Capítulo 45

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Penelape estava sentada na bancada fria do banheiro de Daxton.

Na pia ao seu lado, um kit de primeiros socorros estava aberto. Ele despejava o líquido forte sobre a gaze. Suas narinas queimaram com o odor do remédio, mais do que a ardência em suas feridas provocadas pelas garras de Mavie em suas têmporas. Seus olhos estavam distantes, observando a tempestade iluminando a noite pela janela enorme do banheiro. Suas lágrimas a muito haviam cessado, mas o amargor da lembrança de Mavie ainda preenchia sua cabeça.

Ela a odiava. Não, era muito mais que isso. Havia comparado Penelape com aquelas pessoas sujas que usavam Atlan. Mavie conseguiu consumir sua mente e ler cada parte das últimas horas, decidindo interpretar de uma forma desesperada. Mas nada daquilo importava, porque Penelape havia merecido toda aquela raiva. Merecia e se sentia horrível por ter decepcionado sua amiga.

– Mavie me odeia – sussurrou, um tremor ameaçando irromper em sua voz novamente – Ela nunca vai me perdoar.

Penelape baixou o olhar para suas coxas. Seu peito não parava de doer, e não importava se tomasse remédios, ou usasse injeções para curar suas feridas. Aquele tipo de dor nunca a abandonaria.

– Ei – Daxton tocou seu queixo, erguendo sua cabeça. Mas Penelape não queria encarar seus olhos, se sentia envergonhada por tudo o que havia feito com Mavie. A culpa revirava suas entranhas. Então encarou um ponto da parede atrás dele – Não foi culpa sua. Seja lá o que aconteceu depois que deixamos vocês a sós, Mavie vai te perdoar.

– Ela não vai Daxton.

– Mavie não conseguiria viver sem você Poppy. – Seu dedão acariciou a pele de seu rosto, em um gesto tranquilizador – Você é importante na vida dela.

Penelape respirou fundo, e fechou os olhos fortemente. Seria mais fácil dizer o que ela havia feito com Mavie se não conseguisse ver a decepção nos olhos de Daxton.

– Eu usei o irmão dela. Isso não me torna diferente das pessoas que o estão prendendo naquele lugar... No fim, eu também sou um monstro nojento.

– Abra os olhos Poppy, e olha para mim – ela não o fez – Por favor.

A voz dele parecia vulnerável.

Penelape sorveu o cheiro inebriante de Pinho e fumaça de Daxton. O quanto aquele cheiro havia se tornado algo que buscava nas últimas semanas, era inimaginável.

Abriu os olhos, e encarou a imensidão de fogo azul a observando de volta. Não havia nada condenando-a ali, apenas o calor reconfortante que Daxton sempre a permitia sentir.

– Você não é um monstro. Independente do que tenha feito, sei que teve seus motivos. Não a julgo por estar tentando sobreviver.

– Mas eu feri a única pessoa que jamais... – hesitou, o tremor em sua voz era inevitável. Não queria demonstrar tamanha fragilidade para Daxton. O que ele acharia dela depois daquela noite? – Eu feri a única pessoa que jamais me machucaria.

Ele tocou uma mecha prateada de seu cabelo, o colocando atrás da orelha, deixando a mão quente e áspera contra sua bochecha. Os olhos dele foram rapidamente para as feridas em sua têmpora.

– Mas Mavie a machucou. Ela deixou marcas bem feias, e eu não estou falando daquelas que se podem ver.

– Mavie jamais me machucaria. – Penelape baixou a voz – Aquela não era ela.

Sentiu seus olhos arderem, os piscou fortemente para conter as lágrimas.

– Aquela não era ela. Aquela não era ela.

Repetiu, como se o fato de sussurrar para si mesma talvez um dia acabasse acreditando em suas próprias palavras.

– Ei. Eu estou aqui.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora