S̶t̶a̶l̶k̶e̶r̶ Henry
Deslizo a folha por meus dedos, virando a página do livro. Mas sou interrompido por um barulho.
Olho para frente, vendo os lençóis se mexerem. Então, ela se levanta. Parece confusa e atordoada, olha para os lados e passa as mãos pelos cabelos.
Seu olhar cai em mim, os olhos profundos e escuros focados nos meus.
Corto o contato visual, voltando o foco para o meu livro.
- Bom dia, Ketlyn.
Vejo-a se levantar da cama, colocando os pés descalços no chão, e cambaleando enquanto olha ao redor. Seu cabelo está bagunçado e o pijama azul que usava está amassado.
- O que aconteceu? - pergunta.
Fecho o livro em minhas mãos e me levanto da poltrona no canto do quarto.
- Você dormiu, abaixou a cabeça e simplesmente dormiu - respondo, rindo da expressão confusa e do rubor que toma conta de seu rosto.
- Que horas são? - questiona, cruzando os braços.
- Seis da tarde - digo.
Ela imediatamente olha para as janelas, tomando consciência de que dormiu por quase dezenove horas seguidas. Realmente, ela não mentiu, devia estar há dias sem dormir direito. E o álcool ajudou.
Ela começa a caminhar em direção à porta, mas entro em sua frente.
- Olha, só, eu agradeço por, ao invés de terem me matado, me acolherem. Mas quero voltar para a minha casa, estou de pijama, com frio, com fome e descalça. Então, por favor, dê licença da porta e me deixe ir - diz entre dentes.
- Acontece que precisamos conversar. Providenciamos roupas limpas que estão no banheiro, sinta-se à vontade para tomar banho. E daqui a alguns minutos mando o jantar - falo apressadamente.
Tudo o que ela faz é me encarar com desdém.
- Não, obrigada. Vou para minha casa - fala, tentando passar por mim.
Infelizmente, não dá mais para esconder a verdade.
- Você não pode ir para casa, porque não tem uma casa - explico.
- O quê...
- O prédio pegou fogo, ninguém se machucou. Mas os bombeiros confirmaram que o incêndio começou no seu apartamento. Não há certeza, mas suspeito que foi intencional. Eu sinto muito - falo.
Seus olhos brilham em lágrimas no mesmo instante. Ela leva uma das mãos ao rosto, como se tentasse impedir o choro de começar.
- Eu não preciso ficar aqui - diz impaciente.
- Ketlyn...
- Vou para qualquer lugar, menos aqui - fala, me encarando com raiva.
Ela é tão teimosa. Por que simplesmente nunca aceita ser ajudada?!
- Ketlyn, seja sensata. Deixe seu orgulho de lado por um momento e pense. Não há para onde ir, suas coisas estão perdidas em meio a cinzas - justifico, e vejo ela mexer no cabelo - Deixe eu te ajudar, não quero nada em troca, não precisa nem mesmo agradecer. Mas só podemos deixar você sair quando tiver um lugar para ficar.
Ela só pode estar ficando louca se prefere dormir na rua. Só queremos que fique, ela não vai negar. Vai?
- Eu durmo na rua - diz, com o nariz erguido.
- Ah, mas você não é nem doida de tentar - provoco.
Ela ergue uma sobrancelha e abre um sorriso. É o mesmo sorriso que ela dá antes de aprontar algo.
- Me. Deixe. Ir - sibila.
Balanço a cabeça negando.
- Por que não fazemos uma troca, então? - ela propõe.
Cruzo os braços à frente do corpo, colocando o livro contra meu peito.
- Pode dizer - falo, interessado no que vai propor.
- Eu fico. Mas, vão me contar tudo o que quero saber - diz.
Eu não vou dizer nada que me comprometa. Mas ela não precisa saber disso agora.
- Tudo bem - concordo.
Começo a caminhar em direção à porta e fecho a mesma, entregando a chave para Karol que aguarda do lado de fora.
Nenhum dos funcionários está em casa hoje, então estamos nos revezando para vigiá-la. Assim, garantimos que ela não vai fugir.
- Ela acordou, pode ficar aqui fora - falo com Karol, e a mesma concorda com um aceno.
Mais tarde.
Retiro uma caneta nova da gaveta e começo a ler rapidamente. Helena me trouxe uma montanha de papéis para assinar, mas, depois de uma hora assinando intermináveis folhas e fingindo estar lendo tudo, já me cansei de assinar.
Agora estou no que parece ser, finalmente, a última folha. Assino o papel rapidamente e o entrego para Helena.
- Sr. White? - ouço Helena me chamando.
- Sim? - respondo.
- Queria te perguntar que fim tomou a situação de ontem, se não for incômodo - diz.
Ela parece com medo da pergunta, mas ainda assim, curiosa.
- Foi uma brincadeira boba, feita por uma pessoa que tinha acesso ao cartão da família. Mas tudo já se resolveu - explico com um sorriso leve.
Helena realmente ficou preocupada em perder seu serviço. Mas não foi culpa dela.
Ela se levanta, pegando os papéis e os reunindo em uma pasta laranja. Seu cabelo repleto de cachinhos escuros cai em seu rosto, mas ela rapidamente os tira.
Minha agente era uma boa pessoa, muito educada e esforçada. O antigo agente era amigo do meu pai e, consequentemente, não ia com a minha cara. Então, troquei por alguém mais competente.
- Obrigada, Sr. White. Tenha uma boa noite - ela diz.
- Boa noite - retribuo, vendo-a sair do escritório.
Me levanto da cadeira dando por hoje fim a tudo que tinha que fazer, agora posso jantar e continuar meu livro tranquilamente.
- Henry! - Marc diz enquanto entra apressadamente.
- O que foi? - pergunto, esperando a bomba cair.
Lá vem merda, posso até sentir.
- Ela fugiu - responde.
- Puta que pariu - resmungo, correndo para fora do escritório.
Marc me acompanha, e logo vejo Karol vindo em minha direção.
- A sua princesa fugiu da torre - disse Karol.
Noto o deboche em sua voz, ela parece frustrada.
- Ela me tapeou. E eu desisto. Tô cansada de ser babá de uma maluca imprudente - assume, balançando os braços no ar.
Vejo-a seguir frustrada para o andar de cima.
- Ela é impossível - diz Marc, procurando por uma janela aberta no quarto em que Ketlyn estava.
Ela não fugiu pelas janelas, estão todas trancadas.
- Ela é - afirmo.
Definitivamente, ela gosta de desafiar.
Notas da autora
Oi meus amores, tudo bem?
Sentiram falta das minhas notas nos últimos caps? RsrsrsEnfim, tô de voltaaaa 🤪 e nos próximos capítulos teremos muiiiitas surpresas
Bjjjs💓
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Revenge
Roman d'amourRevenge - As duas faces de uma lâmina "𝓟𝓻𝓲𝓷𝓬𝓮𝓼𝓪, 𝓞 𝓹𝓪𝓼𝓼𝓪𝓭𝓸 𝓿𝓮𝓲𝓸 𝓽𝓮 𝓬𝓸𝓫𝓻𝓪𝓻 𝓬𝓸𝓷𝓽𝓪𝓼, 𝓮𝓵𝓮𝓼 𝓺𝓾𝓮𝓻𝓮𝓶 𝓿𝓸𝓬𝓮̂! 𝓠𝓾𝓮𝓻𝓮𝓶 𝓺𝓾𝓮 𝓹𝓪𝓰𝓾𝓮 𝓹𝓮𝓵𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓯𝓻𝔃, 𝓮 𝓮𝓾 𝓺𝓾𝓮𝓻𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓿𝓸...