Capítulo 31

53 8 70
                                    

 Os rosnados, e garras raspando no asfalto, acompanhavam o som de suas botas.

Penelape corria como um furacão pelas ruas das cidades baixas. Parecia que a chuva estava caindo com mais intensidade sobre seus ombros, transformando o caminho à sua frente em um borrão de sombras e água. A arma fria de Daxton cutucava sua cintura, a cada passo que dava.

Usá-la seria completamente inútil contra os cães. Só os deixariam mais furiosos.

Olhou por sobre o ombro, notando que os cães estavam relativamente perto dela. Acelerou o passo, correndo o mais rápido que conseguia.

Precisava despistar os cães antes que perdesse o fôlego.

Seu braço ainda ardia, não havia parado para analisar o quão feio havia sido o corte. Mas pela água imunda que caia sobre a ferida, precisaria tomar algumas medidas de precaução contra infecção em breve.

Algo parecia se mover na penumbra ao lado esquerdo. Penelape observou as sombras, olhos vermelhos como fogo a encararam de volta. Mais cães se juntando aos outros. Eles entraram na rua principal, erguendo o focinho, farejando o ar. Seus olhos brilharam com mais intensidade quando entenderam que havia achado sua presa.

Bom, um dia de caça, outro de caçador.

Ela levou a mão para dentro do capuz, tocando o seu dispositivo, um mapa da cidade apareceu à sua frente. Quadradinhos minúsculos indicavam os arranha-céus. Mais ao longe as dunas dos desertos ondulavam, ela poderia mandar os cães direto para Jas, mas logo descartou a ideia. Por mais tentadora que fosse fazer com que ele lidasse com as merdas de outro inferno, o que a impedia era o simples fato de que seria impossível correr sobre areia.

Ela precisava de outra alternativa, talvez subir em algum arranha-céu e fazer com que os cães caíssem pela beirada, talvez a queda de mais de duzentos andares os mataria, o problema seria conseguir entrar em um. Precisaria levar aquelas bestas para a parte de cima, e isso poderia acarretar em algumas mortes. No pior dos casos, ela viraria notícia no jornal da manhã e talvez algumas pessoas acabariam culpando os especiais...

– Merda – arfou furiosa.

Mais uma vez Penelape viu seu plano ser lavado junto com a chuva. Daxton estava certo, aquela ideia foi suicidio.

Ela continuou analisando o mapa flutuando à sua frente, seus olhos desesperados percorriam as ruas em busca de alguma alternativa que salvasse seu rabo. Sua respiração ficando mais pesada a cada quilômetro que percorria. O ar parecia mais gelado a cada batida de suas botas no asfalto. A água escorrendo em suas bochechas como lâminas gélidas fazendo seu queixo tremer involuntariamente. As sombras pareciam dançar em sua visão periférica. Ela viu de relance algo correr na penumbra a acompanhando de longe. Só poderia ser mais cães. Pensou frustrada.

Fechou o mapa à sua frente e virou a cabeça em direção ao movimento, tentando focar os olhos em alguma movimentação nas sombras, mas não havia nada lá. Só poderia estar delirando por causa do esforço da corrida. Mas assim que voltou a prestar atenção ao caminho à frente, a silhueta de um cão com três cabeças estava parado no meio do asfalto, muito perto de Penelape.

Ela tentou desviar, mas suas botas escorregaram nas poças de água. Sentiu suas costas baterem no concreto, o corpo deslizando levantando sua roupa, esfolando a pele no asfalto, indo para perto do cão de três cabeças.

A silhueta envolta pelas sombras rosnou e atacou, a envolvendo em escuridão.

Penelape levantou os braços em uma tentativa desesperada de se proteger, rangendo os dentes com a dor queimando em sua pele. Mas o ataque nunca veio.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora