Capítulo 11

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Suas botas faziam eco pelo corredor.

Ela corria tentando achar a saída. Mas não fazia ideia para onde estava indo.

Parou em uma bifurcação se decidindo para qual lado seguir, escolheu a esquerda.

Correu por mais alguns metros.

Nessa parte as paredes mudaram para um cinza encardido, o chão não estava mais polido e a iluminação piscava com frequência nos pendentes presos ao teto.

Penelape diminuiu o ritmo para um caminhar acelerado, prestando atenção ao seu entorno.

O barulho abafado de um choramingo chamou sua atenção. Seguiu o barulho, este ficando cada vez mais perto se misturando com grunhidos e lamúrias de dor.

Parou em frente a uma porta de ferro pesada. A empurrou com dificuldade e se viu em outro corredor.

A iluminação amarelada e escassa, formava sombras disformes pelas paredes. Portas aos dois lados, iguais aquela que havia aberto a pouco, com minúsculas janelas.

Ali o som abafado dos choros preenchiam seus ouvidos. Penelape deu um passo em direção a uma das portas curiosa, mas sua pele se arrepiou com a sensação de dejavu.

– Já estive aqui antes – falou para si mesma.

Engolindo seu nervosismo, se aproximou de uma das janelas e espiou através do vidro.

Seus olhos piscaram tentando se acostumar com a iluminação escassa. Olhou ao redor no cômodo. Suas mãos apoiadas na porta fria de metal, sua respiração embaçando o vidro a sua frente.

Em um colchão minúsculo ao chão, uma mulher estava deitada encolhida de costas para Penelape. Suas roupas pareciam encardidas, seus cabelos se derramavam por suas costas.

A mulher pareceu sentir que estava sendo observada, e se remexeu no colchão. Um gemido fraco de dor escapando de seus lábios.

Penelape ouviu o tilintar de correntes com o movimento, e notou que um de seus tornozelos estava acorrentado. A corrente chumbada à parede.

Ela recuou.

Que porra estava acontecendo ali? Pensou.

Decidiu se aproximar da porta seguinte. E espiou pelo vidro.

Um garoto estava de pé no meio do cômodo. Sua cabeça pendendo para frente, fazendo seus cabelos cor de ferrugem cobrirem seus olhos. Suas roupas pareciam desgastadas e largas em seu corpo pequeno e magro. A corrente envolta de seu tornozelo o mantinha uma distância segura da porta. Seus lábios mexiam murmurando algo incompreendido por ela.

Penelape se aproximou mais da porta tentando ler seus lábios, mas acabou batendo sua bota contra a porta de metal.

O garoto levantou o rosto em sua direção e Penelape levou as mãos até a boca reprimindo um grito com o que viu.

Seus olhos haviam sido arrancados. No lugar, dois buracos ocos rodeados por vários cortes grotescos deformavam seu rosto.

Ele recuou alguns passos e tropeçou em sua própria corrente, caindo de costas no chão.

Penelape ouviu seus ossos baterem no piso áspero de concreto. Ele se encolheu de dor, e ali ficou.

Parecia tentar sumir, se diminuir. Ele parecia tão jovem, deveria ter acabado de entrar na adolescência.

Ela recuou, e foi em direção a outra porta.

De janela em janela presenciou, impotente, as maiores atrocidades que alguém poderia fazer com um ser vivo. Mulheres e adolescentes recém saídos da infância, acorrentados a paredes com várias deformidades em seus corpos. Manchas de sangue e qualquer outro fluido espalhados pelas suas roupas. Alguns viam Penelape e imploravam aos sussurros por ajuda. Outros a observavam com olhares distantes, sem esperança.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora