8.

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5, 4, 3, 2...

—Para. — Bill pede assim que o refrão se inicia.

Pela sétima vez.

—Qual é, Bill? Você ainda nem tentou. — Gustav diz sentado atrás da bateria.

—Não estou sentindo que vou conseguir. — Ele reclama e larga o microfone mais uma vez para tomar um gole d'água de uma garrafa repousada ao lado de seus pés no chão.

—Mas precisa tentar para ter certeza de que sua teoria está certa. — Agora é Georg quem aconselha.

O ensaio começou há duas horas. E eu permaneço calada, assim como Tom.

Não nos olhamos, não nos falamos, mal conseguimos suportar a presença um do outro nesse instante. Não é como todas as outras vezes que nos ignoramos, que havia apenas um silêncio breve entre nós, após alguma provocação ou apenas porque não estávamos afim de conversar no momento. Isso é diferente, não conseguimos nos falar.

Todas as vezes que sinto seu olhar pesar sobre mim, me sinto envergonhada. Algumas vezes meus olhos esbarram com os seus e se fixam por uns segundos, mas então um de nós perde a coragem e desvia o olhar.

Assim como agora, enquanto ele não me olha, me permito observá-lo.

Ele está sem boné hoje, e fica ainda mais lindo desse jeito. Sua camiseta é uma daquelas que engolem quase todo seu corpo, e por um vislumbre me pergunto como eu ficaria em uma dessas, acho que serviria como um vestido...

Ele olhou.

E eu desviei o olhar.

Está sendo quase como um ciclo isso que estamos fazendo. E ambos mal percebemos quando ocorre.

—Vamos fazer uma pausa. — Bill sugere.

—Bill, a puberdade vai mudar ainda mais sua voz, você precisa tentar. — Georg repousa calmamente o baixo no suporte e se senta no chão.

—Quem mandou compor uma música onde você precisa gritar tanto. — Gustav dá de ombros em provocação. — "Schrei" é um sucesso mas você não tem mais tanta capacidade de cantá-la.

Antes mesmo de conseguirmos assimilar sua frase, Bill caminha até Gustav, arranca uma das baquetas de suas mãos e o bate com a peça em suas costas.

—Ai, porra. — O loiro diz enquanto tenta correr dos golpes de Bill.

Solto uma gargalhada quando acidentalmente Gustav esbarra na canela de Georg que estava acomodado no chão.

—Ô seu desgraçado. — Agora sãos os três idiotas correndo pelo estúdio.

—Bobos. — Murmuro distraída enquanto desligo o teclado e guardo algumas anotações em uma pasta.

—Matilda. — Levo um susto quando finalmente ouço sua voz.

Me viro e vejo Tom tirando a alça de suspensão da guitarra do pescoço.

—O que?

—Posso falar com você um instante? — Ele não me olha ao perguntar.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora