Capítulo 5

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Seus pés descalços congelavam naquele chão de concreto.

Sua respiração formava nuvens de fumaça à sua frente.

A iluminação amarelada e escassa, formava sombras disformes pelas paredes de concreto.

Nos dois lados do corredor havia portas pesadas, com minúsculas janelas. Ela se aproximou de uma e tentou espiar, mas apenas a escuridão a olhava de volta. Estremeceu.

Um cântico suave e triste, ao longe, ecoava lamentavelmente pelo corredor.

Olhou para os dois lados e decidiu seguir em frente.

A cada passo a melodia ficava mais alta, entrando pelos seus ouvidos e se entrelaçando em seu coração, apertando, a sufocando.

O frio ficando mais intenso, se instalando em seus ossos. Ela se abraçou em uma tentativa falha de se aquecer.

Um tremor percorreu seu corpo novamente, e não sabia dizer se era de frio ou um medo repentino que subiu pela sua espinha.

Cada passo que dava parecia mais pesado. A escuridão estava se entrelaçando em seus calcanhares, tocando sua pele delicadamente.

O cântico mais perto.

E perto.

E perto...

Silêncio absoluto.

Ela tentava acalmar sua respiração, mas seu coração batia descompassadamente. Tão rápido que podia jurar ser ouvido naquele silêncio.

Continuou caminhando lentamente pelo corredor.

As suas costas, o som rangido indicava a abertura de uma única porta.

Ela não queria se virar.

Ela não queria investigar.

Mas seu corpo não obedecia.

Se viu na entrada da porta, encarando o mais puro breu. Esperando seus olhos se acostumarem com a escuridão.

Mas isso não aconteceu.

Quanto mais olhava, mais densa a escuridão ficava.

O frio era tamanho, que precisou apertar os dentes com força para não tremerem.

Tentou dar um passo para trás, mas deu um para frente.

Sentiu um aperto aterrorizante em seu peito, o mais puro medo brotando.

Ela foi atraída para o breu.

Nada mais se via.

Um sopro acariciou levemente sua orelha. Estapeou o local, mas nada atingiu.

Algo tocou de leve em seu braço, ela arfou.

Uma risada baixa e profunda surgiu em algum lugar à sua frente.

Podia sentir, mas não podia ver. Precisaria confiar apenas em seus ouvidos, em seu tato.

Rodopiou no lugar tentando alcançar alguma coisa. Sem sucesso.

O silêncio pairou sobre ela novamente.

Se sentia observada, exposta. Não podia ver, mas algo conseguia vê-la por completo.

Algo na escuridão a queria.

Tentou puxar o ar frio uma vez para se acalmar.

Duas vezes.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora