Capítulo 21 - Regras de Sangue

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Ketlyn

Dez meses depois

  Eu nunca pensei que diria isso, mas me acostumei ao cheiro de sangue. Já era como uma rotina, como cheiro do café fresco de manhã.

  Vinte e três. Contando com o homem à minha frente, prestes a conhecer a morte. Vinte três pessoas era o número de pessoas, de vidas, com as quais “trabalhei” nos últimos dez meses.

   Às vezes com Carlos, e nas outras sozinha. Se somássemos os serviços que meu amigo fez sozinho, teríamos um número ainda maior.

  Os serviços variam de nomes importantes a pessoas comuns, somos contratados por ricos sujos que pedem esses “favores” ao Sr. Brown.

  Era estranho como eu mudei, como fui mudada, me tornei fria como um bloco de gelo, bem como o Sr. Brown previu.

   A única pessoa que tinha acesso, a um pouco de calor meu, era Carlos. Ele é minha única família. Faz muito tempo que não vejo Marianne, ela não tem noção de nada disso, e seu filho tem vergonha de quem se tornou.

   Trabalho, atrás de trabalho. Era assim que devíamos chamar as vítimas, sempre de trabalho ou serviço. Eu já havia decorado as regras, costumo chamá-las de “Regras de Sangue”. E se você contrariá-las, o nome já diz tudo.

     Regra n°1 - Nunca se refira às vítimas como vítimas ou pessoas, sempre como trabalho ou serviço.

   Regra n°2 - Ninguém além de você mesmo deve saber sobre seu serviço.
 
   Regra n°3 - O assassino(a) não tem permissão de ir a eventos públicos e fazer aparições, a menos que seja designado pelo Sr. Brown.

   Regra n°4 - Deverá sempre usar a máscara e jamais dizer seu nome, ou qualquer informação pessoal.

  Regra n°5 - Todo e qualquer serviço que for designado pelo Sr. Brown, independente da forma de execução, deve ser feito.

  Regra n°6 - Qualquer um, que por descuido, testemunhar um dos serviços ou descobrir qualquer informação, deverá ser morto.

  Na maioria das vezes, o nosso trabalho envolvia apenas a parte suja, o sangue. Geralmente os sequestros, sumiços e desculpas para encobrir a morte eram organizados pelo Sr. Brown.

  — Você vai ficar parado aí enquanto ela faz o trabalho sozinha? Você é tipo um assistente dela ? — A risada insuportável do homem amarrado rompeu pela sala.

  Me aproximei mais uma vez, apertando a adaga ao pescoço saliente e esbranquiçado do idiota.

Não devemos conversar nem mesmo responder, mas o Carlos detesta assistir tortura, e que comparem a gente a qualquer coisa, isso inclui o deboche desse idiota.

  O Sr. Brown fez o favor de exigir que cortassem a cabeça fora, e que não houvesse tiros. Esse era um exemplo das exigências malucas que tínhamos que cumprir.

Ah merda vou ter que decepar um homem com uma adaga! Não tem nada melhor por perto.

Golpeio a cabeça para que desmaie, e tampo a boca com fita. Deslizei levemente a lâmina contra a pele, o líquido vermelho marfim desce lentamente.

   — Ketlyn por favor, você não vai mesmo arrancar a cabeça dele com uma adaga, né? — Carlos perguntou ao fundo da sala.

   Me viro em sua direção, apoiando as mãos na cintura.

  — Ah claro, vou cortar com um revólver ou com cordas então!? Não há mais nada além da adaga, nós devíamos ter lembrado desse detalhe antes, agora já é tarde. — Finalizo voltando minha atenção ao corpo amarrado à cadeira.

  — Simples, eu vou atirar. — Falou como se não estivesse nem aí.

Volto mais uma vez a minha atenção ao meu parceiro.

  — É exigência do chefe, melhor fazer do jeito que ele pediu.

  — E o que raios alguém vai fazer com uma cabeça?! Mandar empalhar e usar de decoração? — Disparou impaciente.

— Olha eu sei que você detesta essa parte, por isso pode fechar os olhos, eu vou fazer. — Disse me preparando para o sangue que estava por vir.

  Carlos definitivamente detesta essa parte, eu também não gosto, então sempre que preciso fazer eu começo a pensar em algo que me distraía.

  As cartas. Quem tem mandado elas? Por que para mim? Quem é o meu stalkear?

  Depois da primeira carta as outras vieram quase iguais. Sempre tinham uma frase curta na mesma caligrafia, com uma tiara desenhada e o “W” no canto.

  As mensagens eram diferentes, foram 8 ao todo.

“ Feliz aniversário princesa “

Um raio nunca cai duas vezes na mesma árvore.
   Não se engane princesa.”

“ Promessas são como diamantes, se lembra ? “

  “ Memórias, são momentos bons ou ruins que guardamos, e eu guardei você.“

  “ O vermelho me invadiu feito uma droga, virou fascínio e motivo de lembrança, essa é sua cor favorita. “

  “ Pode tentar se esconder, mas não pode fugir “

“ O tempo está voando princesa!
   Tic-tac, tic-tac seu tempo está se esgotando.”

“ Não sinta medo… “

 
  Sempre recebo uma por mês, e depois da segunda eu tive certeza de que não era um engano como havia pensado antes.

  Me assusto distraída por meus pensamentos, tem sangue jorrando por todo lado. O barulho da cabeça caindo dentro do saco que Carlos amarra, foi o que me tirou da minha mente.

  Arhg! Que nojo, meu estômago se embrulha com a imagem à minha frente. Sangue e mais sangue pintando toda a roupa e piso em volta.

  Trabalho feito.

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