Capítulo 12- livros

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Ketlyn

Fecho meu diário de dias ruins, escrevi sobre o que aconteceu ontem. Eu escrevo neste caderno desde que aprendi, toda vez que algo ruim acontece eu anoto, é como tirar aquela dor de mim e colocar na folha, é uma pena que não funcione.

Esse é um dos poucos itens de valor que tenho, quando mamãe morreu meu pai queimou tudo que era dela, até mesmo documentos. Eu só sei o primeiro nome dela, e o que me contam a seu respeito.

Ela era filha única, quando se tornou de maior foi morar em Boston para estudar, mas sua mãe morreu então seu pai entrou em depressão e fez diversas dívidas das quais não podiam pagar. Então minha mãe foi um desses pagamentos, meu pai achou ela bonita e inteligente, logo decidiu que aquela seria a pessoa perfeita para gerar seu herdeiro, mas a partir daí a coisa complicou.

Nunca tive bonecas, ou brinquedos, livros eram tudo o que eu tinha, e ao mesmo tempo não tinha.

Desde que Carlos e Marianne me ensinaram a ler e escrever, eu me apaixonei por livros. Eu nunca fui à escola, meu pai não permitia, ele achava que assim descobririam a minha existência e que estudar não era algo que eu merecia.

Marianne sempre dava um jeitinho de passar na biblioteca e pegar livros para mim. Tudo que aprendi foi lendo, aprendi matemática básica, história e algumas outras coisas que ensinam nas escolas.

Mas sem dúvida os livros de romance sempre foram meus preferidos, a magia que eu sinto ao ler é inexplicável, eu sinto que estou dentro da história.

Às vezes eu gostava de fingir que eu realmente era a protagonista daquela história, mas quando chegava à última página percebia que aquela não era a minha história, que aquilo foi escrito por uma pessoa e que aquele casal sequer existia.

Eu preciso escrever a minha própria história, a da minha vida. Mas como? Como eu posso escrever a minha história da forma que eu quero, se toda a minha vida até este momento foi forjada pelos outros?

Era possível escrever um futuro sem que o passado interferisse?

A verdade é que eu sei quem sou, mas ao mesmo tempo não sei o que serei.
É como uma frase que li quando tinha doze anos em "Alice no país das Maravilhas" dita por Lewis Carrol.

"Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então."

Eu preciso me desprender desse lugar, dessas pessoas. Se eu quiser um futuro, ao menos um futuro que não seja igual ao passado, eu preciso fazer algo no presente.

Eu sou invisível, mas queria ser vista.
Eu sempre fui fraca, mas queria ser o contrário.
Eu estou presa, mas anseio a liberdade.
Eu sou controlada, mas queria comandar.
Eu fiquei machucada, mas preferia ter recebido amor.

Agora para azar de alguns eu serei vista, serei forte mesmo que machuque, tão livre quanto o vento, vou controlar quem me controlou e sou eu quem vai machucar.


Notas da autora

Oiiii, hoje eu trouxe um capítulo sem diálogos, eu confesso que adoro os diálogos da história mas é importante para o desenvolvimento mostrar os pensamentos de Ketlyn.

O que vcs acharam dessa nova Ketlyn?

Bjs💓

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