2.

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—Eu não quero sentar do lado do Gustav em mais nenhum voo. — Reclama Georg assim que entramos em minha casa, após deixar Gustav em sua própria casa.

—Foi você quem insistiu, cara. — Retruca Tom descarregando as malas no chão da sala.

—Porque eu não pensei que ele fosse passar mal o caminho todo. — Diz com cara de nojo.

Dou risada de sua situação e acendo as luzes da casa.

—MAMÃE! PAPAI! CHEGAMOS. — Grito em aviso imaginando que meus pais estariam no quarto.

Ai mamãezinha... — Tom sacaneia imitando minha voz. Dou um soco em seu braço que o faz arfar de dor. - QUE ISSO MATILDA? AI.

O ignoro e saio correndo para os braços de minha mãe que tinha acabado de entrar na sala com os olhos inchados de sono. Chegamos no meio da madrugada, como de costume.

—Senti sua falta. — Afirmo a abraçando fortemente.

—Eu senti muito sua falta, meu bebê... — Ela me aperta contra o peitoral quase me tirando o fôlego. — Você emagreceu, tem comido direito? — Ela se afasta uns centímetros para analisar meu corpo.

—Sim, mãe... — Respondo constrangida ao ouvir o som das risadas baixas vindas dos meninos.

Minha mãe as vezes consegue ser um pouquinho exagerada na forma como me trata. Acho que ela esquece que não sou mais uma criança, e todo esse carinho e superproteção se torna um ótimo gatilho para que meus amigos tirem com a minha cara.

—Oi, dona Müller. — Bill diz cumprimentando a mulher que finalmente me larga do aperto.

—Oi, meninos. — Acena minha mãe para os garotos que tinham acabado de se jogar no sofá.

Quando me desvencilho dos braços de minha mãe tenho a visão de Tom se jogando no carpete, sua camiseta se levanta um pouco por conta da pressão que ele fez ao deitar e... ai meu Deus, ele tem o V. Aquelas lindas reentrâncias que os homens têm ao longo dos músculos abdominais exteriores, que desaparecem para dentro da calça como se apontassem para um alvo secreto.

Meu Deus, Matilda, você está encarando a porra da virilha dele.

—Tudo bem aí, filha? — Pergunta minha mãe percebendo meu transe.

—Sim. — Respondo rapidamente sentindo minhas bochechas arderem.

—Posso falar com você um instante? — Ela pergunta me chamando para a cozinha.

A acompanho deixando os meninos sozinhos.

—Seu aniversário está chegando... — Ela começa em um tom cauteloso que me faz revirar os olhos.

Odeio essa conversa, temos ela todos os anos. Meus pais nunca deixaram de fazer de meus aniversários memoráveis, e eu adoro isso, mas não tenho mais paciência para toda aquela burocracia.

1º: Convide todos os parentes que você odeia ou que não te conhecem.

2º: A festa dura apenas até meia noite, assim que a carruagem virar abóbora... pé na bunda dos convidados.

3º: Você não tem amigos o suficiente para uma festança, então convide seus vizinhos.

Essas foram as frases que eu ouvi durante meus quinze anos de vida. Não quero mais ter que ouvi-las.

—Não. — Digo mordendo o canto da bochecha. 

—Mas querida...

—Não. Nada disso, não quero festa. — Digo a caminho da geladeira assim que sinto minha barriga tremer.

—Não estou entendendo, você sempre gostou dessas festas. — Ela põe as mãos na cintura e tomba a cabeça de lado.

—Você supõe que eu sempre gostei disso. — Paro de falar e sinto uma ponta de arrependimento no peito. — Chega, boa noite mãe. — Saio da cozinha com uma maçã em mãos.

Me sinto mal pela forma como falei com ela, mas isso é um fato. Não quero mais uma festa organizada sem meu consentimento e muito menos sem minha vontade.

Mordo minha maçã sentando ao lado de Bill no sofá.

—Não querem dormir um pouco? — Pergunto somente para os gêmeos, já que Georg resolveu capotar no chão ao lado de Tom.

—Já vamos, quero me acostumar com a terra firme primeiro, odeio aviões. — Tom diz de olhos fechados.

—Eu vou, não tenho medo de voar uns metros de distância da "terra firme". — Diz Bill indo até a escada provocando o irmão que em resposta lhe mostra o dedo do meio.

Dou risada e encosto minha cabeça no sofá, o sono vem aos poucos, meus olhos se fecham e eu nem percebo quando acabo dormindo.

•••

—PARA CARA, QUE MERDA. — Acordo em um pulo quando ouço um grito vindo do andar de baixo. Andar de baixo? Eu dormi lá embaixo. Que porra é essa?

Levanto da cama um tanto confusa e desço as escadas dando de cara com todos os meninos sentados no sofá jogando um jogo que eu nunca vi na vida.

—Bom dia, gente. — Digo sonolenta.

Todos me olham em conjunto menos Tom que continua vidrado no jogo a sua frente.

—Dormiu bem? — Gustav questiona.

—Acho que... sim. — Digo sentando ao seu lado ainda me sentindo meio confusa.

—O que foi? — O garoto pergunta depois de perceber minha expressão facial.

—Eu não dormi no meu quarto, acordei lá encima mas não dormi lá. — Digo e nesse momento posso ver Tom se virar e me olhar.

—Fui eu. — Diz logo virando para o jogo novamente. — Eu te levei, vi você dormindo aqui e pensei que podia ser desconfortável. Você foi idiota de capotar aqui nesse sofá duro.

Arregalo os olhos surpresa, talvez tenha exagerado um pouco na reação mas estou realmente em choque.

—Obrigada. — Digo baixo.

Ele apenas dá de ombros.

—Vai para a escola amanhã? — Pergunta Gustav me fazendo voltar a realidade.

—Acho que sim, tenho que aproveitar enquanto estamos aqui, são poucos trabalhos.

—Poucos? Me poupe. — Tom indaga em um tom sarcástico.

—O que foi? Você nem faz a sua parte. — Respondo.

—Porque é perda de tempo. — Diz com uma sobrancelha levantada.

Todos nós ainda estudamos o que conseguimos, conciliar estudos e viagens não é tão fácil assim, mas sempre tento manter tudo em ordem. Um dos meus planos é conseguir terminar o ensino médio, mesmo estando em uma banda renomada que praticamente grita "esquece isso, garota!". Isso está em meus planos e nada me convence do contrário.

—Eu tenho um trabalho importante para sexta, acho que é em dupla, não lembro. — Digo.

—Quem é sua dupla? — Georg pergunta.

—Emma Becker, se não me engano. — Todos me olham surpresos, reviro os olhos já imaginando o que dirão.

Emma Becker é a garota mais bonita de nossa escola, loira, um corpo escultural para quem tem apenas 16 anos e olhos verdes lindos. Realmente invejável.

—Cacete, ela é muito gata. — Tom diz animado.

—Todo mundo já sabe, seu imbecil. — Digo baixo para mim mesma um tanto irritada com seu comentário.

—O que? — Questiona.

—Nada, tenho que ir. — Digo subindo as escadas apressada.

Me olho no espelho e me vejo ainda com a roupa da viagem de ontem, despenteada e com olheiras, que cena horrível. Fica realmente impossível não me comparar com uma garota que é praticamente perfeita.

Me jogo na cama bufando.

Essa semana vai ser longa.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora