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1h e meia depois...

Acordo a S/n e vou para o banheiro tomar um banho rápido. Eu estava triste sim, mas não conseguia derramar uma lágrima se quer.

Escolho uma roupa toda preta, que foi o que todo mundo combinado.

Coloco meu colar de cruz, nunca saio sem ele. Calço um tênis branco e desço.

Vou até a porta do quarto e bato na mesma.

— Bora?

Escuto a porta ser destrancada.

Ela vestia uma meia calça preta, um vestido colado de mangas compridas preto, e uma bota preta.

S/n: Assim tá bom?

— Tá linda.

S/n: Quase que esqueço minha bolsa. - ela corre até a cama e pega sua bolsa.

No caminho, ela foi dando um jeito em seu rosto. Passando um pouco de pó para tampar algumas manchinhas arroxeadas que ainda estavam ali.

S/n: O velório vai ser aonde? - diz enquanto passava um pouco de brilho em sua boca.

— No Maracanã.

Chegando perto do local, havia uma fila de carros, era impossível de achar vaga.

— Desce aí que eu vou procurar uma vaga. - paro o carro em frente a porta e ela desce. - Me espera lá dentro.

S/n: Eu tenho vergonha amor.

— Beleza então, me espera aí.

Rodo mais um pouco, até que finalmente acho uma vaga. Desço e ando uns 4 minutos mais ou menos. Ainda era de madrugada, e as ruas estavam completamente vazias.

— Vamos. - ela segura no meu braço, que continua dentro do bolso da minha calça.

Na entrada tinha várias fotos do Denir e algumas coisas escritas que não parei para ler direito. Tem gente que gosta de ir em velório, e com certeza, eu não faço parte desse meio.

Encontro meu pai, a Dhiovanna e minha mãe, conversando entre si. Tento avançar para ir até eles, mas a S/n soltou o meu braço e continuou ali parada.

— Que foi agora?

S/n: Nada, pode ir lá conversar com eles, eu espero aqui.

— E por que você não vem junto comigo? É a minha namorada e meus pais gostam muito de você.

S/n: Mas a sua irmã não.

— Deixa disso. - seguro sua mão e saio a puxando. - Bença pai. - beijo sua mão. - Bença mãe. - faço o mesmo.

Pai: Oi meu filho. Olá S/n, tudo joia? - da um sorriso simpático.

S/n: Oi oi. - aperto sua mão e a da minha mãe.

Dhiovanna: Eu vou ali na cozinha, mãe. - a olha de cima a abaixo e sai.

S/n: Viu? - sussurrou em meu ouvido.

Apenas respiro fundo.

— Bom, eu vou lá.

Mãe: Só toma cuidado pra não...Você sabe.

Faço um sim com a cabeça e me direciono devagar até o caixão.

S/n: Licença, eu vou lá com ele. - diz e vem até mim.

Chego até o caixão e meu coração se aperta ao ver o Denir ali. Nem dá pra acreditar, esses dias ele estava na porta do vestiário, e hoje...

Passo a mão sobre meu rosto, meu coração estava apertado demais.

Sinto um toque leve, uma mão se encostando na minha, nem precisei olhar, já sabia quem era.

Fico pouco tempo ali o observando, já estava me dando enjoo, então me sentei em uma das cadeiras junto com a S/n. Eu estava cansado, não consegui dormir nem um pouco.

S/n: Amor, por que você não deita um pouco? Seus olhos estão bem vermelhos, com certeza você não dormiu nada.

— Bem que eu queria.

S/n: Faz isso então, vai lá.

— Melhor não.

S/n: Quer que eu fique com você? Você precisa descansar Gabi.

— Tudo bem, é naquela segunda porta à esquerda, já pode ir indo pra lá. Eu só vou tomar uma água primeiro.

Me levantei e fui até a cozinha, chegando lá dei de cara com a minha irmã.

Dhiovanna: Sério Gabi?

— Sério o que? - pego um copo descartável e começo a enche-lo de água.

Dhiovanna: Você ainda tá com essa garota? - não digo nada, apenas termino de beber minha água e jogo o copo na lixeira ao lado do bebedouro. - Falei com você. - estralou os dedos.

— Eu não estou a fim de discutir com você agora.

Dhiovanna: Você ficou esse tempo todo sem falar comigo direito por causa dela Gabriel! Que coisa mais ridícula.

— E você queria que fosse diferente? A minha namorada nunca te fez nada e você trata ela assim?

Dhiovanna: Não fui com a cara dela, simples! Eu não boto fé nenhuma nessa menina. - cruza os braços. - Tô te falando, você ainda vai se arrepender.

— O que foi que a Rafaella inventou pra você?

Dhiovanna: Do que é que você está falando?

— Vai se fazer de sonsa agora? - ela até abriu a boca para responder, mas desistiu. - Olha, dá próxima vez que você tratar ela dessa forma, eu juro que agente vai brigar feio. Não sei por que você está agindo desse jeito, parece que não teve educação em casa!

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, eu sai dali. Minha cabeça já estava estralando de tanto doer. Entro na sala em que o Denir costumava massagear agente sempre que tinha jogo ali. E eu sempre me sentava na mesma cama, que era a terceira da esquerda pra direita, que era justamente a que a S/n estava sentada.

S/n: Aqui é enorme né?

— É sim.

Me deito e ela logo se aproxima de mim, fazendo carinho no meu cabelo. A cama era um pouco grande, a S/n não ocupa muito espaço, então a puxei para que se deitasse também.

S/n: Será que ninguém vai entrar aqui?

— Acho difícil, pelo que fiquei sabendo, mais pra trás eles deixaram algumas camas pra quem quisesse deitar.

S/n: E você prefere ficar aqui.

— Prefiro, tenho boas lembranças... - fecho meus olhos, aproveitando o carinho dela.

——————

Chegou a hora da despedida final.

Era lamentável ver a situação dos filhos dele. Meu pai também chorou, tinha um enorme carinho pelo Denir.

Eu só queria que aquilo terminasse logo, era muito sofrimento.

Todos nós do elenco do Flamengo nos aproximamos e fizemos uma roda na terra, ao redor do caixão, colocamos nossos braços ao redor do pescoço de cada um, abaixamos a cabeça e começamos a orar.

— Pai nosso que estás nos céus... - puxei

Todos: Santificado seja o vosso nome, veja a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixei-is cair em tentação, mas livra-nos do mal, pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre, amém.

Estendo a minha mão ao caixão já tampado e imagino como se ele tivesse apertado ela, como sempre fazia antes dos jogos, logo depois a levei até a minha boca e deixei um beijo nela. Volto para perto da S/n, que me abraçou.

Ficamos ali vendo enquanto os coveiros enchiam o buraco de terra, cimento e algumas placas de gesso.

Tela Quente - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora