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TOM's POV

Minha visão está embaçada. Meus olhos lacrimejam tentando me alertar de que estou sentindo dor, de que preciso me preocupar com o corte profundo em minha bochecha. Mas tudo o que penso em fazer é gritar por ela, estou correndo pelos corredores do hospital, tentando acompanhar os médicos que estão empurrando a maca com a garota desacordada em cima dela. O que consigo enxergar através do ombro de um dos enfermeiros é o cabelo escuro e uma das mechas verdes... que está adquirindo um tom diferente por conta de todo o sangue que está escorrendo da cabeça dela. Matilda está ensanguentada, e desacordada.

E eu não sei o que fazer.

—MATILDA! — Grito com a voz carregada de horror. — TRAGAM ELA PARA MIM! MATILDA!

Uma enfermeira se vira e arqueia uma sobrancelha para mim. Ela percebe quando meus joelhos vacilam e preciso me apoiar em um suporte para soro que não aguenta meu peso e se desequilibra junto a mim. O barulho de meus berros e o metal caindo no piso vinílico chama a atenção de alguns pacientes que só agora percebi estarem sentados em cadeiras isoladas.

Não me importo se estou parecendo maluco. Preciso dela aqui comigo, e preciso dela bem.

A enfermeira corre até mim e se agacha até estar de frente para mim.

—Garoto, qual seu nome?

Solto um suspiro que desencadeia uma onda de lágrimas inesperadas.

—Tom... — Digo quase sem voz.

Ela assente.

—Tom, sua amiga precisa ir para uma cirugia de emergência, a cabeça dela está aberta... — Ela abre bem os olhos, querendo que eu preste atenção em suas palavras. — Você precisa se acalmar e esperar na sala de espera.

Nego com a cabeça várias vezes.

—Ela é minha namorada... eu preciso dela... eu... porra, ela precisa de mim. — Meus lábios estão tremendo.

Minha cabeça está girando e a dor insuportável em minha bochecha não parece nada comparada a aflição alucinante que estou sentindo ao saber que Matilda deve estar sentindo ainda mais dor. Minha menina está sofrendo. Isso é tortura.

Fecho os olhos com força e me desequilibro mesmo estando de joelhos. Caio para trás até estar sentado de qualquer jeito sobre o piso gelado.

—Tom, ela precisa da cirurgia. Vai ficar tudo bem. — A enfermeira sorri fraco e segura um dos meus ombros. — Meu nome é Sarah, assim que ela chegar da sala de operações eu te aviso. Mas eu preciso que você vá esperar em outro lugar.

Ela deve ter percebido o tamanho do corte em minha bochecha, mas ela parece tão tranquila e segura que não me deixa aflito.

—Vou chamar alguém para cuidar do seu rosto.

Não tenho forças nem mesmo para assentir. Apenas permaneço sentado, com as mãos enterradas no colo, com as pernas cruzadas de qualquer jeito e os ombros curvados para baixo. Merda, ela me disse que estava sentindo algo estranho, mas como poderíamos saber que seria a porra de um acidente de carro? Levanto o rosto e mostro o dedo do meio para o teto, querendo que o universo entenda o recado. Eu odeio essas coisas justamente por isso. Nunca é um meio termo. Ou é algo ótimo ou algo péssimo. E eu odeio tudo isso.

Olho para frente, para o corredor que acabaram de passar com a maca de Matilda, e a porta que acabou de ser fechada.

Me sinto perdido.

Quero ela de volta.

•••

—TOM! — Ouço meu irmão gêmeo gritar a alguns metros de distância.

Olho para o lado e aceno de leve para ele. Sua expressão é pura preocupação.

—Caralho, o que aconteceu? — Ele pergunta ofegante e se senta ao meu lado.

Depois de muita relutância, conseguiram me arrastar até a sala de espera, agora estou sentado em uma das poltronas pretas que fazem com que minhas costas doam ainda mais do que já estão doendo.

—Um desgraçado. — Digo entredentes. Apoio o cotovelo no braço da cadeira e uso uns dois dedos para massagear minha têmpora. — Bêbado, perdeu o controle do carro, e começou a fazer zigue-zagues no meio da estrada, pisou no pedal errado e atravessou a calçada... e estávamos lá.

Meu irmão arregala os olhos.

—Ele entrou na calçada?

Assinto.

—Não era um carro pequeno, Bill. — Balanço a cabeça de um lado para o outro sentindo vontade de gritar. — Era enorme, e a Matilda estava lá... ela não viu, e-eu... não vi, nós... ah, merda.

"A cabeça dela está aberta."

Sempre que lembro da frase vinda da enfermeira meu coração acelera ainda mais.

Enterro meu rosto em minhas mãos e começo a chorar. Chorar mesmo, sem me preocupar com as pessoas me olhando confusos. Eu choro, com força, até sentir que não vou voltar a respirar.

—Ela vai ficar bem... — Ouço Bill dizer e sinto suas mãos massagearem minhas costas.

Deixo que essa frase me acalme um pouco. Ela vai ficar bem. Meu Deus, eu nem tive tempo de dizer que a amo. Passamos todo esse tempo juntos e não tive coragem de dizer essas três palavras. Disse que estava apaixonado, mas ela precisa saber que não é só isso, eu a amo. E preciso dela comigo, para sempre.

—O que é isso na sua bochecha? — Bill pergunta me fazendo levantar o rosto.

Ele contorce o rosto ao perceber a gaze. Passo os dedos delicadamente sobre o curativo. Até me esqueci que acabaram de suturar minha pele.

—Cacos de vidro. — Explico mesmo sem estar explicando nada.

Olho para meus braços e percebo arranhões nele. Estava tão nervoso que nem vi que também havia me machucado.

Mas não o suficiente.

Eu devia estar naquela sala de cirurgia. Não ela.

—Ai, merda. — Fecho os olhos e recosto a cabeça na cadeira.

—Quer fumar um pouco? — Meu gêmeo pergunta e por mais atrativa que essa proposta seja, eu recuso.

É tentador, tenho certeza que a nicotina me faria distrair um pouco do quanto estou sofrendo. Mas não posso, eu prometi a ela que não faria mais isso.

—Não, cara. Estou bem.

Ele assente e relaxa o corpo na cadeira também.

—Ei. — Ele me chama a atenção. Viro o pescoço devagar. — Vai ficar tudo bem. Ela vai sair dessa.

Sorrio de leve.

Tenho que confiar nessas palavras.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora