Sestiá

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— Tchê! A louça é de vocês. — Sul falou divertido para o irmão e namorado. — Eu e Sergipe trabalhamos antes neh guri? — Lançou um olhar estranho para o cunhado e se levantou. O surfista ficou absolutamente quieto e desviava o olhar tristonho. — Eu vou sestiá lá no galpão agora.

— Tah bom paixão. — Paraná concordou naturalmente mesmo tendo estranhado o comportamento do namorado, talvez só estivesse cansado mesmo.

— A gente imaginou isso cabra, vai na paz. — Norte complementou também ignorando a atitude.

Os três viram o barbudo se retirar e assim que tiveram certeza que ele não os escutaria mais Norte e Paraná se aproximaram apressados de Sergipe.

— O que aconteceu Gipe? — O sulista foi o primeiro a perguntar.

— Vocês brigaram é? — O maior perguntou preocupado.

O surfista encolheu no lugar se sentindo ainda pior. Desviava o olhar para qualquer lugar longe dos dois. O silêncio era ensurdecedor.

— E-eu não consegui fazer nada com ele. — Sergipe confessou quase mudo. Tampou o rosto com as mãos. — Por causa de mainha. — Murmurou abafado.

A reação dos outros dois foi em reflexo, uma exclamação quase dolorida. Agora entendiam aquela atitude, sabiam que o gaúcho ficava bem insuportável quando frustrado.

Imediatamente Norte o abraça, já tinham tido aquele tipo de conversa, mas o menor estava tendo dificuldades de assimilar tudo. Paraná por outro lado parecia um pouco confuso.

— Mas o Sul disse que vocês se beijaram...?

O loirinho corou por baixo das próprias mãos.

— F-foi.... Mas eu não consegui continuar entendesse.

Não restou o que o menor pudesse dizer, se limitou a suspirar cansado e triste. Não queria ter as férias arruinadas por causa daquilo, mas não queria que Sergipe se sentisse pressionada a nada também, não era justo com ele. Entendia mais do que nunca o gaúcho e sua atitude.

— Olha, vamos descansar agora a tarde, tu pensa nisso mais um pouco e depois a gente vê tah bom? — O paranaense sugeriu com uma tentativa de bom humor na face. — Às vezes é porque foi rápido demais.

— É verdade. — Norte concordou dando um selinho carinhoso na cabeça do surfista. — A gente já conversou sobre isso Gipe. Tem algumas coisas que vais ter que passar por cima entendesse. — Falou suavemente para o namorado.

O loirinho suspirou e assentiu, estava decidido a "passar por cima" como o potiguar havia dito, agora só precisava se concentrar um pouco e se resolver sozinho mesmo. Teria certeza que à noite estaria bem e preparado para tudo. Assentiu mais vigoroso com a cabeça.

— Eu vou fazer isso! — Respirou fundo angariando sua típica animação e bom humor. — Vai ficar tudo bem! — Se levantou de seu lugar indicando que iria sair. — Está na hora de virar a página mesmo. Só preciso pensar um pouco, mas garanto que a noite vai estar tudo bem.

O outro nordestino abriu um sorriso largo, gostava de ver aquela determinação do namorado. Está certo que geralmente era para ganhar uma prova de surfe ou algo assim, não pra transar. Mas tá valendo.

— Está combinado Gipinho. — O potiguar também se levantou e lhe deu outro selinho na cabeça.

— Estamos aqui se precisar conversar daí. — Paraná adicionou ao momento.

— Obrigado vocês dois. — O sergipano apontou para a saída voltando ao seu estado tímido. — E-eu vou lá então.

Norte e Paraná observaram enquanto ele saía a passos alegres.

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