É meio tarde pra isso

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— Hãm... Tô vendo que hoje chegaram cedo... — Catarina comentou ao chegar de manhã em seu horário habitual. Sul, Paraná e Sergipe já estavam na sala trabalhando.

— Bom dia Catarina.

— Bom dia!

— Bom dia guria.

Os três cumprimentaram a mulher sem desviarem muito do que estavam fazendo.

— Bom dia guris.

Correspondeu educada ao cumprimento. Sentou em seu lugar e tentou se concentrar em seu computador, mas a todo momento lembrava de sua descoberta sobre os Rio Grande. Não havia superado, nem sabia se superaria aquilo.

Inevitavelmente Sul percebe os olhares que a loira não conseguia evitar de lhe lançar. Propositalmente cruza olhares com ela, a catarinense cora um pouco e desvia o olhar sem saber muito o que fazer. O maior suspira e se levanta indo em sua direção, se inclinando para serem discretos a fim de não atrapalhar a concentração flutuante do nordestino.

— Eu sei que tu ficou sabendo de mim e do Norte guria. — Viu a mulher ter um sobressalto com a abordagem tão direta e certeira do assunto. — O mano me falou que tu, Matinha, São Paulo e Maranhão sabem. — Sul por outro lado não tinha indícios de vergonha na cara. — Tu quer perguntar alguma coisa? Falar algo? Ou prefere que ignoremos completamente o assunto? — Estava sendo gentil e falava suavemente, queria resolver o desconforto entre eles.

A proximidade necessária para se falar baixo estava deixando SC um pouco desconfortável, na verdade qualquer lugar e momento que lembrasse daquilo se tornaria desconfortável.

— Ai guri. — Tampou o rosto com as mãos, suspirando. — Eu te conheço há bastante tempo pra querer questionar tuas decisões morais agora. — O encarava de volta tímida. — Mas caramba, teu próprio irmão? Como que chegou nisso?

O barbudo tratava aquela conversa com seriedade. Se agachou ao seu lado para nivelarem melhor os olhares.

— Primeiramente, isso não é e não foi uma decisão unilateral. Quero deixar isso muito claro. — Ela baixou as mãos e fez uma cara que dizia que isso era o óbvio. — Segundo, eu não tenho muito como explicar de forma simples e resumida além de ser fogo no rabo mesmo. — Deu de ombros desviando um pouco o olhar, finalmente demonstrava algum tipo de vergonha. Suspirou e voltou a encara-la. — Norte e eu sempre fomos muito próximos guria, daí foi meio que natural que não tivéssemos restrições com isso também néh. Ainda mais depois de toda aquela crise que eu passei no início com o Paraná e tudo mais. E a gente ficou um bom tempo sem se ver antes disso, acho que isso meio que resetou algumas coisas na nossa cabeça...? — Deu de ombros novamente, em dúvida. — Mas a questão é que deu certo de certa forma. E não é como se quiséssemos manter esse relacionamento por um longo tempo. Como eu disse, é bem fogo no rabo mesmo. — Suspirou cansado, não tinha mais o que falar. — Esclarecido?

Catarina apoiou uma mão na própria bochecha demonstrando ainda estar encabulada com o assunto e levemente decepcionada com aquilo.

— O suficiente.

Respondeu desistindo de tentar entender ou convencer de qualquer outra coisa. Ambos eram adultos conscientes e tinham parceiros devidamente informados e envolvidos naquilo e não era como se precisasse interferir realmente, tento em conta que eles não estavam nem aí para as ideias comuns de moralidade e castidade.

— Mas como sempre, eu preferia não saber. — Finalizou com um toque de bom humor na voz.

— Heh, é meio tarde pra isso guria. — Se levantou satisfeito e com um sorrisinho na cara. — Desde o início não era realmente pra tu saber de nada. Pensa nisso como só mais um detalhe da coisa. — Se afastava quando complementou divertido. — Ou melhor, não pensa mais nisso. Esquece tudo de uma vez. É melhor pra ti guria.

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