tronco cortado.

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