Nada

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Três batidas na porta, Catarina responde automaticamente.

— Pode entrar.

— Oi. — Maranhão entra timidamente na sala. — Vim buscar Sergipe pra gente almoçar.

— Claro guri. — Sul exclamou tranquilo enquanto servia mais um chimarrão para si.

— Nossa. Já tá na hora? — A mulher conferiu o horário. — Hoje vou almoçar com a Matinha.... — Murmurava para si mesma já ajeitando as coisas para sair.

Enquanto isso o surfista levanta de seu lugar.

— Vou indo visse Sul. É pra voltar às duas néh?

— Sim piá. — Sorria educado. — Já que atrasamos um pouquinho das coisas da manhã, vamos correr à tarde.

— Tudo bem. — Sergipe sorriu fraco. — Até mais.

— Tchauzinho Gipe. — Paraná se intromete. Deu uma pequena corrida até o loirinho lhe dando um abraço na cintura. — Até mais tarde piá.

Um pouco surpreso o surfista corresponde ao toque.

— Tchau Paraná, até mais tarde.

O moreno rapidamente rouba um selinho dele e se afasta serelepe de volta pra sua mesa. Sem espaço pra resposta os dois nordestinos simplesmente saem da sala.

Catarina encarava o menor com surpresa.

— Você... beijou o Gipe na frente do Maranhão?

— Ele sabe guria. — RS interrompeu.

A loira se voltou pro barbudo absorvendo a informação.

— Mas vocês são ruim mesmo de guardar segredo. Meu Deus. — Pegou sua bolsa e se dirigiu para a porta. — Isso não é da minha conta. Vou almoçar com Matinha, até mais tarde guris.

— Até. — Paraná cantarolou enquanto se aproximava do namorado. — Vamos também paixão?

— Claro.

_____ _____

— Onde tu estás me levando Maranhão?

Sergipe olhava pela janela do carro há algum tempo, estavam relativamente longe do escritório.

— É uma franquia que eu gosto e finalmente abriu uma loja por aqui. — Espiou de canto pro melhor amigo. Suspirou. — Não é só isso visse. Tu estás estranho Gipe, eu fiquei preocupado.

O loirinho suspirou também, cansado. Reconhecia que estava em conflito interno.

— Aconteceu alguma coisa? — SE se manteve calado, não conseguia encontrar as palavras. — Ou melhor. O quê o Sul te fez?

Maranhão jogou verde. Percebeu em sua conversa com o Norte que ele não parecia ter relação com o humor degradado do seu melhor amigo. E pelo selinho e abraço que Paraná lhe dera antes de saírem ele também não tinha relação direta com aquilo. Então só restava o gaúcho mesmo.

— Nada... — O loirinho conseguiu murmurar desanimado.

— Como nada? Tu estás desanimado por algum motivo hômi! E quando eu cheguei lá pra te buscar cê tava com jeito de ter chorado! — Percebeu que estava se alterando, não iria conseguir extrair o que precisava daquele jeito, respirou fundo reavendo sua calma. — Gipe. Tudo isso é preocupação visse, se tu não falares nada não tem como eu te ajudar hômi.

Sergipe tinha os olhos marejados.

— M-mas é isso mesmo.... Ele não fez nada. — Uma lágrima escorreu por sua bochecha. — Tem uns dias que ele não me toca direito.... — O menor corou e escondeu o rosto com as mãos. — Será que ele já cansou de mim? Que só está nisso por educação? Mas daí não faz sentido aquele abraço de hoje!

Finalmente Sergipe chorou catártico. Maranhão rapidamente abre o porta luvas revelando uma caixinha de lenços de papel. O moreno não podia realmente encarar diretamente o melhor amigo por estar dirigindo, mas a todo momento lançava olhares preocupados.

Estacionou no tal de restaurante que queria. Deixou o loirinho derramar as lágrimas que precisava, não se importando de esperá-lo pacientemente. Quando o surfista acalmou o suficiente é que fez menção de querer sair do carro e irem almoçar. Falou suavemente.

— Gipe. Chegamos. — Pegou e estendeu um lenço de papel para ele. — Vamos comer alguma coisa e depois você continua me contando o que está no seu coraçãozinho beleza?

O sergipano assoou o nariz, concordando com a cabeça. Desceram do carro e escolheram a mesa mais isolada que tinha no restaurante. Pediram o que queriam do cardápio e novamente estavam a sós.

— Tu disseste que ele não está te tocando.... — Maranhão reiniciou o assunto. — Como assim?

Sergipe olhou dolorido para o amigo.

— A-ah... É que ele sempre m-me dava um selinho de manhã. O-ou me abraçava quando a gente tava sozinho.... — Escondeu o rosto nas mãos, constrangido. — Falando assim é coisa pouca demais.... Eu que tô sendo muito dramático.

— De jeito nenhum! — Rapidamente o moreno comentou. — Se você tá sentindo é porque tá acontecendo alguma coisa!

SE espia por entre os dedos, seu amigo estava sério. Se sentiu reassegurado. Respirou fundo e continuou.

— Ontem mesmo ele e Paraná estavam muito estranhos com a Matinha e o Goiás.... Não sei se você viu... quando a gente voltava do almoço. — Suspirou cansado. — E-ele deu mó tapão no Goiás! O Sul não é de fazer essas brincadeiras sem segundas intenções!

Maranhão tomou um gole de seu suco.

— Será mesmo? — O loirinho o encarou em dúvida. — Quero dizer. Há quanto tempo tu estás próximo deles? Foi o suficiente pra perceber esse tipo de coisa?

O menor recapitulava o ocorrido e a conversa que aconteceu depois. Parecia que o barbudo havia flertado de brincadeira com Matinha e aquilo causou confusão, não seria de se estranhar toda aquela zoeira depois.... Suspirou cansado, esfregando o rosto com força.

— Eu não sei mais visse.

— Tem outra coisa que tu não podes ignorar Gipe. Há quanto tempo tu não surfas? — Essa pergunta pegou o sergipano desprevenido. — Entrar no mar é a tua terapia. Trocar energia com a natureza.... Pegar sol, colocar o pé na areia. Acho que tu estás estressado hômi. Muito estressado.

Ele tinha razão. Não era seu melhor amigo à toa. O conhecia muito bem. Sergipe se debruçou na mesa.

— Será?

— Há quanto tempo tu não estás enfurnado dentro do escritório? — Falava com o amigo atirado diante de si. — Gipe, tu é uma plantinha com sentimentos complicados.... Vamos resolver o básico primeiro visse. Água, sol, sono e comida. — Listou levantando os dedos, isso fez o loirinho erguer a cabeça e sorrir cansado. Porém com o humor um pouco mais otimista. — Amanhã tu vais pra minha casa e nós vamos surfar! Sem conversa fiada. Fechou? — O surfista concordou com a cabeça, grato pela amizade. — E se isso não der certo a gente vai pro próximo passo e investiga mais o que que tá acontecendo.

— Tá bom...

Sergipe murmurou contra a mesa e encolheu os braços. Respirou fundo e finalmente se sentou adequadamente. Tinha a cara um pouco inchada e vermelha, mas a expressão era mil vezes melhor. Maranhão sorria para ele, enfim vendo-o mais alegre.

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