Caçadores de majins

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O garotinho de olhos cinzentos estava em choque com o que via. Tudo ao seu redor desabava, os gritos agoniados e de desespero o apavoravam enquanto o cheiro de sangue e carne queimada impregnava suas narinas conforme o fogo se alastrava pelos cadáveres e destroços espalhados por todo lado.

Um brado horripilante ecoou por toda a vila em chamas e logo a sombra de uma imensa criatura alada caiu sobre as casas. Os olhos do garoto se ergueram em busca da origem da sombra e o que viu o deixou dividido entre o maravilhado e o aterrorizado. A imensa criatura escamosa era maravilhosamente macabra, encarando a destruição abaixo de si com olhos dourados luminosos tais quais suas escamas antes de lançar mais um jato de fogo que riscou a terra destruindo tudo o que tocava.

O garotinho tentou correr, mas não havia para onde fugir. As chamas pareciam o perseguir através das casas e quando pensou que havia escapado a construção ao seu lado desabou soterrando-o entre vigas de madeira incandescentes, tijolos e palha.

A dor o consumia conforme as chamas queimavam sua carne e entre gritos e lágrimas sua consciência aos poucos se apagou garantindo que não sentisse mais nada.

***

Os raios de sol batiam contra as pálpebras trêmulas que aos poucos se abriam revelando um par de orbes cinzentas como um céu tempestuoso:

- Quem abriu a droga da cortina? - o rapaz reclamou colocando as mãos sobre os olhos numa tentativa inútil de barrar a claridade.

- Levanta essa bunda da cama, Rivaille. -o homem de meia idade ao lado da janela riu sarcástico- Temos trabalho. A Hanji disse que fez uma descoberta fascinante e convocou uma reunião.

- Se for algo relacionado à vida sexual de alguém de novo eu juro que estripo aquela quatro olhos de merda... - o rapaz resmungou sentando-se na cama; seu tronco desnudo deixando visíveis todas as cicatrizes de queimaduras que tomavam suas costas e braços as quais fez questão de cobrir com a primeira camisa que viu antes de jogar um manto de couro de dragão sobre os ombros e lavar o rosto na vasilha com água disposta em uma mesinha ao lado da cama.

- Você parece terrível. -o mais velho pontuou ascendendo um charuto, tragando e soprando a fumaça no rosto do rapaz que exibia imensas olheiras sob os olhos- Sonhando com aquele dia de novo? - questionou arqueando a sobrancelha.

- E tem alguma noite em que eu não sonhe com aquilo, tio? - olhou para o homem com uma expressão indiferente.

Havia um acordo mudo entre ambos de nunca falarem sobre aquele dia; eram lembranças dolorosas demais tanto para o jovem, na época uma criança, que viu sua vila ser aniquilada por seres mágicos diante de seus olhos, quanto para o tio, um caçador solitário que não chegou a tempo para salvar sua querida irmã e precisou tirar o sobrinho queimado e a beira da morte de uma pilha de escombros daquilo que um dia foi a casa de uma família também morta naquele infeliz ataque:

- Parece que a "quatro olhos de merda" está empolgada com a reunião de hoje... - mencionou olhando para a mulher com os cabelos presos num rabo de cavalo bagunçado e o óculos torto no rosto que corria com diversas caixas e potes em direção a uma construção a poucos metros dali.

- A sua decisão mais estúpida como lider dessa guilda de caçadores de majins foi dar uma cópia da chave do salão da guilda para aquela desequilibrada - o mais novo comentou aproximando-se da janela para ver a mesma cena que o tio.

Os dois não eram muito parecidos fisicamente embora seus olhos tivessem o mesmo tom metálico tempestuoso. O mais velho possuía um bronzeado leve ao contrário da pele de tom branco leitoso do rapaz; seus cabelos também eram de um castanho escuro enquanto os do mais novo eram negros como as penas de um corvo, mas a maior e mais gritante diferença entre eles era, sem dúvidas, a esmagadora diferença de altura.

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