Capítulo 33

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 A raiva borbulhava em suas veias. As chamas queimavam a carne de seus pulsos. Mesmo assim, Daxton não conteve a intensidade que seu poder irradiava de si.

A impotência que sentia o deixava tomado pela fúria. Assim que Penelape sumiu pelo beco, ele se sentiu tentado a segui-la. Não suportaria se algo acontecesse a ela. Não deveria estar tão apegado, mas não conseguia manter distância. Não queria tê-la longe de si. Fazia tanto tempo que não sentia isso por alguém. Desde Aeli e...

Ele balançou a cabeça, não pensaria nelas agora, precisava chegar até Mavie.

O plano de Penelape havia funcionado, uma boa parte dos cães havia seguido-a abrindo caminho para ele.

Que Poppy nunca descobrisse que seu plano maluco havia salvado os dois de serem mortos.

Os Cães do Inferno o atacavam com mais ferocidade, irritados com as chamas queimando suas peles. Pedaços de suas carnes caindo no asfalto. O cheiro de pele carbonizada misturada com a água pútrida que despencava nas cidades baixas, era de embrulhar o estômago.

Daxton atacou um dos cães, o envolvendo com uma parede de chamas azuis. A carne de seu corpo queimou, um pedaço de seu rosto caiu sobre o asfalto. Seus poderes não os matava, apenas os distraía o suficiente para se embrenhar entre eles.

Pela visão periférica, viu a pelagem de uma das bestas avançando pelas suas costas.

O cão pulou, os dentes a mostra pronto para arrancar a cabeça de Daxton. Ele apoiou o peso do corpo em uma das pernas, girando o tronco, acertando um chute certeiro com a outra no focinho do animal, que cambaleou para longe dele, atordoado. Sangue podre escorria de sua mandíbula pingando no asfalto.

Um rosnado animalesco irrompeu em algum lugar à esquerda. Ele olhou na direção, mas não deu tempo para que desviasse. A besta já estava pulando para atacá-lo, acertando as garras em seu peito.

Daxton sentiu suas costas baterem no concreto, arrancando o ar de seus pulmões. A besta fazendo pressão sobre seu corpo. Ele segurou o pescoço peludo dela, tentando afastar os dentes de seu rosto, as mãos carbonizando pelo e pele no processo. A saliva do cão caiu sobre seu rosto se misturando com a chuva. Ele arfou com o esforço feito para se manter longe dos ataques do cão.

O som da lâmina cortando carne preencheu seus ouvidos, pulverizando o cão acima de si. Uma outra silhueta pairou sobre seu corpo, esticando a mão para que a pegasse.

Daxton aceitou a ajuda, franzindo o cenho quando a pele queimada de sua mão tocou a de Mavie.

Os dois se encararam por um momento, os olhos brancos de Mavie tempestuosos, nos azuis de fogo dele. Curvou a cabeça levemente em um agradecimento.

Daxton empurrou Mavie para o lado, chutando outra besta antes que a atacasse. Salvando sua vida.

Ela curvou os lábios em um sorriso afiado em agradecimento. Seu rosto estava com um corte feio na bochecha. O sangue sendo lavado pela chuva pingava no colarinho de sua blusa branca. As lâminas com cabos de rubi brilhando intensamente.

– O plano é o seguinte – ela gritou por cima dos rosnados, dos sons de asas e do aguaceiro – Não morra. Caso contrário teremos uma Poppy furiosa esfolando a nossa pele.

Daxton puxou os lábios, mas o sorriso não chegou aos olhos. Ele se viu olhando para o beco de novo, esperando que aparecesse. Sentiu o peito se apertar ao ouvir o nome dela. Penelape prometeu que voltaria. Ela iria voltar.

Mavie deu as costas para ele – parecia mancar levemente – os dois colados um no outro, confiando suas retaguardas.

Os corvos desciam dos arranha-céus bicando qualquer parte de pelagem que viam pela frente. A serpente de fogo azul de Daxton queimava cada parte dos cães envolta deles, os distraindo para que Mavie finalizasse.

Era uma dança entre os três, corvos, fogo e lâmina, reverberando pelas ruas silenciosas das cidades baixas.

– Sabe, estou me perguntando onde está Penelape. – Mavie arfa, desviando a tempo da garra rasgar seu ombro. Ela enfia a adaga na lateral da besta que se desintegra no ar.

– Penelape teve uma... ideia – ele grunhiu, as chamas lambendo as patas de uma besta. Mavie a finalizou com um corte entre os olhos. – Não que eu concorde com suas ideias. Quanto mais tento fazer com que não fique em perigo, mais ela se coloca nele. – Suas chamas brilharam mais fortemente, lambendo os antebraços. A ardência insuportável se mesclando a raiva fervilhante em seu sangue.

– Penelape não é algo para ser controlado... A direita – Daxton girou sobre os pés com o comando, incendiando a pelagem de dois cães. – Eu também às vezes sou muito dura com ela. Sou muito apegada aquela humana – Mavie sorriu levemente.

Havia menos da metade dos cães agora, e Penelape não havia voltado. Ele desviou o olhar para o beco em que havia corrido com os cães, mas não tinha nada lá, nem a sombra de sua silhueta.

Iria terminar com os cães e procuraria por Penelape pelas cidades baixas até sentir suas pernas falharem. Ele a encontraria. Suas chamas brilharam fortemente contra a chuva.

Cada pedaço arrancado da carne das bestas, cada golpe da lâmina de Mavie, era o pensamento corrosivo de que Penelape poderia estar morta, ele poderia encontrar seu corpo completamente dilacerado...

Não.

Não a perderia essa noite.

Faltavam apenas cinco cães agora. Daxton sentiu o fogo queimar fortemente em suas veias. Seus olhos brilhando na rua mal iluminada, seus sentidos envolveram com o cheiro de morte.

Ele ergueu as mãos, chamas brilhando até a altura dos cotovelos, queimando seus braços. Um rosnado furioso sairam de seus lábios, quando as chamas irromperam de suas mãos envolvendo os cinco cães, queimando completamente suas carnes.

Daxton não parou de despejar sua fúria nas bestas. Não parou de queimá-las. A dor de seu fogo o incendiando de dentro para fora, iria morrer se não cessasse o seu poder. Se não o controlasse, mas ele precisava terminar logo com aquilo, precisa encontrar Penelape.

Aumentou mais a intensidade de suas chamas, queimando a carne das bestas, queimando seus ossos. Ele não parou até ver os cães completamente carbonizados à sua frente, virando cinzas. Os mandando de volta para o inferno.

Daxton recolheu as chamas, todo o seu corpo ardia, a dor era um aviso constante de que ele havia falhado, de que iria falhar novamente.

Mavie estava mortalmente quieta as suas costas. Ele não conseguia olhar para ela, precisava de um tempo para se recuperar, para que o fogo dentro de si se acalmasse novamente. Respirou fundo, sentindo a água pútrida evaporar em contato com seu corpo.

As sombras em sua visão periférica pareceram dançar atraindo a atenção. Daxton virou o rosto para o beco esperançoso, o vislumbre de luz violeta no meio da escuridão fez seu coração se apertar.

Ele não esperou, correu para as sombras, seu coração martelando contra as costelas.

Penelape mancou para fora das sombras do beco, no exato momento em que Daxton a abraçou.

Ele não sentiu suas feridas, ela não sentiu seu corpo esfolado enquanto enlaçava seus braços no pescoço dele.

– Eu prometi Dax... Eu prometi.

Penelape sussurrava contra o pescoço dele repetindo várias vezes como se fosse um mantra. Ele sentia seu corpo tremer agarrado ao dela.

– Eu prometi que voltaria.


Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora