23.

513 39 35
                                    

Limpo a garganta e me aconchego na cama de Tom. O cobertor é grosso e branco, parece ser lavado toda semana para manter o tom claro da peça. O quarto é enorme e decorado mais ou menos como o meu, mas daqui onde estou sentada posso ver como o banheiro parece diferente.

—Ei... — Tom aparece no meu campo de visão e se agacha na minha frente.

Ele apoia as mãos nos meus joelhos e faz um pequeno carinho, de uma forma bruta o suficiente que pudesse chamar minha atenção até seu rosto.

—Vai me dizer o que aconteceu? — Ele se senta totalmente no chão mas ainda acariciando minha perna.

Solto um ruído de angústia e tampo o rosto com as duas mãos.

—Eu pensei que fosse morrer. — Sussurro.

Sinto quando Tom agarra meus pulsos e afasta delicadamente minhas mãos da frente dos meus olhos, fazendo com que eu olhe diretamente para ele.

—Como assim? — Seus olhos estão arregalados.

Solto um riso fraco e me solto de seu aperto, transportando minha mão diretamente para sua bochecha.

—Fiquei presa no elevador.

—Matilda... — Ele se empertiga e começa a se levantar. — Falou com alguém? Ele podia ter despencado com você lá dentro. Eles tem que ter mais cuidado...

Arrasto a mão de seu rosto para seu ombro, o mantendo no lugar.

—Relaxa, tenho certeza de que eles já devem ter sacado que tem algum problema. — Tento tranquiliza-lo mesmo não me sentindo nenhum pouco tranquila.

Ele suspira e se levanta para se sentar ao meu lado. Seu braço passa ao redor dos meus ombros e me puxa até que minha cabeça esteja encostada em seu peitoral.

—Cara, imagina se você morresse assim, de repente... — Ele cogita e mesmo que não consiga ver seu rosto, posso sentir que está fazendo uma careta. — E em um elevador.

Solto uma risada sarcástica e aperto minhas mãos em meu colo.

—Chega desse assunto, desse jeito não vou conseguir me acalmar.

—Me desculpe. — Seu peito treme, demostrando que está rindo.

É gostoso estar aqui. Gosto de estar com ele. Tive medo de admitir isso para mim mesma, mas essas semanas que temos passado juntos têm me deixado bem mais feliz do que imaginava. Eu e Tom somos amigos há tanto tempo, e só agora percebo que nunca tínhamos tido um tempo de qualidade como esse. E me arrependo de não termos feito isso bem antes, me refiro a esse tratamento gentil e amigável que nunca foi nosso forte.

Umedeço os lábios e levanto a cabeça para o olhar. Ele faz o mesmo. Mas ficamos em silêncio, não um silêncio constrangedor, tem algo a mais aqui, algo que não precisa ser preenchido com vozes.

Meu olhar baixa até sua boca, percebo que seus lábios também estão ressecados pelo frio. Trilho um caminho em seu lábio inferior com o dedo indicador. Minha unha se esfrega de leve por sua pele sensível e seca, remexo um pouco em seu piercing e sorrio de canto.

—Não te incomoda? — Pergunto voltando a olhar em seus olhos.

—O piercing?

Assinto.

—Ele atrapalha em alguma coisa? — Questiono.

—Bem... nunca me atrapalhou. — Ele dá de ombros.

Mordo o lábio inferior tentando conter um sorriso.

—Nem quando está beijando? — Arqueio uma sobrancelha.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora