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Todas as dores que já senti em minha vida não se comparam a essa angústia queimando dentro do peito. A vergonha se misturando com a frustração. Os pensamentos negativos se formando e se chocando contra as boas memórias. O cheiro doce e masculino que ainda irradia em minhas narinas. Mas o que piora tudo é o sentimento de que o que aconteceu é parcialmente culpa minha.
Saber que nada teria acontecido se não tivesse dito aquelas malditas palavras, ou melhor, nada teria acontecido se meus sentimentos não estivessem tão confusos. Nada teria mudado se meu coração não tivesse falado tão alto.

Eu nunca gostei de ninguém, nunca mesmo. No máximo uma paixonite idiota em algum garotinho do jardim de infância, ou até mesmo uma celebridade, como Johnny Depp. Parte de mim sempre será apaixonada por esse cara. Mas quando se trata da vida real... nunca experienciei nada do tipo. Sempre me achei uma pessoa muito forte nesse sentido, todas as garotas da minha idade já devem ter tido no mínimo três namorados, e eu nunca quis nenhum. E isso mudou, de repente. Mas o que me deixa confusa, é que eu não sei quando foi que isso tomou outras rédeas.

Oh, Deus. Minha cabeça precisa de um tempo para assimilar tudo, ou vou acabar sucumbindo ainda mais.

Checo pela milésima vez o horário em meu telefone. Faltam dez minutos para o show. Estou sentada em meu camarim, que é obviamente separado do dos meninos. Temos bastante intimidade, mas não o suficiente para que todos me vejam trocar de roupa.

Quero dizer...

Reviro os olhos e nem ao menos deixo minha mente cogitar formular o que estava prestes a pensar.

Me inclino um pouco sobre a penteadeira enorme que carrega lâmpadas amarelas por toda a extensão de suas laterais e abro bem os olhos para examinar o rímel em meus cílios. Um pouco do produto está fazendo com que todos os pelos fiquem grudados, então com os dedos em formato de pinça, começo a ajeitar com cuidado, sem que borrem e acabem com todo o trabalho duro da maquiadora. Pego um pincel e aplico o blush em minhas bochechas. Não gosto de deixá-las muito rosadas, minha pele é pálida demais e, se exagerar no blush vão achar que acabei de levar um tapa no rosto.
Aplico um pouco de gloss por cima do batom vermelho e dou leves batidinhas em torno dos lábios.

Me inclino para trás e... caramba. Ótimo trabalho Daisy.

Me viro na cadeira giratória e me levanto para analisar a roupa.

Estou vestindo uma camisa de botões preta, sem mangas, ela tem um estilo despojado, deixando meus ombros à mostra. Uma mini saia jeans colada e uma meia-calça rastão, que combina muito bem com as botinas avantajadas que estou usando. Além do mais, meu cabelo está solto e apenas duas mechas estão presas e se encontram na parte de atrás da cabeça. Puta merda, estou realmente bonita.

Duas batidas abafadas na porta me tiram a atenção do espelho.

—Está pronta? — Um homem que suspeito ser da produção enfia a cabeça para dentro do camarim segurando uma prancheta.

Dou uma olhada em minhas mãos. Alonguei os dedos com cuidado e não estou com nenhum tipo de dor. Estou pronta.

Assinto prontamente.

—Ótimo. — Ele aperta o ouvido e sussurra algo como se estivesse em uma missão da CIA. — Dois minutos.

Ele avisa e sai.

Respiro fundo e balanço a cabeça me certificando de que tudo vai correr bem.

Saio para fora do camarim e passo os olhos no corredor. Tem pessoas correndo para todos os lados, todos vestidos com camisetas pretas e com fios pendurados nos bolsos de suas calças.

training wheels - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora