Capítulo 48

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QuantumBurg estava agitada naquele horário de fim da manhã. Nem a chuva, que havia começado a engrossar, impedia as pessoas de correr pelas ruas em busca de algum lugar para almoçar.

Penelape andava rapidamente perto das marquises dos restaurantes e cafés, tentando se abrigar da chuva. Apesar de seu casaco conseguir segurar uma boa parte da água gélida, ela ainda sentia seu jeans ficar encharcado e colado nas coxas.

Precisaria começar a sair com seu guarda-chuva, pois havia começado a temporada de tempestades em QuantumBurg, que logo traria o frio de congelar os ossos, e longos meses de neve por toda parte.

– ...dizem que foi uma carnificina. Vários soldados foram mortos tentando conter a coisa.

Penelape passou por dois homens entreouvido a conversa. Ela notou uma leve tensão na voz do desconhecido.

Seus olhos foram para os dois parados em frente a uma vitrine contendo vários doces de dar água na boca. Eles pareciam entretidos com algo que passava na tela de vidro do lado de dentro da cafeteria. Por mais que não desse para ouvir o que se passava no noticiário, ela parou quando viu as imagens, fingindo que estava interessada nos doces na vitrine.

O drone sobrevoou em volta do arranha-céu. Os raios iluminavam a noite, os clarões deixando nítido as aeronaves que pousavam no topo, soldados saíam em grupos de cinco de cada uma delas, entrando na construção com armas em punho.

A imagem piscou e a repórter, de olhar frio, apareceu atrás da bancada falando algo que Penelape não conseguia ouvir.

Outra gravação inundou a tela, fazendo o corpo de Penelape estremecer com o que viu.

O mar revolto quebrou contra a plataforma de pouso, uma parte dela estava destruída. O vidro das enormes portas que davam para o saguão estavam estilhaçados, sangue se misturando com a chuva, e os restos de vidro pisoteado.

O arranha-céu se assomava sombrio e solitário em meio a chuva tempestuosa que caía dos céus. O laboratório em que havia invadido a quatro dias atrás parecia abandonado, consumido pela destruição pós rebeldes.

– Rebeldes tentaram invadir o local. – Um dos homens comentou com o outro – Parece que na mesma noite em que houve uma tentativa de fuga da prisão de Dracolith, eles estavam destruindo aquele lugar.

O da esquerda grunhiu.

– Esses especiais são como uma peste. Deveriam ter exterminado antes de sair totalmente do controle. Essas pessoas nem deveriam ser consideradas gente.

Penelape não pode evitar a pontada de desconforto que cutucou seu peito. Ela virou um pouco o rosto, puxando o capuz sobre os olhos, tentando deixar seu dispositivo fora do campo de visão deles.

– Enfim – continuou – Eu nunca vi nem ouvi sobre um lugar como aquele prédio que foi invadido.

– Pelo que estão dizendo, é um prédio secreto do governo...

– Nem vem com essa Fred. Teoria da conspiração logo cedo.

O homem que estava ao lado direito – o Fred – deu de ombros.

– É o que ouvi falar. – Os dois se afastaram da vitrine de doces alheios por Penelape estar ali – Mudando de assunto. Norman vai fazer um jantar hoje à noite, gostaria de ir?

– Sua mulher me odeia, Fred. – O homem parecia um pouco infeliz.

– É só ficar longe das cinzas dos avós dela dessa vez. E não derrubar no tapete, e depois colocar a culpa no gato...

Penelape ficou olhando para o caminho que eles foram até muito depois de já terem sumido de vista.

O pensamento de que houve uma tentativa de fuga da prisão girando em sua cabeça.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora