Porquinho

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— Vem cá Sergipe, agora tem que lavar os cavalos e dar feno pra eles. — Sul falava enquanto os dois se aproximavam do estábulo. — Só passar uma água neles pra tirar o sal do suor. — Esclareceu descendo de Faceiro e o amarrando num dos palanques da cerca.

O loirinho imitou o cunhado e se virou novamente para ele esperando mais instruções. O gaúcho viu aquilo e esperneou internamente por não poder beija-lo no momento. Se aproximou e simplesmente começou a desamarrar a encilha de Raio.

— Tchê, pode ir colocando as coisas ali que depois eu guardo no lugar. — Apontou com o queixo rapidamente para uma das muretas do local.

— T-tá! — O menor prontamente concordou pegando as peças que já lhe eram entregues.

Quando acabou Sul puxa a montaria do surfista para uma área de banho específica e o amarra no lugar.

— Pega aí a mangueira Gipe. — Mandou apontando para o objeto e já procedendo em abrir a torneira. — Começa molhando as patas, sobe pelas pernas e só depois molha por cima tah guri. — Viu o menor deixando a água escorrer com cuidado no cavalo, precisou rir um pouco, ele era muito fofo. — Pode botar pressão piá. Pra tirar o sal mais rápido. Que nem lava carro mesmo, isso não vai machucar ele. E presta atenção que ele pode querer se mexer, daí tu te mexe junto, não deixa ele te pisar. — Se aproximou do cavalo e deu tapinhas carinhosos no pescoço. — Ele é meio porquinho. Não gosta muito de banho.

Mal o gaúcho terminou de falar aquilo e foi molhado sem querer pelo menor, ele havia se atrapalhado na hora de colocar o dedo na ponta da mangueira para fazer a pressão da água. Se encararam desacreditados do ocorrido.

— Aimeudeus! Sul! Me desculpa! — Sergipe quase desesperava se desculpando, geralmente não era tão desastrado assim, mas toda a situação entre eles havia feito aquilo consigo.

O barbudo passou a mão na cara tirando o excesso de água e encarou o outro, seu desespero amoleceu o coração gaúcho e sorriu divertido.

— Tudo bem piá. Foi uma molhadela de nada, logo seca. — Apontou para o cavalo mandando. — Continua aí.

— Desculpa.

Sergipe murmurou mais uma vez e obedeceu. Mas seus olhos insistiam em ser atraídos para o peito do sulista, com a camisa molhada e o tecido transparente, estavam mais delineados que antes, fora os botões abertos. Mordeu a boca tentando se concentrar.

Raio ajudou um pouco ao se mexer e obrigar o surfista a acompanhá-lo, porém assim que o animal se acomodou novamente no lugar seu olhar flutuou novamente para o cunhado. Seu coração disparou ao ver que ele decidira tirar de uma vez a peça de roupa. Virou bruscamente o rosto para a atividade que fazia. Inutilmente. Voltou a olhar para o barbudo e sem querer cruzou olhares, imediatamente ficou um pimentão e logo a culpa pesou, agora por ser tão contraditório, já que pouco tempo antes o rejeitara.

— Tchê. O cavalo já tá quase perdendo o pelo desse lado de tanto que tu joga a água, já pode ir pro outro piá.

Será que ele não havia percebido? Sergipe tentou se enganar, mas sabia que era impossível do maior não ter visto seu rosto incandescente. Ele sim que estava fazendo sua parte e mantendo a palavra de não fazer avanços e lhe esperar.

— T-tá! — Obedeceu respirando fundo, ainda não estava pronto para mais intimidades com o barbudo. Ainda não.

Rodeou a bunda do Raio e continuou o banho dele.

— Presta atenção Gipe. Nunca mais faça isso.

Sul se aproximou sério assustando um pouco o nordestino que ficou estático no lugar. Será que ele ficou bravo porque o estava encarando muito? E ainda por cima não deixando ele o tocar? Droga! Será que conseguiu arruinar tudo? O maior se posicionou do outro lado do cavalo, distante, mas ainda assim próximo demais para o coração agitado do sergipano.

— Não passa desse jeito pela bunda dos cavalos, deu tudo certo porque é o Raio.

O surfista quase suspirou aliviado, não era nada a ver com sua rejeição anterior, nem seus olhares desavergonhados.

— Mas tu não tava prestando atenção nele neh guri. Vai que ele te dá um coice? — Suavizou um pouco a voz ao ver a cara assustada do loirinho. — Faz assim ó. — Apoiou a mão na garupa do animal e passou com o braço esticado indo para o outro lado. — Isso são os meus cavalos neh guri. — Enfatizou.

Trocou de mão e mudou o lado demonstrando de novo a manobra.

— Sempre atento na orelha dele lá ó. — Apontou para a cabeça do bicho. — Se ele grudar pra trás tu te afasta que é porque ele quer agredir. — Se afastou um pouco olhando para o menor. — Entendeu?

Sergipe assentiu timidamente com a cabeça.

— Isso é questão de segurança piá. — Lhe ofereceu um sorriso aliviando a tensão que acabou se formando. — O que acontece é que eles não enxergam exatamente aqui atrás neh, então quando tu coloca a mão na bunda deles tu tá avisando que você tá ali. E no caso dos meus cavalos eu montei a confiança que não vai acontecer nada com eles se eu fizer isso. Mas daí tu tem que avisar neh. — Deu um tapinha na bunda do animal fazendo dar um pequeno sobressalto. — Como o Raio é cavalo velho ele já sabe dessas coisas e não vai fazer besteira, mas se fosse a Atrevida era bem capaz dela te coicear.

— E-entendi.

— Agora acaba logo aí pra eu lavar o Faceiro e a gente ir acender a churrasqueira.

Sul sorriu largamente agora, animando o loirinho.

— Sim! — SE se concentrou em sua tarefa e logo finalizou. Apesar da monumental distração que era o cunhado sem camisa.

Assim que o menor saiu puxando Raio o gaúcho já trouxe Faceiro e rapidamente o banhou. Logo os cavalos estavam acomodados em suas baias comendo feno e os dois rumaram para a casa. 






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 O Gipe todo inseguro ai tadinho ;-; 

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