Capítulo 24

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 Mavie não respondeu, apenas ficou ali parada, olhando para Penelape.

– Eu... bem – ela mordeu o interior da bochecha tentando organizar os pensamentos – Acho que preciso contar a minha versão e depois você me fala se ajudei.

Penelape se ajeitou na espreguiçadeira, virando para encarar uma Mavie completamente atônita.

Ela contou para sua amiga sobre os sonhos. Contou sobre como não fazia ideia do que era no começo, e do pavor que sentia quando ele estava perto dela.

Contou para Mavie uma versão totalmente diferente de como de fato era seu irmão em suas lembranças.

Mavie ficou calada o tempo todo, apenas seus olhos adquiriram tonalidades diferentes conforme Penelape contava sobre ele.

– Ele parecia meio triste da última vez que apareceu. Suas costas estavam cobertas de cicatrizes, e tinha umas... – ela franziu o cenho – coisas pretas pelo corpo, como se estivesse com alguma doença estranha ou sei lá...

– Sombras.

– Perdão?

Mavie suspirou, quebrando o silêncio.

– Eram as sombras dele, Poppy. O poder dele.

– Elas nunca falaram comigo antes. Mas dessa última vez, elas me pediram para chegar até... Atlan – ela baixou a voz quase sussurrando o nome dele, como se um simples nome pudesse o invocar – Eu fiquei curiosa, então quando o vi naquele quarto dessa forma. Ele... ele não me reconheceu, sempre parecia à minha espera, mas dessa vez não me viu até que... – Penelape hesitou, lembrando do instante em que quase o tocou. – Havia outra pessoa no quarto, foi então que ele me viu.

Penelape olhava para Miau Félix pensativa. Quem estava no quarto com ele? Será que realmente estava aprisionado?

– Não faz sentido ele estar aprisionado em um quarto de luxo Mavie. Ainda mais com alguém... – olhou para Mavie, ela estava com os olhos cinzas colados em Penelape, parecia espantada – O que aconteceu? Tem um bicho no meu cabelo?

Ela se remexeu na espreguiçadeira, batendo uma mão no cabelo para espantar o que quer que seja.

– Como você sabe o nome dele?

Penelape parou de se bater.

– Ah, ele me falou – deu de ombros.

– Como assim, ele te falou? Simplesmente te falou.

Mavie parecia atordoada com sua declaração.

– Sim, ele me falou. Depois de quase me matar, obviamente. Acho que se sentiu culpado, sei lá.

Mavie balançou os ombros, uma risada brotando em seu peito se transformando em gargalhada.

Penelape se sentia confusa com a reação da demônio.

– Não entendi qual a piada.

– Não é engraçado.

– Mas você está rindo.

Mavie limpou uma lágrima de seus olhos.

– Eu sei. É que Atlan não costumava deixar que qualquer pessoa soubesse seu nome.

– Não é um nome tão especial assim – ela revirou os olhos – Não é muito comum, mas deve ter uns dois ou três perdidos por aí.

– Espero que um dia ele descubra que você não achou o nome dele tudo isso.

– Talvez ele me mate antes disso, Mavie.

– Atlan não é assim...

– Ele quase fez isso, você sabe. Você viu como cheguei aqui.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora