Capítulo 46

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Puxou o ar pelo nariz profundamente e o soltou pela boca.

Uma.

Duas.

Seis vezes.

E todas elas arranharam sua garganta, gelando os pulmões.

– Não. – Sussurrou.

Penelape curvou os dedos sentindo a superfície dura embaixo de si. Seus olhos se abriram, mas nada havia para se enxergar apenas o breu. Ela se sentou, suas pernas esticadas à frente. Para todos os lados que olhava não se via nada, era como se estivesse em lugar nenhum.

Antes quando sonhava com Atlan, ele sempre a recebia com suas sombras, mas ali era só um cômodo totalmente preto, sem de fato ter paredes.

Se levantou, abraçando o próprio corpo para tentar se aquecer, mas como das inúmeras outras vezes, seria impossível eliminar aquele tipo de frio.

Penelape caminhou pelo lugar, sentindo a dureza fria em seus pés descalços. A fumaça pairando em frente a seu rosto a cada respiração gélida. Aguçou os ouvidos, mas nenhum som ali havia. Olhou em todas as direções em busca de algo, mas o nada era aquilo que a olhava de volta.

Não soube dizer por quanto tempo ficou andando, tentando não bater os dentes, e morrer congelada. Talvez estivesse de fato em algum limbo, só não sabia como havia parado naquele lugar.

Um sussurro muito fraco chegou até seus ouvidos. A princípio achou que estava enlouquecendo, começando a delirar. Mas, então ele se repetiu.

Penelape girou nos calcanhares tentando escutar de qual lado vinha, mas tudo estava muito quieto, ela mesma estava com medo de fazer qualquer barulho. Então continuou andando, até que o sussurro de seu nome pareceu mais alto do lado esquerdo, ela o seguiu.

A cada passo que dava, a urgência na voz ficava mais alta. O frio cortava sua garganta e ela já havia desistido de não tentar tremer.

Uma lufada de ar fraca balançou seus cabelos, arrepiando os pelos de sua nuca. Ela paralisou, sentindo o medo brotar em suas entranhas. Alguma coisa estava atrás dela, chegando mais perto. Se Penelape continuasse ali, seria tomada por algo que a destruiria. Mas aquela sensação era a mesma que sentiu quando estava no inferno sendo perseguida, sabia que não poderia olhar para trás, sabia que não poderia ficar parada ali por mais tempo. Penelape forçou seu corpo a se mover, e ela começou a correr.

Seus pés batiam no chão de lugar nenhum. O frio condensando sua respiração, ardia em seus olhos, os fazendo lacrimejar embaçando sua visão.

Piscou fortemente para afastar as lágrimas ardidas, quando tornou a enxergar novamente um lampejo de dourado brilhou à sua frente. Penelape não teve tempo para entender o que era. Um grito ensurdecedor invadiu seus ouvidos, no mesmo instante em que sentiu seu corpo bater em algo, fazendo-a cair de costas deslizando pelo chão frio.

Ela sentiu seus ouvidos chiarem, tudo parecia girar, a dor a invadiu um instante depois. Sua testa estava dolorida, joelhos e costas.

– Mas que porra ta acontecendo aqui? – Esbravejou.

Virando de lado, apoiou as mãos no chão e impulsionou o corpo para cima, grunhindo por causa da dor e da tontura.

Ela sentiu que seu corpo iria despencar novamente, tudo girava. Precisou de um instante para firmar os pés e entender o que havia acontecido.

Ao seu redor as sombras a envolviam, não a tocavam, muito menos pareciam invadi-la. Elas estavam por toda a parte, agitadas. Algumas se moviam até formar um rosto retorcido, os lábios abertos chamando por Penelape, logo se desfazendo no ar.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora