Capítulo 54

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Penelape estava sentada entre as portas abertas da ambulância. Um médico havia a examinado rapidamente, enquanto dois policiais coletavam seu depoimento. Daxton havia pedido para que o esperasse ali, enquanto resolvia as questões burocráticas para que a atenção não recaísse sobre ela.

A casa de Dominic Fury estava isolada por paredes holográficas amarelas para afastar os curiosos que estavam se aglomerando nas calçadas debaixo de seus guarda-chuvas. Os pixels tremulavam com as gotas da chuva, que havia diminuído para uma garoa chata.

Penelape observava as viaturas iluminando tudo em vermelho e azul. Dois drones zuniam acima da casa de Dominic. Uma aeronave vermelha do corpo de bombeiros estava perto da grama onde a pouco Penelape e Daxton estavam deitados, a salvo. Um humanoide, segurando uma das mangueiras, correu para além da parede amarela apagando o fogo que ainda lambia os céus.

Ela levou aos lábios o copo com um líquido rosa para aliviar a ardência em sua garganta. Aos poucos sentia que engolir estava ficando menos dolorido.

Seus olhos se voltaram para suas mãos, o corte produzido por sua própria faca estava coberto por ataduras. Penelape havia recusado as injeções que fariam sua pele cicatrizar rapidamente, preferia fazê-lo quando estivesse segura em casa.

Ela fechou os dedos sentindo a dor queimar em seu pulso, subindo para o antebraço. Aquela pessoa era a cópia de Atlan. Penelape não conseguia apagar a imagem dos olhos escuros como breu de sua mente, nem se quisesse. Ele sempre estaria lá com ela como um fantasma a assombrando.

– Bom saber que está se sentindo melhor.

Penelape levantou a cabeça, encarando FP. Ele estava com aquele meio sorriso convencido como se soubesse de algo que ela não fazia ideia do que era.

– FP, achei mesmo que não conseguiria se manter distante por muito mais tempo. – Ela tentou fazer com que suas palavras saíssem o mais indiferentes possíveis. Não entregaria que por dentro estava com vontade de vomitar por ter que lidar com ele naquelas condições. – Pena não estar com uma aparência muito agradável para você.

– Tudo está perfeitamente agradavél. – Os olhos de FP ficaram mais brilhantes. Ou ele estava ficando louco, ou aquela conversa não seria em nada encantadora.

Penelape levantou uma sobrancelha, empinando um pouco o queixo.

– Só acho um pouco estranho que eu não o vejo a um bom tempo, e agora estamos aqui – ela abriu os braços para indicar tudo ao redor –, em meio a uma cena de crime que você foi o primeiro a aparecer. Já discutimos a questão de perseguição FP, já entendi que você está começando a virar meu stalker número um.

Ele deu uma risada. Quem não o conhecia poderia jurar que FP estava sendo cordial. Mas por baixo de tudo aquilo havia um policial que era completamente obcecado por trancafiá-la, e talvez naquela noite ele conseguisse o que tanto desejava.

– Foi realmente uma surpresa ter encontrado você e Vanguard em situações tão... – ele fez uma pausa dramática só para tortura-la – intima. Mas sabe o que foi realmente uma surpresa?

Penelape não respondeu. Ficou sustentando o olhar dele, tentando não demonstrar nenhuma reação. Ele estava muito sorrisos naquela noite, isso não era nada bom.

FP desviou o olhar apenas por meio segundo, enquanto pegava algo em seu sobretudo. Ele pressionou o dedão no quadrado de metal, e o entregou para Penelape.

Confusa, ela o pegou de sua mão. Uma imagem pixelada a olhava de volta. Penelape demorou uns segundos para compreender o que estava à sua frente. A chuva embaçava os pixels, mas ela conseguiu reconhecer o corpo de Mavie recostada no parapeito do prédio. As asas levemente abertas, as presas à mostra, os cortes desfigurando a pele de seu rosto. A sua frente duas figuras, uma encapuzada que Penelape não conseguiu reconhecer, e outra de cabelos ruivos, Sune.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora