Capítulo 29 - A janela

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Ketlyn

" - Sente-se Ketlyn, você quebrou um vaso de valor inestimável. - A voz rouca e tomada por raiva do papai me assustava.

Olho para o chão nervosa vendo meus pés balançando sem tocar o chão. Hoje era meu aniversário, mas ele deve ter esquecido.

- E você - Disse apontando para Carlos - Devia estar de olho nessa peste, da próxima vez que ela fizer algo de errado eu vou demitir sua mãe! E vocês vão pra rua!

Ele esbravejava enquanto meu amigo se encolhia em sua cadeira, eu não gostava que ele gritasse com Carlos. Ele era legal e cuidava de mim, e a culpa não foi nossa.

- Nickolas! Explique direito o que aconteceu! - Gritou com meu irmão.

Eu não olhei para trás, não queria olhar nos olhos de Nick.

- A Ketlyn bateu no vaso e deixou ele cair. - Sua voz era firme, nem parecia estar mentindo.

Era mentira! Carlos e eu estávamos brincando, Nick havia esbarrado no vaso enquanto corria, o vaso caiu e quebrou.

- Saiam todos! Ketlyn fica! - Sua voz retumbou pelo escritório.

Ele avançou em minha direção, meus olhos queimavam e senti o medo tomar conta de mim.

Eu corria e chorava, mas ele vinha atrás e de repente ouço o estalar do cinto em minha pele, tudo doía..."

Minha respiração está desregulada, meu peito bate em uma frequência explosiva. Lágrimas por meu rosto. Meus olhos queimam, minhas unhas cravaram contra minha pele.

Abro os olhos vendo apenas o silêncio e o escuro do quarto. Não foi real.

Foi um sonho, ou melhor, um pesadelo.

Meu choro preenchia o espaço, eu não sabia o porquê chorava, mas era melancólico feito uma criança.

Me acalmo, foi apenas um sonho, uma lembrança do meu aniversário de cinco anos. Foi a primeira vez em que ele me bateu, eu nunca esqueço esse dia.

Eu estou bem, penso comigo mesma, só preciso me distrair do sonho. Olhar para a noite sempre me acalma, avisto a janela.

Meu corpo trava mais uma vez, a respiração desregulada se torna um pulmão cheio do qual o ar não sai mais.

Uma figura alta, forte e mascarada. Na minha janela.

Uma figura alta, forte e mascarada. Na minha janela.

Uma figura alta, forte e mascarada. Na minha janela.

UMA FIGURA SOMBRIA ALTA E FORTE NA PORRA DA JANELA.

O ser misterioso desaparece da janela. E meu instinto me faz sair da cama com tudo, abrindo a janela sem pensar duas vezes.

Oh céus, o que deu em mim?

Tenho apenas minha fiel adaga em mãos e nada além dela e meu pijama, em meio a fria noite.

Eu estou de pijama na rua no meio da noite.
Olho para os lados desesperada, para onde ele foi?

Avisto a sombra dele, caminhando lentamente e sem pressa como se não fosse nada demais ficar observando pela janela uma mulher, uma desconhecida, chorando no meio da noite.

Acelero meus passos, sem fazer barulho. Sinto o asfalto agora frio da calçada sob meus pés, e meu peso completamente equilibrado entre as pontas dos dedos e o calcanhar.

Adrenalina correndo por minhas veias, a sombra dobra a esquina e tento acompanhar. Paro na esquina olhando para o lado da rua vazia e escura.

Não há ninguém, mas eu não estou ficando louca! Eu vi alguém, eu não estou sonhando ou dormindo.

Confiro mais algumas vezes, mas realmente não há nada. Deve ser sono, começo a caminhar em direção a casa, eu tenho certeza do que vi, mas também tenho certeza de que sumiu.

Entro pela janela, mas não vou dormir nesse quarto nem que me paguem.

Pego um cobertor e um travesseiro e coloco por baixo de meus braços. Vou dormir no chão, porque prefiro morrer de frio no chão duro do que dar de cara com o maluco no meu quarto.

Abro a porta e sigo para o quarto principal da casa, Carlos que se lasque, eu não vou dormir sozinha. Arrasto a porta levemente, ele está esticado dormindo na cama. Arrasto minhas coisas e me deito no chão ao lado.

Está frio, mas pelo menos não vou morrer por um Serial Killer. Me aconchego em meio ao cobertor grosso.

Pensando bem, é melhor eu não ficar paranóica com isso, meu psicológico já é uma merda, se eu for sentir medo vou piorar tudo.

Mas pensando na paranóia, o maluco tá me copiando, ele usava uma máscara preta, com um olho azul claro, e o outro azul bem escuro com uma rachadura. Ele copiou a minha!

No que eu estou pensando?!?!
Eu realmente não tô bem, tinha um idiota na minha janela e eu estou pensando em como a máscara dele parecia a minha.

Meus olhos estão pesados, o sono está tomando conta de mim.

- Tá fazendo o quê aqui pequena ? - A voz sonolenta e confusa do meu amigo surge em meio ao caos do meu cérebro - Ah, pesadelos.

A luz é acesa de repente, levo a mão em meus olhos tentando me acostumar a claridade. Carlos desce da cama e vai em direção ao aparador, sem dizer nada ele derrama a água de uma garrafa em um copo.

- Beba água - ele indica me oferecendo o copo - levanta por favor.

Me levanto e ele puxa o cobertor e travesseiro, arrumando ao seu lado na cama.

Quando era criança tinha muitos pesadelos, Carlos sempre dormia no meu quarto ou passava a noite acordado brincando comigo quando acontecia. Depois dos oito anos eu simplesmente parei de ter sonhos.

- Não vou deixar você dormir no chão, deita aqui do lado. - diz com a voz ainda carregada de sono.

Pulo para a cama, me acomodando em meio às cobertas, apoio o copo na cômoda ao lado assim como a adaga que estava ao meu lado no chão.

A escuridão toma conta do ambiente, e posso sentir meus olhos agradecendo isso.

- Me conte o que aconteceu no seu pesadelo. - Fazia tanto tempo que não escutava essa pergunta.

- Foi meu aniversário de cinco anos. - Minhas palavras sumiam devagar no final da frase, ele estava no dia, vai se lembrar do que estou falando.

- Fique tranquila pequena - fala alcançando minha mão no escuro e a segurando - Ele não está aqui, ninguém nunca mais vai te machucar.

As palavras estão presas a minha garganta, o aperto em meu peito me forçando contar sobre a janela.

- Quando eu acordei eu vi algo na minha janela - ele aperta minha mão indicando que continue - Parecia um homem, era forte e alto, com uma máscara no rosto, mas ele sumiu.

- Deve ter visto coisas, nenhum maluco ficaria observando alguém dormir pela janela e simplesmente sumiria. - Ele me explicou calmamente.

- Eu estou cansada, cansada de tudo. - As palavras me fogem a boca sem querer.

Ouço um suspiro, um suspiro exausto.

- Eu também estou, cansado de ter que mentir para todos - suavemente sinto ele se deitar ao lado, sem largar minha mão - Mas ele disse que este seria nosso último serviço, é só terminar com isso tudo logo, e finalmente teremos um pouco de paz.

- Boa noite. - Digo baixo, mas acho que ele já dormiu.

Me deito também, se eu quiser acabar com toda essa loucura logo é melhor eu fazer o serviço o quanto antes.

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