Os gritos e gemidos das almas chegavam até a montanha. Onde na abertura de uma caverna, seu corpo dolorido descansava.
A carne de seus joelhos arranhava contra as pedras pontiagudas. As correntes em seus pulsos machucavam a pele devido ao atrito, o sangue escuro escorrendo das feridas em filetes devido a seus braços erguidos.
O frio fazia seus lábios secos e rachados tremerem. A cabeça pendia para a frente, seus cabelos escuros formavam cortinas sobre os olhos. Suas roupas estavam em frangalhos, manchadas, sujas.
Ouviu um uivo. Forçou seu corpo fraco a levantar a cabeça o suficiente para que seus olhos observassem a névoa cobrindo tudo abaixo. A lua vermelha e sangrenta, a observava de volta como se estivesse se deleitando com sua dor.
A quanto tempo estava acorrentada naquela caverna, ouvindo os lamúrios das almas sendo torturadas abaixo? Ali o tempo não passava, o céu escurecia quando lhe convinha, ficando difícil saber se estava a dias ou talvez não tivesse passado de horas.
Presa, Mavie se perguntava: era assim que Atlan se sentia todas essas décadas?
Imagens dele sendo torturado invadia sua mente como uma besta fincando as garras. Ela não queria que seu irmão estivesse passando por tudo isso. Mavie daria qualquer coisa para voltar no tempo e nunca deixar que se sacrificasse.
Seu corpo doía em todas as partes, sua pele se regenerava dos cortes em seus pulsos que eram abertos a cada vez que a corrente roçava os machucados, mas nada daquilo doía mais do que a ferida sangrando em seu peito.
A traição de Penelape.
Pensar nela era como engolir aço fervido. Não a perdoaria pelo que fez com Atlan, por estar o usando. O desejo de pegar o poder de seu irmão para ela era pulsante em cada parte de seu ser.
Mavie havia sentido, visto, o quanto Penelape gostou de ter usado as sombras de Atlan para consumir a alma de alguém. A quanto tempo Penelape sabia o paradeiro de seu irmão? E por que escondeu esse fato dela?
Mavie se sentia uma completamente idiota por ter deixado se aproximar de outro humano novamente. Ela nunca deveria dar tamanho poder a uma pessoa.
Humanos não eram confiáveis. Assim que tivessem a simples consciência de que você se importava com eles, usariam isso a seu favor. Usariam suas fraquezas contra você. Ela mais do que ninguém sabia o quanto aquilo era perigoso.
Puxou as correntes, ouvindo o tilintar contra a pedra da caverna. O movimento fez a carne de seus pulsos rasgar, a dor fez seus dentes rangerem.
Quando estivesse livre, Mavie iria atrás de seu irmão. Traria Atlan de volta, nem que precisasse soltar seus demônios por QuantumBurg. Ela mataria qualquer um que cruzasse seu caminho. Depois que o libertasse, iria fazer uma visitinha para sua amiga.
O pensamento do que faria com ela, fez um sorriso fraco pairar sobre seus lábios feridos.
Penelape seria a próxima, e Mavie não se sentia arrependida por querer sua cabeça em uma bandeja.
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Rin segurava a porta entreaberta do quarto. Seus olhos vermelhos de vampira, observavam o pequeno montinho dormindo na enorme cama de dossel de um dos quartos de visita da casa de Sune.
A criança ainda estava bem assustada, não havia falado nenhuma palavra desde que Mavie a encontrou. Rin começava a achar que talvez ela não soubesse falar. Talvez o trauma do que presenciou tivesse roubado sua voz.
Rin estava tentando fazê-la falar, talvez a criança, de alguma forma, soubesse de algo que eles ainda não sabiam. Ela estava revezando com Sune para cuidar da menina, enquanto Mavie estava presa em seu inferno. Quando voltasse, eles precisariam discutir o que fariam com ela.
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Demônio de Néon
Ciencia FicciónVOL. I "Em algum lugar entre os arranha-céus uma criatura de olhos vermelhos uivou, e uma garota de cabelos azuis olhou em direção a janela assustada. Uma raposa de olhos brilhantes como o fogo era enjaulada ao lado de uma garota que foi enganada. O...