Capítulo 20

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Uma mesa de carvalho enorme contendo inúmeros pratos deliciosos à sua frente. Skylar devorava um frango assado enquanto interrogava Jas sentado à cabeceira da mesa.

Seu cotovelo estava dobrado sobre a mesa, com o queixo apoiado na mão. Ele olhava entediado para Skylar respondendo suas inúmeras perguntas sobre os mortos com apenas sim e não às vezes um talvez.

Skylar havia perdoado ele rápido demais por ter sido feita de fantoche. Ou estava apenas guardando esse fato para mais tarde, já que seu fascínio pelo mundo dos mortos era mais atrativo no momento.

Talvez ela devesse ter nascido com poderes de ver gente morta, seria mais fácil para ela do que para Penelape. Será que seu fascínio continuaria o mesmo?

Daxton, ao seu lado, cutucava com o garfo um pedaço de frango em seu prato, a comida intocada. Algo o estava incomodando.

Quando Jas deu as costas para eles no corredor, Daxton o fitava com os olhos cheios de fúria. Penelape sabia que ele seria capaz de queimar o inferno com Jas dentro, mas algo o havia controlado.

Quando perguntou se estava bem, ele apenas balançou a cabeça.

Agora sentada ao seu lado, o vendo cutucar o pedaço de frango, sussurrou apreensiva.

– Você está bem mesmo?

Ele levantou o olhar de seu prato, mas não respondeu, apenas ficou ali encarando-a, parecia distante.

– Se algo estiver te chateando, pode me falar – tentou mais uma vez – A gente está junto nessa, lembra.

Penelape abriu um meio sorriso, mas ele não retribuiu. Isso a deixou um pouco chateada.

Ela pensou que estavam avançando em algo, que ambos poderiam confiar um ao outro. Mas como isso seria possível, se ela escondia muita coisa dele, por não se sentir totalmente segura para compartilhar. Não era como se em um piscar de olhos conseguisse confiar cegamente em alguém sem ser em Mavie. Apesar de que, precisava com urgência ter uma conversa com sua amiga demônio.

– Quando voltarmos, quero conversar com você. – Sua voz profunda, reverberou pelos ossos de Penelape. Fazendo suas mãos estremecer um pouco com o nervosismo.

– Tudo bem.

As portas do salão abriram, e um Max com os cabelos bagunçados e roupas amassadas, entrou.

Duas succubus com peles extremamente pálidas o rodeavam, elas estavam grudadas em seus braços o acariciando de uma forma bem íntima, até demais.

– Oi gente – sorriu para eles como se nada estranho estivesse acontecendo – Hm, comida. Estava faminto.

Max correu para a mesa, a rodeando. Pegando porções de frango, tortinhas de abóbora e pães dos mais variados tipos possíveis. Seu prato foi formando uma montanha de comida.

– Bom que alguém aqui está se divertindo – Penelape levantou uma sobrancelha.

– Eu disse docinho, tratamento VIP para seus humanos – Jas levantou o cálice, contendo algum líquido que Penelape não queria saber o que poderia ser, e sorriu.

– Se mandar os seus demônios assediarem as pessoas for tratamento VIP, prefiro ficar fora disso.

– Elas não assediaram ninguém docinho. Sou um demônio, não um maníaco tarado.

– Seu fetiche é extremamente seletivo – ela revirou os olhos.

– Guardo ele só para mulheres agressivas.

Jas levou o cálice aos lábios vermelhos, seus olhos brilhando maliciosamente. Se ele pudesse, com toda certeza devoraria Penelape e não o banquete a sua frente.

Ela rosnou.

– Só nos seus sonhos.

– Cuidado com o que deseja, alguns sonhos não são bem o que você imagina.

Ele piscou como se estivesse dividindo algum segredo com Penelape, a fazendo franzir o cenho.

– Uau, vocês dois parecem duas crianças brigando por um ursinho de pelúcia – Skylar se intrometeu, fazendo Jas revirar os olhos ao som de sua voz. Ela sorriu em resposta, seu sorriso carregado de veneno – Sabe Jas, o rastro de baba que você deixa por aí é vergonhoso até para um demônio – ela mastigou um pedaço de frango, engolindo lentamente – Todo mundo já entendeu que você odeia humanos, mas que por algum motivo esqueceu que Penelape é uma, e fica se humilhando pelos corredores por algo que não vai acontecer. Eu sentiria pena, mas você é tão... patético.

Penelape cuspiu sua água de volta no cálice, mas uma gotícula desceu pelo lado errado de sua garganta a fazendo se engasgar. Tossiu batendo a palma da mão no peito, atraindo a atenção de todos a mesa.

– Então, o que perdi? – Max se sentou ao lado de Skylar, enchendo a boca de comida, parecia não comer a dias.

– Não sei como seu pau não caiu – Penelape retorceu os lábios, e enfiou uma garfada de purê de abóbora na boca para engolir seu veneno.

Max, com a boca cheia de tortinhas, respondeu algo, mas ninguém conseguiu entender.

– Engole e depois fala – Skylar o olhava como se fosse arrancar sua cabeça – Decepcionante, Max. Se deixou levar por meras succubus.

As duas mulheres ao seu entorno chiaram em resposta, pareciam duas cobras se esfregando em Max.

Ele engoliu com dificuldade. Seus olhos, rodeados por manchas escuras, profundas.

– Os prazeres oferecidos, não devem ser recusados. E, além do mais, ninguém estava em perigo. Só precisávamos esperar a Bela Adormecida acordar. Qual dos dois bonitões deu o beijo na Cinderela? – Max apontou o garfo para Daxton e Jas.

– Duas princesas diferentes, Max – Penelape rebateu – E, se for para escolher, prefiro a Bela – Jas repuxou os lábios em uma risada cheia de malicia, atraindo sua atenção – Não entendi qual a graça.

– Você não entenderia nem se a resposta estivesse sendo esfregada na sua cara, docinho.

– Isso foi rude. Coisas não são esfregadas na minha cara.

Jas pendeu a cabeça analisando o rosto de Penelape, seus olhos brilharam com o simples pensamento do que foi dito. Idiota.

– Para de tentar imaginar, Jas.

– Meu nome saindo de seus lábios, é uma oração que pretendo me render.

Skylar e Penelape, franziram o cenho com as palavras de Jas. As duas incrédula com o que haviam acabado de ouvir.

– Isso foi tão... tão...

– Instantâneo? – Skylar tentou ajudá-la, provocando Jas – Ridículo? Pervertido?

– Prepotente? – Penelape tentou.

– Arrogante?

As duas dispararam em provocar Jas, o chamando de todos os adjetivos possíveis.

Por um momento, Penelape se esqueceu onde estava. Se esqueceu de tudo o que estava acontecendo, ela só queria ter mais momento assim. Momentos onde tudo era fácil de lidar.

Ela deu uma gargalhada enquanto Skylar ralhava com Jas por ser um Demônio tarado babão.

Daxton parecia alheio com toda a conversa que acontecia ao seu redor. Era como se ele simplesmente tivesse se desligado por um momento.

Penelape olhou para ele, e prometeu para si mesma que iria faze-lo se abrir. Iria conversar com ele mais tarde, quando estivessem voltando para QuantumBurg. Mas por hora, ela se permitiu aproveitar o momento.

Mesmo que estivesse no inferno.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora