Aquele era o último lugar em que Penelape queria estar. Mas alguns sacrifícios infelizmente eram precisos.
– Olá. Tem alguém aí? – Sua voz ecoou pelo cômodo do purgatório.
A janela enorme atrás da mesa, deixava entrar a luz fraca da manhã. A chuva não havia dado nenhum pouco de trégua no dia seguinte, nem nos próximos três dias que se sucederam. O tempo ficava fechado durante o dia, a tempestade sempre estava brilhando nos céus quando a noite caía. Parecia que os Deuses estavam em um luto sem fim, desaguando sobre QuantumBurg.
Penelape caminhou pelo cômodo, seu casaco pingando sobre o piso polido. Nami não estava atrás de sua mesa com a costumeira cara azeda. As bolotas voadoras de metal circulavam entre as estantes infinitas.
– Alguém por aqui?
Chamou novamente, espichando o pescoço em busca de algum sinal de vida, mas parecia que nem Nami, nem Nagi estavam por perto.
Penelape demorou três dias para ir até ali, precisou de um tempo para se recuperar de tudo o que havia acontecido. Em algum momento ela acabou voltando para seu apartamento e descobrindo que sua horta estava completamente murcha. O local parecia vazio sem Miau Félix pedindo comida, ou Mavie estirada no sofá.
Pensar em sua amiga ainda doía. Era como ter uma adaga fincada no peito impedindo que a ferida cicatrizasse.
Suspirando, Penelape se aproximou da mesa de Nami, estava atulhada de papéis e livros com capas grossas de couro. Ela pensou em se sentar e esperar, afinal estava com tempo. Mas seus olhos sempre eram atraídos para as enormes estantes. Em todos aqueles anos indo ali, precisando aturar Nami dando ordens infinitas, Penelape nunca havia passado de sua escrivaninha. Se fosse pega poderia dar a desculpa de que estava procurando por Nami.
Ela girou no lugar, analisando as outras portas de vários tamanhos fechadas, e os corredores que deveriam levar para sabe se lá onde. Estava sozinha.
– É só uma olhadinha. – Afirmou para si.
Penelape contornou a escrivaninha de Nami, e entrou nos corredores de sua biblioteca infinita.
As bolotas flutuantes zuniam muito acima de sua cabeça alheias a Penelape, algumas paravam projetando sua luz azulada escaneando algum livro.
Ela virava o rosto para os livros sem título nas lombadas.
– Como alguém consegue se achar nesse lugar?
Pegou um deles, folheando as páginas.
Textos com datas nos cabeçalhos indicava a vida extremamente chata de alguém na casa dos setenta anos de vida. As últimas páginas mostravam que ele teria apenas mais uns meses de vida.
Fechou o livro o colocando no lugar.
Caminhou mais a fundo nos corredores, virando várias vezes sem rumo. Se não fosse pelas luminárias flutuantes com chamas aprisionadas, seria impossível ver qualquer coisa entre as estantes.
Penelape abriu em frente a uma delas procurando por outras histórias. Algumas eram mais interessantes que outras. Pessoas que realmente estavam vivendo a vida perigosamente, e outras tão indecisas que a irritava.
Depois de um tempo, notou um padrão nos livros. Os grossos eram aqueles que carregavam a vida quase que imortal dos portadores de magia, muitos deles iriam morrer por causa de acidentes comuns.
Queda e atropelamento envolvendo latas voadoras. Afogamento. O suicidio era o que mais a deixava atormentada. Esses ela tentava evitar.
Não era raro ela receber pessoas jovens portadoras de magia cuja vida decidiu tirar drasticamente. Por muitos motivos, as pessoas não achavam que seus poderes eram uma grande benção em suas vidas. Seja pelo tipo específico de poder ou até mesmo por viver mais que aqueles ao seu entorno.
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Demônio de Néon
Ficção CientíficaVOL. I "Em algum lugar entre os arranha-céus uma criatura de olhos vermelhos uivou, e uma garota de cabelos azuis olhou em direção a janela assustada. Uma raposa de olhos brilhantes como o fogo era enjaulada ao lado de uma garota que foi enganada. O...