Capítulo 56

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Os solados de borrachas de suas botas abafavam os passos de Skylar.

Dois outros rebeldes despontaram no corredor absortos em uma discussão sobre pontos estratégicos do corpo humano para se golpear e matar instantaneamente. Assim que se aproximaram de Skylar, suas cabeças se curvaram levemente em sinal de respeito a comandante.

Ela atravessou a ponte esculpida direto na pedra escura. Apesar da ponte ser grande o suficiente para caber seis pessoas andando lado a lado, a falta de alguma proteção nas beiradas poderia acarretar em uma queda diretamente para a escuridão abaixo.

Muito acima de sua cabeça, aberturas quadradas de janelas sem vidro, deixava o vento gélido da manhã entrar transformando aquela parte da base em uma geladeira. Skylar sentiu o arrepio percorrer seus braços e suas bochechas ficarem geladas só de passar por aquele lugar. Puxou as mangas sobre as mãos de sua blusa preta fina, havia deixado o casaco do uniforme na sala de reuniões na noite passada, depois de passar metade da madrugada tentando se manter acordada enquanto o comandante da base dos rebeldes de Lumina ainda esbravejava sobre sua tentativa de invadir o laboratório e ter chamado mais atenção do que deveria para eles.

Isso sem contar o fato de que culpavam uma portadora de raios pelo seu descontrole deixando alguns rebeldes gravemente feridos. Os outros comandantes queriam jogá-la na solitária pelo seu ato, mas Skylar jamais deixaria que isso acontecesse com os seus.

Aquilo havia acontecido a semanas e Skylar precisava enfrentar reuniões atrás de reuniões enquanto babacas questionavam suas escolhas no comando. Ela precisou se provar mais vezes nas últimas semanas do que na época em que decidiu entrar para os rebeldes.

Skylar passou por um dos arcos quadrados de três metros de altura reprimindo um bocejo da noite mal dormida. Ao lado esquerdo do corredor, pilastras grossas dividiam as janelas que iam do chão ao teto. Alguns soldados se sentavam na elevação de cinquenta centímetros que formavam bancos de pedra escura.

Ela costumava ficar entre as pilastras, abraçada aos joelhos observando os arranha-céus ao longe, se perdendo enquanto ignorava a dor em seu corpo machucado depois de um dia de treino pesado. Max sempre aparecia logo em seguida trazendo algum doce que roubará da cozinha. As luzes da cidade iluminavam seu cabelo loiro o deixando rosado, ela adorava ver os tons de rosa nas mechas, lembrava algodão doce.

Skylar desviou o olhar das janelas, fazendo a lembrança se desfazer como areia entre seus dedos.

Virou a direita no corredor, parando perto da parede de vidro. Observou o interior da sala de treino, estava movimentada para aquela hora da manhã. Não demorou muito para que achasse a cabeleira loira de Max. Ele estava no tatame lutando contra um robô de treinamento, seu corpo completamente nu da cintura para cima. Linhas finas metálicas como cortes na pele, formava um quebra cabeça em seu peito. Sinais das vezes em que Max precisou ir para a mesa de cirurgia reparar ferimentos, ou trocar partes de seu corpo.

Ele chutou a lateral do robô, que segurou sua perna, Max usou do movimento para agarrar os ombros de metal impulsionando o corpo para cima. O robô tentou reagir, mas ele já estava subindo em seus ombros, prendendo seu pescoço com as pernas e o girando. O robô desabou no tatame com Max o imobilizando.

Mesmo depois de anos ele ainda usava o golpe que ela o ensinou quando os dois nem cogitavam ser o que eram hoje.

Skylar foi até as portas de vidro que se abriram com sua aproximação. Seus olhos percorrendo pelos rebeldes treinando antes de irem para seus postos. Às vezes ela se pegava pensando que todos eles eram seus soldados, obedeciam a ela. O que nunca contou é que no começo aquilo a assustava na mesma medida que a deixava empolgada. Muitas noites achou que não ia conseguir, mas ela havia aguentado. Havia se provado.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora