Capítulo 57

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Penelape sentiu a bile subir pela sua garganta, quase fazendo-a se afogar. Ela acordou num pulo e correu para o banheiro.

Conseguiu abrir a tampa do vaso a tempo de despejar todo o conteúdo do jantar em convulsões violentas. Assim que os espasmos cessaram deu a descarga, ainda ficou um tempo com os braços cruzados na cerâmica fria. Sua visão estava embaçada pelas lágrimas contidas, ela passou uma mão nos cabelos, afastando as mechas grudadas na testa. Seus olhos se voltaram para a janela enorme do banheiro do apartamento de Daxton.

QuantumBurg brilhava na noite fria, a água do mar refletia a luz dos arranha-céus como um fantasma a assombrando.

Penelape se levantou, encostando as palmas das mãos no balcão da pia, jogou uma água na boca, e lavou o suor de seu rosto. Quando encarou seus olhos no espelho, observou as olheiras escuras abaixo deles. A pele pálida como se ela fosse a assombração que perambulava pelos cômodos.

Se sentia cansada em um novo nível, nas últimas semanas seu corpo parecia sempre entrar em um estado de quase colapso. Culpava totalmente o inverno que estava começando a recair sobre QuantumBurg, Penelape geralmente ficava doente nesse período de troca de estação.

Desviou o olhar de seu reflexo sentindo a garganta arranhar quando tentou engolir a saliva. Voltou para o quarto tentando não fazer nenhum barulho, mas o outro lado da cama estava vazio. Na correria nem havia notado que Daxton não estava ao seu lado. Ela lembrava de terem ido dormir noite passada juntos, dela observando aqueles olhos azuis em chamas até pegar no sono. Mas não se recordava em qual momento Daxton havia levantado.

O relógio perto da cama marcava quase quatro horas da manhã, era muito cedo para que ele já tivesse saído, Daxton avisaria.

Penelape abriu a porta do quarto, seus passos abafados por causa da meia nos pés. Reprimiu um bocejo quando chegou até o balcão da cozinha, pegando um copo no armário e o enchendo. Virou a água sentindo sua garganta resfriar ficando mais fácil engolir. O encheu novamente e se recostou na pia, tomando pequenos goles.

Seu corpo estava metade nas sombras, então ela não precisou se preocupar em se esconder quando viu Daxton na varanda, seus antebraços estavam sobre o corta corpo de vidro, ele usava apenas a calça de flanela cinza. Se ela não soubesse que ele conseguia se manter aquecido mesmo quase nu na baixa temperatura, ela teria ido até ele. Mas outra coisa a impedia.

Daxton não estava sozinho.

O capuz do casaco estava levantado sobre a cabeça deixando seu rosto nas sombras, como se não tivesse feito questão de tirá-lo, pois poderia ser uma rápida visita. Mas pela forma que estava se portando aquilo já estava se decorrendo a um bom tempo.

A pessoa gesticulava freneticamente para Daxton que se mantinha impassível observando a cidade. Ela disse alguma coisa que fez os músculos de suas costas se enrijecerem.

Penelape não conseguia ouvir nada com as portas fechadas da varanda. Estava curiosa para saber o que estava acontecendo, mas uma agitação diferente na boca de seu estômago a fez ficar no lugar, o copo a meio caminho dos lábios, observando os dois.

A pessoa se afastou de Daxton, ficando de costas para ele, balançando a cabeça, discordando de algo que foi dito. Daxton se virou para ela, seus lábios se mexiam rapidamente. Ele passou a mão nos cabelos tentando se acalmar, mas então a figura encapuzada se virou novamente para ele. Com o movimento uma mecha de cabelo azul escapou do capuz, mesmo o rosto estando nas sombras agora conseguia ver Skylar, e ela parecia bem furiosa com Daxton.

Penelape deixou o copo meio cheio na bancada e se aproximou da varanda, eles se encaravam em uma discussão fervorosa. A luz do luar iluminava o corpo de Penelape, a blusa fina e a calcinha que usava, as meias azuis nos pés até a canela, mas nenhum deles notou sua presença.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora