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TOM's POV

Eu o sigo, mas tudo está embaçado. As luzes brilhantes, o azulejo branco e as paredes claras são uma imagem só.

Eu ouço os passos de Georg, Paolla, Gustav e meu irmão nos seguindo de perto.

Ele para em frente a uma porta e olha para mim antes de abri-la devagar.

Eu entro, com medo de olhar. Com medo de ver Matilda ferida. Morrendo.

A mãe dela está sentada ao lado da cama, seus olhos fixos no monitor cardíaco, como se ela o estivesse movimentando só com sua vontade, enquanto o Sr. Müller permanece calado no canto do quarto. O beep, beep, beep constante é o único som no quarto.

Eu engulo em seco, me forçando a desviar os olhos da Sra. Müller para a cama e minhas pernas quase desmontam. Ela parece tão pequena. Vencida. Eu travo o maxilar quando meus olhos notam todos os hematomas no corpo dela.

—Me desculpa... — É o que consigo dizer, e a mãe dela olha para mim. — Eu devia ter a protegido da batida...

—Não. Nada disso. — Ela diz, apertando meus dedos de leve. — Não faça isso com você.

Ela desvia o olhar para o monitor e foca na batida constante do peito de Matilda.

—Ela não tem mais chances de acordar? — Eu pergunto, dando um passo na direção da cama, com medo de ouvir a resposta.

—Isso é com ela. — O Dr. Miles diz atrás de mim. — Ela já devia ter acordado.

Suspiro.

Por que ela não acorda?

Eu olho para a ele, deixando transparecer a confusão que sinto por dentro.

—Ela teve uma parada, mas voltou em questão de segundos, e os exames não mostram nenhum trauma significativo. — O Dr. Miles diz, apoiando os óculos na testa. — Ela deveria estar acordando, mas parece que ela não quer.

A mãe de Matilda começa a chorar.

—As vezes a escolha de viver ou morrer é nossa. — O doutor diz, desviando os olhos de mim e observando Matilda. — Matilda não está lutando.

A escolha entre viver ou morrer. Eu vejo as olheiras escuras em volta dos olhos dela, suas palavras ecoando alto na minha cabeça.

Vocês sempre fizeram eu me sentir um erro.

Nunca me senti livre em dizer nada a vocês.

Preciso que vocês percebam que me fizeram mal.

Tudo está relacionado ao que ela sentia com a família... Matilda não se sente verdadeiramente amada por eles.

Eu dou um passo na direção dela, sabendo que de jeito nenhum eu vou deixar Matilda ir embora assim. Não é assim que a nossa história termina. Não pode ser.

Eu pego a mão dela. Seus dedos estão gelados, moles, como se ela já não estivesse aqui.

—Eu não vou deixar você ir embora. — Eu sussurro. — Eu disse que te amo, preciso ouvir isso vindo de você também, pirralha. — Eu tento brincar, mas minha risada sai mais como um engasgo. Eu aperto mais a mão dela, tentando esquentar os dedos gelados.

Como eu posso fazer isso? Como eu posso trazê-la de volta?

Ah, sim. Preciso fazê-la se lembrar do porquê ela não pode deixar esse mundo.

Uma onda de eletricidade corre pelo meu corpo. Talvez, só talvez, eu possa fazer isso. Talvez eu possa fazê-la me ouvir. Acreditar em mim.

—Era uma vez... uma menina linda e corajosa, com uma personalidade fortíssima. — Eu digo, imaginando aquela garota maravilhosa que eu conheci e adorava implicar. Sem saber onde as brincadeiras de criança terminaram e as nossas memórias começaram. Mas não importa. Para mim, nosso conto de fadas tem acontecido há muito tempo.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora