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TOM's POV

Caminho pelos corredores do hospital segurando a guitarra com uma das mãos. Os pais de Jordan apareceram logo depois que sua irmã surgiu no quarto do garoto. Na realidade, a família inteira apareceu, os avós, primos, tios e até um papagaio de estimação. Bob, é o nome do animal que não ficou quieto um minuto sequer. Tentei sair de lá quando eles começaram a se espremer dentro do quarto, mas Jordan insistiu que eu ficasse. Disse que queria estar com um amigo também, não apenas com parentes. Não pude negar isso a ele.

E pela primeira vez depois de um tempo ouvindo sobre a doutora Cales, eu tive oportunidade de conhecê-la, nas piores circunstâncias eu diria. Ela foi alertar a família sobre o estado do garoto. Código vermelho. Ou seja, fim da linha.

Dei um último abraço no rapazinho, e fui embora.

É péssimo quando temos que nos despedir de alguém, em qualquer sentido, despedidas são um porre. Acontece que isso parece ainda pior quando sabemos que essa pessoa vai embora, para sempre, em breve. Alguém tão especial e jovem. Isso é doloroso.

Mordo o interior da bochecha ao pensar que talvez... Matilda vá embora. Meu Deus, não tenho capacidade nem de imaginar uma coisa dessas. Ela se tornou meu tudo, de uma hora para outra, virou a minha pessoa preferida. Não posso cogitar perdê-la, seria meu fim. Eu me afundaria em algo tão triste e obscuro que perderia o sentido de viver.

Isso não pode acontecer.

Respiro fundo e espanto esse pensamento.

Chegando a sala de espera, vejo algumas pessoas andando de lá para cá, com expressões aterrorizadas e amedrontadas. Uma sensação de empatia me sobe a coluna. Torço para que essas pessoas recebam notícias sobre seus entes queridos logo.
Essa é uma das coisas que mais quero esquecer quando sairmos daqui. Nunca mais quero me lembrar da agonia que senti enquanto esperava por notícias sobre a minha garota. Foi assustador.

—TOM! — Ouço alguém gritar meu nome com histeria.

Viro o rosto confuso e tenho a imagem de Paolla vindo em minha direção.

—Ai, graças a Deus... — Ela suspira e agarra meu pescoço em um abraço. Quase deixo a guitarra cair no chão com o impacto. Franzo o rosto e olho por cima do ombro da garota, Georg está vindo logo atrás. — Me desculpe a demora em vir, como você está?

Me afasto uns centímetros e deixo o instrumento no chão.

—Estou bem.

Ela leva uma mão até a boca e franze as sobrancelhas, como se estivesse prestes a chorar.

—Acabei de visitar o quarto de Matilda, Tom ela está... — O ar lhe escapa os pulmões exageradamente. — Ela vai ficar bem, não vai?

Olho para Georg que me lança um meio sorriso desconcertado.

—Eu ainda não sei... estou tentando me convencer de que vai, mas... não faço ideia. — Digo enfim.

Ela olha para cima e abana as mãos na frente dos olhos.

—Droga, ela foi minha primeira amiga de verdade depois de muito tempo. — Paolla olha para mim e posso ver seu rosto começar a ruborizar. — Não acredito que isso... merda.

Georg a puxa para um abraço quando a garota desaba em um choro silencioso que faz com que seus ombros chacoalhem fortemente. Encaro os dois e inconscientemente uma onda de inveja me consome, algo que me deixa tão envergonhado que preciso virar o rosto para o outro lado. Amo Georg e amo saber que ele está feliz, então porque me irritei com essa cena?

Porque eu gostaria de estar feliz assim com Matilda também.

Céus, que egoísmo da minha parte.

—QUEM AQUI TEM PARENTESCO COM MATILDA MÜLLER? — Uma enfermeira grita parada no meio da sala de espera.

Meu coração dispara ao ouvir esse nome.

Levanto a mão com rapidez e praticamente corro até a mulher.

—Sou namorado dela.

A enfermeira me analisa com preocupação e isso me deixa agitado.

—Aconteceu alguma coisa?

—Bom...

Engulo em seco. Odeio frases que começam assim. Olho para trás e vejo Georg e Paolla me observando com atenção, Bill e Gustav também estão ao lado deles agora.

—Ela deveria ter acordado com no máximo 24 horas depois da cirurgia. — Ela respira fundo. — Ela não acordou.

Meu corpo congela e todo meu sangue vira fumaça. Não sinto nada dentro de mim. Meu coração bate com força, mas não o sinto no peito, meu tórax parece vazio, tanto que suspeito que se eu enfiasse uma faca nele agora mesmo, não sentiria porra nenhuma.

—Ela não... acordou?

Ela nega com a cabeça.

—Nenhum sinal de atividade cerebral foi encontrado depois que ela... teve uma parada cardíaca.

Sinto meu estômago revirar, fecho os olhos com raiva e sinto falta de ar. Caminho até uma parede e escorrego nela até encontrar o chão. Afundo a cabeça nas palmas das mãos e... choro.

Choro de ódio, de raiva, de desespero e tristeza.

Tenho feito isso com muita frequência nos últimos dias.

—Porra, porra, porra... — Bato meu punho com força contra minha testa repetidas vezes.

Sinto quando a enfermeira se agacha na minha frente e segura meus braços com delicadeza.

—Para com isso.

Eu encaro sua expressão de gentileza com raiva. Por que ela está me mandando parar? Por que ela está aqui comigo quando deveria estar com ela?

—Eu preciso que você me escute.

Eu engulo o impulso de correr e foco nos olhos escuros dela, tentando me recompor. Eu faço que sim, querendo que ela continue logo.

—A cirurgia foi ótima, ela está viva, mas...

—Nós não sabemos por quanto tempo. — Uma voz diz. Eu viro minha cabeça e vejo o Dr. Miles, o médico de Matilda, seu rosto sério, uma touca cirúrgica em uma das mãos. Nossos olhares se encontram e ele aponta o corredor com a cabeça. — Venha comigo.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora