Capítulo 6

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 Haviam apenas três pessoas na plataforma do trem, dois vivos e um morto.

A luz fria saída de vários arcos dispostos, contrastava com a escuridão da noite. Em alguns pontos a iluminação piscava e em outros o led das lâmpadas haviam queimado a tempos.

Uma neblina começava a se formar pela cidade. Uma brisa fria congelava as faces dos dois indivíduos na plataforma. Já o terceiro, nada sentia.

O clima ao anoitecer em algumas partes da cidade em QuantumBurg, era sempre corrompido pela neblina. Geralmente em pontos mais afastados e elevados.

Haviam cidades onde o clima era tão quente e arenoso que só os mais loucos ousavam ir até lá. Dizem que a muitos milhares de anos atrás, costumava ter uma cidade onde as pessoas do mundo todo gastavam seu dinheiro em jogatinas, mas hoje, apenas o deserto se espalha por lá.

Alguns boatos percorrem a cidade sobre um cassino que sobreviveu ao tempo, porém todos que até lá foram, nunca voltaram para contar se realmente aquele lugar existe, ou é só algum tipo de lenda criada.

Encostada em uma das estruturas queimadas de luz, escondida pelas sombras, Penélope observava Vanguard à espera do próximo vagão.

Ele estava com a gola do sobretudo levantado se protegendo do sopro gelado. Uma das mãos ao bolso e a outra enluvada segurando algo na orelha.

A mulher morta estava perto de Vanguard, analisando suas feições.

Ainda bem que não podia vê-la, estava quase o beijando de tão perto, parecia uma mosca sendo atraída pela luz, pensou Penelape revirando os olhos.

Um barulho ao longe indicava a chegada do trem, Vanguard virou em direção ao som e Penelape analisou seu rosto de perfil. A luz fria iluminando alguns pontos, seu rosto tinha traços bem marcados, a boca rígida em desaprovação. Ele parecia falar firme com alguém do outro lado da linha, seu maxilar trincou com algo dito.

O trem flutuando pelos trilhos parou na plataforma e algumas pessoas desceram. Vanguard entrou e Penelape decidiu entrar dois vagões depois, sentando em um dos bancos, mantendo uma distância segura, mas que ainda pudesse ver seus movimentos.

Apenas mais três pessoas estavam no interior. Uma mulher vestida com roupas sociais, descansava a cabeça loura no vidro parecendo dormir.

Um garoto de cabelo roxo, em pé, recostado em uma das barras se balançando ao som de seus fones de ouvido, o skate flutuante debaixo do braço. E um homem de meia idade com implante cibernético, na perna direita à mostra, sentado perto de uma das portas.

Vanguard estava de pé perto de uma das saídas. Um aviso amarelo luminoso flutuava no meio delas, indicando para tomarem cuidado ao sinal de fechamento das portas. Ele não estava mais ao telefone, parecia olhar perdido a paisagem passando a sua frente.

– Ele estava falando com uma mulher.

Penelape desviou o olhar de Vanguard por um segundo para prestar atenção no fantasma ao seu lado.

– Conseguiu entender alguma coisa? – Disse, voltando a observá-lo.

– Só que ele parecia meio tenso e furioso. – ela deu de ombros desajeitada – Parece que a mulher do outro lado da linha dizia para ele ficar fora disso, que dá outra vez não acabou bem. Então, disse que não era a mesma coisa que antes, que dessa vez era diferente.

– Bem, ele falou mais cedo que já viu as marcas. Mas o que está diferente? – Penelape mordeu o lábio inferior pensativa.

Ela tentou de novo vasculhar a memória em busca de algum caso parecido que houvesse trabalhado, mas nada veio a sua mente.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora