Estou levando uma pilha de livros para a biblioteca nesse instante. Deveria levá-los para a sala de aula, mas não estou afim de ter aula de sociologia no momento, então a melhor opção é matar essa aula.
Empurro a porta de vidro e passo o cartão de estudante na catraca. Dou um aceno de cabeça na direção do bibliotecário e me sento em uma das mesas vazias. Abro um livro que tinha começado a ler da última vez que viajamos em turnê, é um romance clássico, mas me ajuda a refrescar a cabeça de vez em quando.
—Com licença. — Um garoto diz me fazendo levantar o olhar do livro para ele. — Você é a Matilda?
Engulo em seco quando vejo como esse garoto é bonito. Tem um cabelo meio despenteado que briga entre ser loiro ou castanho, olhos bem escuros como jabuticabas, bochechas rosadas como se estivesse com frio e um corpo magro porém definido ao mesmo tempo.
—Acho que você não é a Matilda, não é? Me desculpe... — Quando ele começa a se afastar consigo arrancar as palavras da garganta.
—Sou eu... — Limpo a garganta. — Eu sou a Matilda.
Ele suspira aliviado e estende a mão.
—Sou Austin. Pensei que estivesse incomodando a pessoa errada. — Aperta minha mão e solta um riso tímido ao se sentar à minha frente.
—Por que estava me procurando? — Pergunto baixinho olhando para os lados. — E como me achou?
—Emma me contou quem você é. — Ele comprime os lábios e tenta esconder um sorriso. — Eu meio que queria te conhecer. Então perguntei sobre você para algumas pessoas e te encontrei aqui.
Disfarço a explosão de emoções que essa frase causou em mim.
Esse garoto extremamente lindo veio me procurar? Através da garota mais linda da escola? Quem em sã consciência prefere a mim do que Emma Becker?
—Por que? — Pergunto encarando o livro aberto na minha frente.
—Quer saber por que eu queria te conhecer? — Sua voz está brincalhona.
—É, mais ou menos isso. — Respondo ainda sem o olhar.
—Primeiro... — Sua mão atravessa a mesa e segura meu queixo, fazendo minha cabeça se levantar em sua direção. — Porque te achei muito gata.
Respire Matilda.
—É sério? — Minha voz falha.
Respire Matilda, porra.
—Seríssimo. — Ele solta meu queixo e com o dedo indicador desenha a linha do meu maxilar bem lentamente. — E segundo, porque você parece ser incrível... quero dizer, olha esse cabelo, isso é muito irado.
Sorrio sem mostrar os dentes.
—Bom saber que acha isso. — Digo e analiso seu sorriso.
Não é um sorriso simétrico, seu lábio superior não tem uma curvatura perfeita, e seus dentes inferiores são tortinhos. Mas parece que tudo isso se encaixa perfeitamente nele.
—Sabe, vai ter uma festa na casa da Emma na semana que vem. — Ele diz e ergue os ombros sugestivamente. — Pode aparecer se quiser.
Meu coração está batendo mais rápido agora.
Eu deveria me preocupar por ele ser tão amigo de Emma, mas ele parece ser tão gentil e diferente... não acho que seja alguém que nos faça quebrar a cabeça.
—Acho que sim. — Falo ainda mais baixo do que já estávamos falando.
—O que disse? — Ele se inclina um pouco.
—Eu vou, mas... só se eu puder levar umas pessoas comigo. — Digo pensando em meus amigos. É claro que só estou cogitando ir se puder levá-los comigo.
—Claro, quem você quiser.
—Então tudo bem. — Sorrio enquanto o observo se levantar.
—Ótimo. Até mais, Matilda.
Droga, ele é tão bonito.
Apoio o queixo na palma da mão e o observo se afastar. Mas enquanto Austin se afasta... Tom se aproxima. Ele olha para mim, franze as sobrancelhas e olha para trás, Austin acabou de passar pela catraca e agora se virou para acenar. E Tom viu cada movimento.
Puta merda.
Tom se vira de novo para mim e sorri meio desconfortável.
—O que foi isso? — Ele pergunta se sentando ao meu lado.
—Isso o que? — Disfarço voltando a atenção para o livro.
Tom segura a capa do livro e o fecha.
—Essa ceninha. — Ele balança o dedo indicador entre mim e a porta de vidro que Austin acabou de fechar.
Reviro os olhos.
—Não foi uma ceninha. Estávamos apenas conversando. — Respiro fundo e tento não sorrir com a lembrança do que aconteceu há segundos atrás.
—Com Austin Dunkler? — Tom arqueia uma sobrancelha.
—E o que que tem? — Tamborilo os dedos na mesa. — Não posso falar com ele?
—Não é isso. — Ele dá de ombros. — É que ele é muito... você sabe...
Passo a língua sobre os dentes e me viro para Tom.
—Muito o que? Muito burro por falar comigo? — Digo irritada. — Demais para mim? É isso, Tom?
Tom olha ao redor e encolhe os ombros ao notar os olhares dos outros pousando sobre nós dois.
—Não é isso, Matilda. — Ele se inclina para poder falar mais baixo. — Ele só não é o tipo de cara que gosta de romance. Só estou avisando para que não se iluda.
—É claro que o único cara que vem falar comigo é um mulherengo ao seus olhos, não é? — Mordo o lábio inferior tentando conter minha irritação. — Você não conhece ele.
—E você conhece? — Acusa, também está parecendo irritado agora. — Ele não é o tipo de cara para você. Esse garoto não gosta de você, ele só quer uma coisa, e é a única coisa que você não pode dar.
—Vai se foder, Tom. — Pego o livro de cima da mesa e me levanto. — Ele não é assim.
—Tem certeza? — Ele cruza os dedos das mãos e me encara desafiador.
—Tenho. E o babaca aqui é você. — Encaixo o livro debaixo do braço e suspiro. — Ele quer me conhecer. Por que não pode ficar feliz por mim?
Ele fica em silêncio, mas seu olhar me diz que ainda não concorda comigo.
E infelizmente não posso fazer nada quanto a isso.
—Até depois. — Digo rude e saio da biblioteca apressada.
Não posso acreditar no quanto Tom é egoísta.
Todos sabem que ele é o mulherengo da história, ouso dizer que Tom Kaulitz é o cara mais rodeado de mulheres que já vi. Então ele não pode simplesmente julgar alguém desse jeito.
Não posso me estressar com mais uma coisa. Já chega. Minha cota de estresse chegou ao limite.
Agora tudo com que preciso me preocupar é com a festa de Emma.
E só agora percebi que nem consegui tocar nesse assunto com Tom. Mas mesmo que tivesse o feito, não sei se estaria afim de convidá-lo para essa festa.
Mas tanto faz, eu vou e pronto.
E não vai ser Tom Kaulitz que vai me impedir.

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training wheels - Tom Kaulitz
Romantika"𝑵𝒂̃𝒐 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒔𝒆𝒓 𝒂 𝒄𝒓𝒊𝒂𝒏𝒄̧𝒂 𝒒𝒖𝒆 𝒂𝒊𝒏𝒅𝒂 𝒖𝒔𝒂 𝒃𝒊𝒄𝒊𝒄𝒍𝒆𝒕𝒂 𝒄𝒐𝒎 𝒓𝒐𝒅𝒊𝒏𝒉𝒂𝒔." Matilda Müller se tornou uma garota muito famosa, a tecladista da banda mais renomada de seu país. Ela é só uma menina, mas...