Os braços descansavam no corta corpo de vidro. O frio da noite gelando suas mãos. Ao longe a luz dos arranha-céus refletiam no mar dividindo a cidade. Aeronaves sobrevoavam entre as construções. Um relâmpago cortou os céus, trazendo nuvens carregadas consigo.
Uma tempestade estava se aproximando.
Ela sentiu uma pontada na cabeça antes do fantasma se materializar ao seu lado.
Em sua visão periférica, ela a reconheceu de imediato. A luz da noite transpassava pelo seu corpo, deixando sua silhueta com um aspecto assustador. Seus olhos, com rastros em azul néon, brilhando, encarando Penelape.
– Quanto tempo.
Penelape se virou para ela, um sorriso no canto de seus lábios. Um braço apoiado no corta corpo.
– Acho que você estava muito ocupada para conseguir me ouvir – a voz do fantasma pareceu amarga. Ela estava irritada com Penelape?
– Você está irritada comigo? – Ela levantou uma sobrancelha.
– Parece que você simplesmente esqueceu. – O Fantasma da mulher jogou as mãos para cima. Frustração contorcendo seu rosto.
– Eu não me esqueci de você. Eu só estava... ocupada. – Seu sorriso morreu nos lábios.
A mulher bufou em resposta.
– Penelape. Pelo que me lembro bem, você me disse que faríamos do seu jeito para descobrir o que aconteceu comigo.
– Eu sei – ela desviou o olhar, voltando a encarar o mar a sua frente. Se sentia envergonhada por não ter conseguido achar nenhuma resposta sobre o que de fato havia acontecido com ela. – É que aconteceu tanta coisa... e eu...
Sua voz morreu nos lábios. Penelape não sabia como se justificar. Não entendia nem o que estava acontecendo. Se sentia como se tivesse falhado.
O silêncio pesado pairou sobre elas. O fantasma caminhou até o corta corpo, admirando a tempestade que estava se formando ao longe, chegando até elas. Seu rosto parecia carregado de cansaço.
– Pelo menos eu tenho uma informação para você, sobre o submundo – isso gerou um incômodo no interior de Penelape, a fazendo suspirar – Sussurros aqui e ali entre as almas, dizendo sobre a escuridão voltando, e que irá trazer consigo uma bela moça de cabelos como estrelas. Então fiquei me perguntando, se talvez eu tenha uma ideia de quem é ela.
Penelape sentiu um tremor subir pela sua espinha. Fazia semanas que a Escuridão não aparecia em seus sonhos. Ele não a estava buscando. Ou, como disse uma vez, ela não estava o procurando.
Ela engoliu em seco, tentando não transparecer o nervosismo que ameaçava transbordar por sua voz.
– E quem você acha que poderia ser essa pessoa? – Perguntou inocentemente, como se não fizesse ideia de que se tratava dela. Talvez não quisesse acreditar que de fato fosse. Torcia para que não.
Uma risada forçada chiou pelo fantasma.
– Não se faça de idiota, Penelape. Você é a única que conheço capaz de nos ver, e ainda por cima, seus cabelos brilham como estrelas.
Penelape passou a mão pelos cabelos prateados. Eles estavam quase chegando a altura de seus ombros.
– Mas isso não necessariamente significa que seja... – hesitou – eu.
O fantasma da mulher se virou para ela.
– Torça para que não seja de fato você. – Cruzou os braços sobre o peito dilacerado – Não sei o que aprontou nesse meio tempo, mas muitas almas novas, nas mesmas condições que as minhas, apareceram no inferno. E nenhuma consegue se lembrar o que aconteceu. Eu as interroguei, fiz seu trabalho.
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Demônio de Néon
Science FictionVOL. I "Em algum lugar entre os arranha-céus uma criatura de olhos vermelhos uivou, e uma garota de cabelos azuis olhou em direção a janela assustada. Uma raposa de olhos brilhantes como o fogo era enjaulada ao lado de uma garota que foi enganada. O...