Capítulo 41

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 A água quente do chuveiro caía sobre seu corpo, relaxando seus músculos doloridos, limpando toda a sujeira das últimas horas.

Estava coberta por hematomas arroxeados. O joelho ainda estava dolorido, mas a cada minuto corrido a dor era só um eco em sua mente.

Assim que Penelape chegou na casa em que Mavie estava. Se desvencilhou das perguntas de sua amiga, ignorou um Daxton pedindo para que conversassem, e foi para o quarto em que havia acordado algumas semanas atrás.

Ali, achou um kit de primeiros socorros no compartimento embaixo da pia do banheiro e usou as injeções para curar seus ferimentos. Esperou a queimação desagradavel tomar sua mente, consumindo tudo dentro de si.

Penelape observava a água suja escorrer pelo ralo. A cabeça abaixada fazia seus cabelos caírem em volta do rosto, formando uma cortina de fios brancos brilhando com a água. Olhando assim eles pareciam mesmo com a cor de estrelas queimando no céu. Suspirou, passando a mão nos cabelos prateados. Desligou o chuveiro e saiu do box.

Com a toalha enrolada ao corpo, Penelape passou a mão sobre o vidro embaçado do espelho, encarando seus olhos. A íris violeta continuava brilhando por causa do dispositivo, já seu olho castanho parecia muito mais escuro que o normal.

Ela não sabia mais qual era a real cor de seus olhos. Não conseguia mais se reconhecer quando olhava seu reflexo no espelho.

Tocou os pequenos riscos que indicavam as marcas dos dentes da mulher que a atacou. Sua nova cicatriz adquirida, e também um lembrete do que ela havia feito com aquela coisa.

Como ela usou as sombras dele? Por que gostou tanto da sensação de poder que elas a fizeram sentir ao consumir uma alma?

Não sabia, mas agora que havia acontecido, não conseguia ignorar a sensação pulsante que parecia adormecer dentro dela, pronto para atacar novamente.

Penelape saiu do banheiro, secando o cabelo com outra toalha. Em cima da cama achou as roupas dobradas para ela, as suas precisaram ser jogadas fora. Todo o cheiro de morte misturados com a água suja das cidades baixas, haviam impregnado.

Vestiu a calça de flanela azul, e a blusa de mangas compridas branca. Passou os dedos pelos cabelos molhados, tentando desembaraçar. Pegou a faca que Max havia lhe dado e a enfiou no bolso, saindo do quarto.

A luz fraca amarelada, formava sombras nos cantos do corredor entre as portas de outros cômodos. Penelape se viu apressando o passo para que elas não acabassem sussurrando seu nome.

Não sabia ao certo se estava pronta para encarar Mavie e contar o que havia descoberto. Tão pouco queria conversar com Daxton. O que desejava era ficar um pouco sozinha, fazia tanto tempo que não ficava só, não sabia mais como era essa sensação.

Ela entrou na sala de jantar, com a mesa enorme ao centro. A chuva batia sem piedade contra as enormes janelas ao lado direito. Os relâmpagos da tempestade iluminavam a noite com seus clarões.

Penelape pensou em Zoe. Nos cabelos da outra, flutuando em torno de seu rosto no meio da tempestade. Dava para sentir a raiva borbulhando de cada eletricidade que não pode despejar sobre a batalha. Ela derramaria a raiva dos céus se não a tivessem impedindo. Penelape curvou o canto de seus lábios com o pensamento.

O miado fraco de um gato a fez desviar o olhar da tempestade. Miau Félix estava sentado sobre as patas ao lado de seus pés. Penelape se abaixou coçando o topo de sua cabeça.

– Oi carinha. – Ele ronronou em resposta, se esfregando mais em sua palma, fazendo uma risada baixa escapar de seus lábios – Por um acaso você não saberia de algum lugar para se esconder por algumas horas?

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora