Capítulo 35

95 15 21
                                    

 – Poppy.

A voz dele estava tão distante, como se ela tivesse caído em alto mar e a água impedia de ouvir qualquer pessoa chamando-a.

Ela sentiu suas pernas fraquejarem, e uma nova onda de ânsia percorrer sua espinha, mas todo o conteúdo de seu estômago estava despejado a seus pés.

Suas costas estavam apoiadas na parede do túnel, as pedras cutucando suas feridas por cima da roupa, as mãos fechadas nas coxas. Tentava respirar fundo para conter os tremores que se espalhava pelo seu corpo.

– Poppy? – Daxton se aproximou dela. A palma cheia de cicatrizes de sua mão tocando sua bochecha. Suas sobrancelhas se juntaram em preocupação – Você está gelada.

– Eu... – Abriu a boca para falar que estava bem, mas sua voz vacilou. Fechou os olhos e respirou fundo novamente para se acalmar – Eu estou bem.

Seu corpo estava entrando em colapso. Agora que a adrenalina correndo em suas veias havia cessado, a dor a invadia sem piedade. Suas tripas quererem sair pela boca era só uma consequência do estresse e trauma que ele havia passado.

Se afastou de Daxton, ignorando seu olhar de protesto, e voltou a espiar pela janela da porta de aço.

A luz iluminava as paredes lisas de concreto do corredor, ao fim dele, portas duplas pesadas se abriram. Penelape recuou rapidamente, as costas batendo na parede ao lado da porta.

– Tem alguém vindo.

Sussurrou para Daxton.

Ele se pôs ao outro lado da porta, e espiou pelo vidro encardido. Encostou as costas na parede, segurou a pistola na frente do peito. Seus olhos azuis encontraram os de Penelape, um dedo indo até os lábios sinalizando para que ficasse quieta, ele daria um jeito.

Ela se afastou o máximo que conseguiu da porta, seu corpo entrando nas sombras, suas costas raspando na parede a fazendo trincar os dentes de dor.

A porta se abriu, duas pessoas saíram, suas vozes reverberando pelos túneis. Não deu tempo para Penelape assimilar o que estavam falando. Daxton se aproximou de suas costas e bateu a base da pistola na lateral de suas cabeças. Os corpos caíram inertes no concreto.

Daxton levou uma mão até a porta e a segurou antes que se fechasse.

– Penelape – ela desviou o olhar dos dois caídos ao chão. Daxton observava atento o caminho por onde eles saíram – Segure a porta para que não se feche.

Ela mancou até ele, e a segurou.

Daxton se afastou em direção aos dois desmaiados. Ele os virou apalpando seus uniformes pretos em busca de algo. Nenhum deles se mexeu.

Penelape alternou o olhar entre o corredor e o fantasma da mulher ao seu lado. Parecia tensa com alguma coisa. Ela baixou a voz para que apenas as duas pudessem ouvir.

– Você está bem?

Ela apenas balançou a cabeça, seus olhos manchados de azul fixos no corredor a frente, apreensivos.

– Se souber de algo, ou se estiver lembrando, pode me falar – Penelape tentou de novo.

Ela comprimiu os lábios levemente, uma demonstração imperceptível de que havia alguma coisa acontecendo.

– Não deveríamos entrar lá. – Seus olhos se voltaram para ela, carregados de desespero. Isso fez algo dentro de si se agitar.

– O que você sabe?

Daxton chegou mais perto delas, a fazendo recuar. Ele empurrou algo para Penelape, fazendo-a desviar o olhar de seu fantasma.

– Coloque isso, vai ajudar no disfarce.

Demônio de NéonOnde histórias criam vida. Descubra agora