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Está fresco, está frio, meio calor também. Inclino a cabeça para trás e observo as nuvens cinzas e carregadas no céu escuro. Ainda não consegui entender o clima de Londres. Sinto minha boca seca, então mergulho uma das mãos no casaco e pego meu hidratante labial de framboesa. Tiro a tampinha, rodo a base e passo o brilho nos lábios, eles estavam começando a arder de tão ressecados, então passar esse hidratante é um alívio enorme para minha pele.

Ajeito o gorro em minha cabeça e volto a andar. Estou a poucos metros do hotel em que estamos ficando durante a estadia em Londres. Nosso primeiro show vai ser hoje à noite, estou tão ansiosa. Já fizemos tanto isso, mas todas as vezes parece ser a primeira vez, a emoção é sempre a mesma, acho que é por isso que amo tanto o que faço. Por isso que amo tanto o que todos nós formamos. Amo a palpitação no peito ao entrar no palco e me acomodar atrás do teclado. Olhar para a plateia e apenas conseguir distinguir um ruído alto e indefinido, de tanto que os gritos nos ensurdecem. E ao apertar a última tecla da última música, todos aplaudirem com tanta empolgação que te faz esquecer o medo que estava sentindo antes de começar a tocar.

É por isso que nunca desistiria do que fazemos.

—Oi. — Digo para o ascensorista. Um senhorzinho muito simpático de quase setenta anos.

—Para o mesmo andar? — Ele abre um sorriso singelo e se levanta com cuidado, caminhando até estar de frente para os botões do elevador.

Assinto e aguardo pacientemente enquanto as portas se abrem a minha frente.

—Obrigada... — Murmuro e entro no elevador.

Me viro para o espelho gigante do ascensor e vejo como a brisa deixou meu nariz vermelho.

Passo delicadamente a ponta do dedo indicador por sobre as marcas avermelhadas e sinto a pele gélida. Isso está me fazendo lembrar de como fazia tempo que não ficava tão frio na Alemanha.

Tiro o gorro e ajeito os fios de cabelo que ficaram rebeldes por baixo da lã.

Subo o olhar pelo reflexo do espelho e observo enquanto os números vermelhos da pequena tela vão mudando, indicando por quais andares estou passando.

Começo a estranhar no momento em que vejo que já se passaram alguns minutos e nada de chegar ao andar em que estou hospedada.

Arqueio as sobrancelhas e estreito os olhos.

Os números estão falhando?

Caminho um passo para frente e aperto o botão do meu andar mais uma vez. O clima está indicando chuva, talvez a energia esteja fraca.

Quando estou prestes a me virar para o espelho novamente, sinto um peso gigantesco que faz meus pés desgrudarem do chão por uns segundos. Um baque ecoa pelo lugar pequeno e um som agudo de algo como ferro rangendo faz com que eu tampe meus ouvidos com força e feche os olhos.

Fico agachada por um tempo, em uma posição fetal. Abro os olhos lentamente quando percebo que não estou subindo e nem descendo.

Minha respiração se acelera quando percebo o que houve.

O elevador está suspenso.

Me levanto apressada e aperto o botão que tem um "T" desenhado. Espero uns segundos e nada acontece. Aperto mais alguns outros andares e nada.

Meu Deus. Estou em um dos meus piores pesadelos.

Engulo seco e solto um ruído estrangulado do fundo da garganta. Estou me desesperando. Puxo o telefone do bolso do casaco e com as mãos trêmulas tento ligá-lo. Meus olhos se adaptam a luz azul e não vejo o símbolo dos quatro riscos no canto superior direito. Está sem sinal.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora